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    “É tudo mentira”: paraquedista do exército russo condena guerra na Ucrânia

    Segundo Pavel Filatyev, de 33 anos, seus companheiros estão cansados, famintos e desiludidos com a invasão da Rússia ao país vizinho que dura quase seis meses

    Matthew ChanceRob Pichetada CNN

    A justificativa do Kremlin para invadir a Ucrânia “é uma mentira”, disse à CNN um paraquedista russo que já condenou publicamente a guerra de seu país na Ucrânia.

    Duas semanas atrás, Pavel Filatyev se manifestou contra o conflito em um testemunho de 141 páginas postado em sua página na rede social VKontakte, conhecida como VK, depois fugiu da Rússia. Ele é o primeiro membro do exército russo a criticar publicamente a invasão da Ucrânia e deixar o país.

    Segundo o relato dele à CNN, seus companheiros estão cansados, famintos e desiludidos – e o esforço de guerra do Kremlin está “destruindo vidas pacíficas”.

    “Entendemos que fomos arrastados para um conflito sério, onde estamos simplesmente destruindo cidades e não libertando ninguém”, disse Filatyev. A CNN não está divulgando o local da entrevista para a segurança do entrevistado.

    “Muitos entenderam que não vemos a razão que nosso governo está tentando nos explicar. Que é tudo uma mentira”, disse ele. “Estamos apenas destruindo vidas pacíficas. Esse fato influenciou imensamente nosso estado de espírito. Aquela sensação de que não estamos fazendo nada de bom”.

    Filatyev, de 33 anos, disse à CNN que a “corrupção” e a repressão são abundantes em seu país de origem e disse que sua unidade, que tem como base a Crimeia e foi estabelecida na Ucrânia após a entrada das tropas russas na cidade de Kherson no início do conflito, estava mal equipada e recebeu pouca explicação sobre a invasão.

    De acordo com Filatyev, os soldados e seus comandantes não sabiam o que deveriam fazer na Ucrânia. Ele acrescentou que eles logo que chegaram em Kerson ficaram desiludidos com as razões do governo para a invasão depois de enfrentar a resistência de moradores locais que não queriam ser “libertados”.

    O paraquedista serviu no 56º regimento de assalto aéreo da Rússia e também esteve envolvido nos esforços para capturar a cidade de Mykolaiv. Ele foi retirado da linha de frente por causa de uma lesão durante as operações de invasão ao território ucraniano.

    Filatyev disse à CNN que o exército russo não tinha equipamentos básicos, como drones e outros tipos de aeronaves não tripuladas durante seu período na linha de frente.

    Pavel Filatyev foi retirado da linha de frente após uma lesão / Pavel Filatyev / Arquivo Pessoal

    “Nosso quartel tem cerca de 100 anos e não é capaz de abrigar todos os nossos militares […] todas as nossas armas são da época do Afeganistão”, disse ele.

    “Vários dias depois de cercarmos Kherson, muitos de nós não tínhamos comida, água ou sacos de dormir”, disse. “Como fazia muito frio à noite, não conseguíamos nem dormir. Achávamos uns sacos de lixo, uns trapos, só para nos embrulhar para nos aquecer”.

    O cerco e captura da cidade de Kherson foi um sucesso militar inicial significativo para a Rússia. A Ucrânia agora está lutando para recuperar a cidade à medida que os combates se deslocam cada vez mais para o sul do país.

    Mas Filatyev disse que sente dificuldade para entender a visão do presidente russo, Vladimir Putin, que ordenou a invasão da Ucrânia, que completa seis meses nesta quarta-feira (24). O militar disse que Putin viu suas tropas presas em um conflito desgastante e caro.

    “Agora que estou fora de lá e sem uma arma, acho que essa é a pior e a coisa mais estúpida que nosso governo poderia ter feito”, disse ele. “Não sei para onde o governo está nos levando. Qual é o próximo passo? Guerra nuclear?”.

    “Vejo o que está acontecendo com meu país e estou apavorado. Tudo está destruído, corrompido”, disse à CNN. “As únicas leis que funcionam bem são as repressivas”.

    Filatyev fugiu da Rússia depois de realizar algumas entrevistas iniciais com a mídia. Mas ele sugeriu que o Kremlin poderia se vingar de sua exposição pública.

    “Ou serei colocado na prisão ou eles simplesmente me silenciarão ao me ‘apagarem’. Houve muitos casos como esse no passado. Não vejo outra saída. Se acontecer, aconteceu”.

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