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    Eleição de Donald Trump nos EUA trará impactos para o G20, dizem especialistas

    Com o novo governo do republicano, tema climático perde apelo e guerra da Ucrânia deve ter menos ou nenhum apoio americano

    Tiago Tortellada CNN , em São Paulo

    A eleição de Donald Trump como presidente dos Estados Unidos gerou questionamentos na comunidade internacional sobre como o país vai se portar em relação a algumas crises globais e com adversários geopolíticos.

    As guerras na Ucrânia e em Israel, assim como a meta climática, são alguns dos temas que despertam preocupação de alguns com o novo governo nos EUA. Fontes ouvidas pela CNN pontuaram que a equipe de transição do republicano prepara a retirada do país do Acordo climático de Paris, por exemplo.

    Além disso, Trump prometeu durante a campanha impor taxas à China, uma das maiores economias do mundo.

    Leandro Consentino, especialista em Relações Internacionais e professor de Ciências Políticas do Insper, destaca que o governo Trump deve gerar impactos para diversos países e blocos, incluindo o G20, grupo que reúne as maiores economias do mundo.

    “Pelo fato de os Estados Unidos serem o país mais rico, mais importante, mais poderoso do ponto de vista militar do globo, certamente isso entra na conta de todos os atores ali envolvidos, e vai dominar boa parte dos debates no G20, porque, afinal, a gente está projetando o que vem pelo futuro”, ponderou.

    Além disso, segundo a avaliação de Consentino, diversos temas e abordagens da atual administração federal dos EUA podem ser revistos no futuro governo republicano, incluindo a questão climática.

    “Haverá uma janela em que a diplomacia neste meio não é ‘trumpista’, mas se sabe que o que for negociado agora terá, de alguma forma, o escrutínio dessa nova administração no futuro”, ressalta.

    Lucas de Souza Martins, professor de História dos Estados Unidos pela Temple University, concorda que a eleição de Trump trará impactos para o G20, pontuando que os Estados Unidos não estarão engajados no bloco da mesma forma como estariam se os democratas permanecessem na Casa Branca.

    “O G20 é um espaço multilateral em que países decidem se reunir para encontrar soluções para temas globais. E qual é a aposta do ‘trumpismo’ para as nações do mundo? Para temas globais? Não é o multilateralismo. É colocar os interesses da América [Estados Unidos] primeiro, como está estabelecido na sua campanha”, pondera.

    “Ou seja, nós não vamos ter, pelo menos da futura administração americana, um esforço para encontrar no multilateralismo um fórum importante e relevante para discussões de assuntos globais”, adicionou.

    O especialista também argumenta que o novo governo americano não terá muito interesse por assuntos debatidos em um fórum como G20, citando como exemplo a desinformação, temas vinculados à questão ambiental e o combate à pobreza.

    Além disso, Consentino pontua que temas como o combate à desigualdade e a questão migratória estão no radar de Donald Trump “de uma forma mais conservadora” e, de certa forma, “conflituosa com países em desenvolvimento”.

    G20 será realizado no Rio de Janeiro entre 18 e 19 de novembro
    G20 será realizado no Rio de Janeiro entre 18 e 19 de novembro • Marcos de Paula/Prefeitura do Rio

    Impacto será sentido na Cúpula do G20 no Brasil?

    Nos dias 18 e 19 de novembro, será realizada a Cúpula do G20, no Rio de Janeiro, encontro que reúne chefes de Estado e governo dos países do bloco.

    Joe Biden, atual presidente dos Estados Unidos, estará no Brasil e terá reunião com Luiz Inácio Lula da Silva (PT).

    Leandro Consentino avalia que os impactos da eleição de Trump já serão sentidos na cúpula do Rio, levando em conta exatamente a questão de que os pontos e acordos podem ser revisados pela próxima administração.

    “Negociar termos muito distantes daquilo que o governo vai aprovar no próximo ano não faz muito sentido, pois pode correr o risco de virar letra-morta”, comenta.

    O professor ressalta que é necessário equilíbrio entre o quanto será possível ser “ousado” nos diversos pontos de discussão e o quanto é preciso um certo “comedimento”,

    Lucas de Souza Martins, por sua vez, analisa que “é de se esperar que a programação será mantida normalmente, as discussões resistirão”, pois o estabelecimento da pauta do G20 para este ano foi feito antes da eleição americana e, portanto, antes da eleição de Donald Trump.

    Ainda assim, também alerta para a questão de que o que for debatido e assinado nesta cúpula pode não ser cumprido pelo próximo governo dos EUA.

    “Do ponto de vista de pauta, de agenda, de discussões não há impacto. Agora, há impacto na medida em que qualquer acordo que for assinado ou defendido pelos Estados Unidos na gestão Biden para o G20 não será cumprido. Será descumprido, não será seguido”, adverte.

    “O Estado americano, nesse caso, está baseado na questão partidária. Se os democratas apoiam algo, os republicanos não apoiarão. Não há um senso de continuidade na questão da relação com o G20, porque a questão, hoje, nos Estados Unidos, é partidária. Não há uma continuidade que venha do Estado americano”, conclui o professor.

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