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    Análise: Atentado a Trump reabre um capítulo assustador na política americana

    Tentativa de assassinato de Trump em comício reacende traumas históricos, provoca reação bipartidária e lança incertezas sobre a segurança em futuros eventos presidenciais

    Stephen Collinsonda CNN

    A tentativa de assassinato de Donald Trump, que abre um novo e sombrio capítulo na amaldiçoada história da violência política dos Estados Unidos, abalou uma nação já profundamente dividida durante um dos períodos mais tensos de sua história moderna.

    O alvo sendo um ex-presidente em um comício de campanha, poucos dias antes de ele aceitar a nomeação republicana, é, por definição, um ataque à democracia e ao direito de cada americano de escolher seus líderes.

    O presumível candidato do Partido Republicano estava no palco, com apoiadores como de costume atrás dele, nas arquibancadas segurando cartazes e vestindo seus trajes com o slogan MAGA (Make America Great Again), quando os tiros ecoaram.

    Ele se encolheu, então segurou o lado do rosto e desapareceu atrás de seu púlpito enquanto as pessoas começavam a gritar e a natureza surreal do que estava acontecendo começava a se manifestar.

    O ex-presidente disse mais tarde que sentiu uma bala rasgar a pele de sua orelha, que sangrou enquanto ele era levado às pressas para fora do local. Os tiros disparados por um atirador no telhado fora do perímetro de seu comício em Butler, na Pensilvânia, por pouco não causaram um dano muito maior.

    Uma foto de Evan Vucci, da Associated Press, tirada de um Donald Trump desafiador mas vivo – com sangue na orelha e na bochecha, sendo levado para fora do palco por agentes do Serviço Secreto, com o punho levantado e uma bandeira americana ao fundo – tornou-se instantaneamente icônica.

    A imagem definirá uma era política tensa, independentemente das consequências políticas até agora desconhecidas de uma tarde ensolarada que se transformou em um pesadelo.

    Vídeo – Veja o momento em que Trump é retirado de comício

    Associações horríveis

    O som dos tiros e a visão de um líder político caindo no chão – com agentes do Serviço Secreto correndo para se jogarem sobre ele para protegê-lo – despertaram graves traumas históricos.

    Embora Trump não esteja atualmente servindo como presidente, seu ferimento destaca a ameaça sempre presente que paira sobre o cargo e sobre aqueles que concorrem a ele – especialmente para aqueles que o reivindicam.

    O presidente Joe Biden é o 46º presidente – e quatro de seus antecessores foram mortos enquanto estavam no cargo, mais recentemente John F. Kennedy, em 1963.

    O fato de Trump ter sido atacado encerra um período de 40 anos em que muitos pensaram que a expertise do Serviço Secreto havia reduzido significativamente o potencial para tais ataques – e lançará uma sombra que durará anos.

    Trump sendo alvo durante uma campanha presidencial trouxe comparações com o assassinato do candidato democrata Robert F. Kennedy em 1968, um ano sangrento que também viu a morte do líder dos direitos civis Martin Luther King Jr. e a violência na Convenção Nacional Democrata em Chicago – cidade que sediará o mesmo evento este ano.

    Mas a violência política não parou desde então. Em 2011, a então representante Gabrielle Giffords, uma democrata do Arizona, sofreu danos cerebrais depois de ser baleada na cabeça em um evento em que seis pessoas foram mortas.

    Em 2017, um atirador abriu fogo em um treino de beisebol do Congresso Republicano, baleando o então líder da maioria na Câmara, Steve Scalise, e outros três. A nação ainda está processando o ataque ao Capitólio dos EUA por apoiadores de Trump em 6 de janeiro de 2021.

    Um apoiador de Trump no comício, Joseph Meyn, viu o ex-presidente cair e notou, pelo canto do olho, o homem que foi morto sendo atingido. Com uma eloquência notável, dado o choque do que viu, ele disse à CNN que o ataque foi um sintoma de um país consumido pela fúria política.

    “Todo mundo parece estar com muita raiva. Parece que há muitas pessoas zangadas por aí. Não estou chocado que isso tenha acontecido. Estou chocado que estava sentado lá e aconteceu ao meu lado”, disse ele.

    “É simplesmente horrível. Não deveríamos estar em um nível de discurso político neste país onde isso vai acontecer.”

