Documentos revelam distintas classificações do Hamas por órgãos brasileiros nos últimos 30 anos
Acervo da Secretaria-Geral da Presidência revela que ora grupo foi tratado como extremista, ora como terrorista; nomenclatura será tema de debate na ONU

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Acredita-se que o Hamas esteja abrigando no subsolo um número considerável de combatentes e armas • Reuters
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O conflito entre Israel e Hamas começou em 7 de outubro quando o grupo extremista islâmic disparou uma chuva de foguetes lançados da Faixa de Gaza sobre o país judaico. A ofensiva contou ainda com avanços de tropas por terra e pelo mar • Reuters
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Foguetes disparados em Israel a partir de Gaza • REUTERS/Amir Cohen
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Após os ataques aéreos, o Hamas avançou no território israelense e invadiu a área onde estava acontecendo um festival de música eletrônica; mais de 260 corpos foram encontrados no local • Reprodução CNN
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Carros foram deixados para trás pelos motoristas que tentavam fugir do grupo extremista islâmico • Reuters
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Imagens mostram carros abandonados e sinais de explosões após ataque em festival de música eletrônica em Israel • Reuters
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As forças israelenses responderam com uma contraofensiva que atingiu Gaza e deixou vítimas, inclusive, em campos de refugiados. Israel declarou "cerco total" e suspendeu o abastecimento de água, energia, combustível e comida ao território palestino • 13/10/2023 REUTERS/Violeta Santos Moura
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Destruição em campo de refugiados palestinos em Gaza após ataque aéreo de Israel • Reuters
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Pessoas carregam o corpo de palestino morto em ataque israelense no campo de refugiados de Jabalia, no norte da Faixa de Gaza • 09/10/2023 REUTERS/Mahmoud Issa
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Campo de refugiados palestinos atingido em meio a ataques aéreos israelenses em Gaza • Reuters
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Prédios destruídos na Faixa de Gaza • Ahmad Hasaballah/Getty Images
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Escombros de prédio destruído após sataques em Sderot, no sul de Israel • Ilia Yefimovich/picture alliance via Getty Images
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Delegacia destruída no sul de Israel após ataque do Hamas • REUTERS/Ronen Zvulun
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Palestinos queimam pneus de carros e bloqueiam estradas enquanto entram em confronto com as forças israelenses no distrito de Beit El, em Ramallah, na Cisjordânia • Anadolu Agency via Getty Images
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As Brigadas Izz ad-Din al-Qassam seguram uma bandeira palestina enquanto destroem um tanque das forças israelenses em Gaza • Hani Alshaer/Anadolu Agency via Getty Images
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Bombeiros tentaram apagar incêndios em Israel após bombardeio de Gaza no sábado (7) • Reuters
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Foguetes disparados de Gaza em direção a Israel na manhã de sábado (7) • CNN
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Veja como funciona o sistema antimíssil de Israel • CNN
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Ataque israelense na Faixa de Gaza • 10/10/2023 REUTERS/Ibraheem Abu Mustafa
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Casas e prédios destruídos por ataques aéreos israelenses em Gaza • 10/10/2023 REUTERS/Shadi Tabatibi
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Tanque de guerra israelense estacionado perto da fronteira de Gaza • Ahmed Zakot/SOPA Images/LightRocket via Getty Images
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Imagens se satélite mostram destruição na Faixa de Gaza • Reprodução/Reuters
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Salva de foguetes é disparada por militantes do Hamas de Gaza em direção a cidade de Ashkelon, em Israel, em 10 de outubro de 2023. • Saeed Qaq/Anadolu via Getty Images
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Salva de foguetes é disparada por militantes do Hamas de Gaza em direção a cidade de Ashkelon, em Israel, em 10 de outubro de 2023. • Majdi Fathi/NurPhoto via Getty Images
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Barco de pesca pega fogo no porto de Gaza após ser atingido por ataques de Israel. • Reuters
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Palestinos caminham em meio a destroços de prédios destruídos por Israel em Gaza • 10/10/2023REUTERS/Mohammed Salem
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Palestinos caminham em meio a destroços de prédios em Gaza destruídos por ataques de Israel • 09/10/2023REUTERS/Ibraheem Abu Mustafa
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Soldados israelenses carregam corpo de vítima de ataque realizado por militantes de Gaza no kibbutz de Kfar Aza, no sul de Israel • 10/10/2023 REUTERS/Violeta Santos Moura
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Destruição em Gaza provocada por ataques israelenses • 10/10/2023REUTERS/Mohammed Salem
