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    Análise: O que aconteceu na última vez que um presidente dos EUA não concorreu à reeleição

    Em 1968, Lyndon B. Johnson chocou o país quando fez o anúncio surpresa de que não disputaria a Casa Branca

    Zachary B. Wolfda CNN

    O presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, que é perseguido por perguntas sobre sua aptidão para o cargo, reconheceu reservadamente que os próximos dias são um teste crítico para sua campanha de reeleição, de acordo com uma fonte ouvida pela CNN.

    Ele insiste que permanecerá na disputa, mas não seria o primeiro presidente americano a se afastar em vez de buscar a reeleição.

    Em 1968, Lyndon B. Johnson chocou o país quando fez o anúncio surpresa de que não concorreria. A fala aconteceu no final de um discurso no Salão Oval da Casa Branca sobre seu plano de limitar as operações militares dos EUA no Vietnã.

    “Com os filhos da América nos campos distantes, com o futuro da América sob desafio aqui em casa, com nossas esperanças e as esperanças do mundo pela paz em jogo todos os dias, não acredito que eu deva dedicar uma hora ou um dia do meu tempo a quaisquer causas partidárias pessoais ou a quaisquer deveres que não sejam os deveres incríveis deste cargo — a Presidência do seu país”, disse Johnson à época.

    “Consequentemente, não buscarei e não aceitarei a nomeação do meu partido para outro mandato como seu presidente”, destacou.

    É um discurso notável de ver hoje. Veja abaixo, em inglês.

    Com quase 60 anos quando fez aquele discurso, Johnson parecia muito mais velho.

    Ele morreria de um ataque cardíaco repentino em 1973, aos 64 anos, antes da elegibilidade para programas de aposentadoria como o Medicare, que ele sancionou, e a Previdência Social, que ele expandiu.

    Quando desistiu da disputa, Johnson, ao contrário de Biden, estava enfrentando vários desafios para a nomeação democrata na primavera de 1968. Os conflitos raciais nos EUA, somados a um país fraturado pela guerra no Vietnã, prejudicaram a popularidade do então presidente.

    No início de 1968, a ofensiva do Tet, no Vietnã, mostrou que as forças comunistas eram muito mais fortes do que os militares dos EUA alegavam, e as baixas americanas na guerra aumentaram.

    No início daquele mês de março, Johnson venceu por pouco as primárias do estado de New Hampshire contra o candidato anti-guerra, o senador Eugene McCarthy.

    O senador Robert F. Kennedy, irmão do homem cujo assassinato elevou Johnson à Casa Branca, entrou na corrida presidencial em 16 de março.

    Saúde era uma preocupação para Johnson

    Os acontecimentos no Vietnã dividiram o partido em 1968, mas a crescente divisão entre os democratas sobre a guerra não foi a única razão pela qual Johnson desistiu da corrida, de acordo com Mark Updegrove, historiador presidencial e CEO da Fundação LBJ.

    Conversei com Updegrove em 2022 sobre por que os presidentes poderiam não concorrer à reeleição. Ele me disse naquele ano que Biden, assim como Lyndon B. Johnson, deveria considerar sua saúde antes de buscar outro mandato de quatro anos na Casa Branca.

    “Há o equívoco de que Lyndon B. Johnson optou por não concorrer novamente devido apenas à crescente controvérsia e divisões sobre a guerra no Vietnã. Isso pode ter sido parte disso, mas sua principal preocupação era sua saúde”, disse Updegrove.

    “Ele teve um ataque cardíaco quase fatal em 1955, e sua família tinha um histórico de doença cardíaca fatal. Ele não queria colocar o país no tipo de crise que passamos com a morte repentina de FDR em 1945 e o derrame de Woodrow Wilson em 1919, que o deixou incapacitado”, acrescentou Updegrove.

    Ano de incrível incerteza

    O ano de 1968 é infame na história dos EUA, e o anúncio de Johnson em 31 de março deu início a um período de violência e incerteza.

    Menos de uma semana depois de Johnson anunciar sua decisão de não concorrer à reeleição, Martin Luther King Jr. foi baleado, em 4 de abril.

    O caso desencadeou uma onda de violência e tumultos que devastaram muitas cidades americanas, incluindo Washington, DC, Baltimore e Chicago.

    Johnson enviou 58 mil soldados da Guarda Nacional e tropas do Exército para cidades dos EUA.

    Em junho daquele ano, Kennedy foi assassinado na Califórnia, criando ainda mais turbulência. Seu filho agora está concorrendo à Presidência como candidato independente.

    Se Biden decidir se afastar da disputa neste ano, os democratas devem estudar o que aconteceu em 1968, quando eles finalmente deixaram McCarthy de lado, que canalizou o sentimento anti-guerra.

    Em vez disso, eles elevaram o vice-presidente de Johnson, Hubert Humphrey, como seu indicado na Convenção Nacional Democrata — que, assim como a deste ano, foi realizada em Chicago naquele ano também.

    Enquanto Humphrey aceitava a indicação no salão de convenções, tumultos aconteciam nas ruas do lado de fora.

    Em novembro daquele ano, Humphrey ficou próximo a Richard Nixon, um republicano e o vencedor do pleito, mas o candidato independente George Wallace, um ex-democrata, venceu vários estados do sul do país com um apelo populista e segregacionista.

    Wallace também provavelmente desviou votos de Humphrey em estados-chave.

    Johnson continua sendo um dos presidentes mais transformadores do país

    Johnson capitalizou um período de unidade após a morte de John F. Kennedy para aprovar uma legislação histórica de direitos civis.

    Ele venceu sua “própria eleição” em 1964 e usou esse ímpeto para promulgar uma série de leis destinadas a construir os EUA em uma “grande sociedade”, incluindo o Medicare e o Voting Rights Act, e declarou guerra à pobreza.

    Essas conquistas dos direitos civis não foram universalmente celebradas nos EUA, e apressaram um realinhamento dos partidos políticos americanos nos quais seus democratas passaram de partido dominante para partido minoritário no sul dos Estados Unidos.

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