    “JFK (John F. Kennedy), RFK (Robert F. Kennedy), MLK (Martin Luther King)… houve uma tentativa contra a vida de [Ronald] Reagan e agora uma tentativa de assassinato de Trump. É ridículo. A política não deveria ser um jogo de soma zero onde alguém ganha tudo e perde tudo.”

    Outra reviravolta surpreendente nas eleições

    Os chocantes acontecimentos de sábado (13) adicionaram outro elemento político volátil a um ano eleitoral selvagem e imprevisível que recentemente viu Biden – o presidente mais velho da história – lutando para salvar sua nomeação após um desempenho desastroso em um debate e a condenação de Trump, de 78 anos, por um júri de Nova York e suas promessas de lutar por um segundo mandato de “retribuição” se for reeleito.

    A única reação inicial apropriada ao horror foi o alívio de que um candidato à Presidência ainda está vivo e o luto pelo apoiador de Trump que foi morto enquanto exercia suas liberdades democráticas no comício.

    A maioria dos líderes e atores políticos de ambos os lados rapidamente enviaram orações a Trump e pediram calma.

    Biden, que passou dias tentando fortalecer sua campanha, assumiu seu papel como chefe do Executivo da nação depois de saber do tiroteio enquanto estava na missa em Rehoboth Beach, Delaware. Ele divulgou uma declaração por escrito e depois falou à nação em vídeo.

    “Não há lugar na América para esse tipo de violência – é doentio, é doentio, é uma das razões pelas quais precisamos unir este país. Não podemos permitir que isso aconteça. Não podemos ser assim. Não podemos perdoar isso”, disse Biden.

    Ele também disse que tentou ligar para “Donald” e afirmou que o ex-presidente estava em um comício que “deveria ter sido conduzido pacificamente sem qualquer problema”. O presidente, que mais tarde conseguiu falar com seu antecessor, encerrou seu fim de semana mais cedo em sua casa de praia e voltou para Washington.

    Dado o estado ferozmente polarizado da política nos Estados Unidos, o choque inicial da tentativa de assassinato inevitavelmente causará sérias ramificações políticas.

    Trump já era visto como um herói invencível por seus apoiadores e tratado com quase reverência sobrenatural em seus comícios. Sua imagem como um lutador que está constantemente sob ataque de seus inimigos agora será ainda mais profundamente enraizada.

    Em um momento de autocontrole depois de ser atingido, o ex-presidente fez questão de criar um momento icônico de desafio – levantando o punho e gritando “lute, lute” para sua multidão – olhando diretamente para a bancada onde estavam as câmeras de televisão.

    As imagens ficarão na história e enriquecerão a mitologia de Trump tão certamente quanto a foto de sua ficha policial na prisão de Atlanta e as filmagens de seu retorno à Casa Branca em 2020 após vencer uma infecção grave de Covid-19.

    Também podem haver implicações imprevisíveis para uma campanha eleitoral na qual Trump estava liderando Biden – mesmo antes da campanha do presidente entrar em queda livre com seu desempenho desastroso no debate. E a atmosfera ao redor da Convenção Nacional Republicana em Milwaukee, nesta semana, será ainda mais intensa.

    Já no sábado, houve pedidos de investigações sobre como um atirador – fora do perímetro de segurança do comício – conseguiu ter Trump em sua mira em uma falha massiva de segurança que repercutirá por meses e terá implicações para todos os futuros eventos presidenciais e de campanha.

    Muitos políticos de ambos os lados já estão lamentando o calor da retórica política, após mais uma indicação assustadora do que ela pode produzir em uma nação onde as armas são tão facilmente acessíveis.

    Resta saber se o choque dos eventos de sábado, que poderiam ter sido muito piores, fará algo para domesticar uma cultura política tóxica na qual Trump é um participante entusiástico.

    Em uma das reações mais comoventes, Giffords disse em nota: “A violência política é aterrorizante. Eu sei”. Ela acrescentou: “Estou segurando o ex-presidente Trump, e todos os afetados pelo ato de violência indefensável de hoje em meu coração. A violência política é antiamericana e nunca é aceitável – nunca.”

    Infelizmente, a história sugere que a violência, embora indefensável, também é uma cicatriz quintessencial na política americana.

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