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Ataque israelense na Faixa de Gaza • 10/10/2023 REUTERS/Ibraheem Abu Mustafa
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Casas e prédios destruídos por ataques aéreos israelenses em Gaza • 10/10/2023 REUTERS/Shadi Tabatibi
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Munição israelense é vista em Sderot, Israel, na segunda-feira • Mostafa Alkharouf/Anadolu Agency via Getty Images
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Tanque de guerra israelense estacionado perto da fronteira de Gaza • Ahmed Zakot/SOPA Images/LightRocket via Getty Images
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Chamas e fumaça durante ataque israelense a Gaza • 09/10/2023REUTERS/Mohammed Salem
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Sistema antimísseis de Israel intercepta foguetes lançados da Faixa de Gaza • 09/10/2023REUTERS/Amir Cohen
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Hospital na Faixa de Gaza usa geladeiras de sorvete para colocar cadáveres devido à superlotação do necrotério • Ashraf Amra/Anadolu via Getty Images
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Fumaça sobe após um ataque aéreo israelense no oitavo dia de confrontos na Faixa de Gaza, em 14 de outubro de 2023 • Ali Jadallah/Anadolu via Getty Images
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Homem palestino lava as mãos em uma poça ao lado de um prédio destruído após os ataques israelenses na Cidade de Gaza • Ahmed Zakot/SOPA Images/LightRocket via Getty Images
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Embaixada dos EUA no Líbano é alvo de protestos • Reprodução CNN
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Palestinos protestam na Cisjordânia contra ataques de Israel
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Hospital em Gaza é atingido por um míssil • Reprodução
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Hospital atacado em Gaza • Reprodução
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Palestinos procuram vítimas sob escombros de casas destruídas por ataque israelense em Rafah, no sul da Faixa de Gaza • 17/10/2023REUTERS/Ibraheem Abu Mustafa
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Cidadã palestina inspeciona sua casa destruída durante ataques israelenses no sul da Faixa de Gaza em 17 de outubro de 2023 em Khan Yunis • Ahmad Hasaballah/Getty Images
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Tanque de guerra israelense • Saeed Qaq/Anadolu via Getty Images
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Ataque de Israel contra Gaza • 11/10/2023REUTERS/Saleh Salem
Documentos obtidos pela CNN em fundos do Arquivo Nacional mostram que, ao longo dos últimos 30 anos, órgãos do governo brasileiro variaram na forma de classificação do Hamas – ora como grupo extremista, ora como grupo terrorista palestino.
A forma do Brasil se referir à organização, que trava guerra há quase uma semana com Israel, será debatida em reunião do Conselho de Segurança da Organização das Nações Unidas (ONU), de acordo com o embaixador Carlos Sérgio Sobral Duarte, secretário da África e do Oriente Médio.
Formalmente, o país entende que cabe à ONU definir o status da organização – os Estados Unidos, por exemplo, classificam o Hamas de organização terrorista.
Veja também: Hamas disse que ataque contra Israel estava sendo planejado há 2 anos
Em um documento de oito páginas elaborado em 1996, disponível no fundo Secretaria de Assuntos Estratégicos da Presidência da República, o governo brasileiro faz uma avaliação da história do Hamas – surgido em 1987 com o objetivo de “libertação da Palestina e sua transformação em um Estado islâmico aos moldes da teocracia iraniana, bem como a destruição do Estado de Israel, opondo-se ao processo de paz no Oriente Médio”.
No ano seguinte, porém, um informe da inteligência do governo brasileiro tratou o Hamas como “organização terrorista palestina”.
Encaminhado à Presidência, o documento de sete páginas indicava que o grupo decidira “inserir o Brasil como palco para ações do terrorismo internacional. Assim, estariam planejando realizar ataques contra judeus residentes e instalações israelenses no país”.
Especialistas ouvidos pela CNN apontaram razões para o Brasil não classificar o Hamas como organização terrorista.
O principal argumento é a leitura de que cabe às Nações Unidas essa definição. Além disso, há um posicionamento histórico pragmático do país em relação ao conflito entre Israel e Palestina ao longo do tempo.
“O Brasil condena atos terroristas, mas não tem listas de grupos terroristas, ao contrário do que fazem, por exemplo, EUA ou União Europeia”, explica Maurício Santoro, cientista político, professor de relações internacionais e colaborador do Centro de Estudos Político-Estratégicos da Marinha.
“A posição histórica do Brasil é a defesa da solução de dois Estados, ou seja, apoiar tanto a criação de Israel quanto a de uma Palestina independente. Contudo, ao longo dos anos houve momentos em que a posição brasileira foi mais pró-árabe, mais crítica a Israel, sobretudo nos anos 1970”, avalia.
Veja também: Israel mobiliza militares para ofensiva terrestre em Gaza
Para Igor Lucena, doutor em Relações Internacionais e membro da Associação Portuguesa de Ciência Política, o Brasil deveria rever sua posição de esperar a ONU e classificar o Hamas como organização terrorista.
“O país precisa acompanhar os elementos geopolíticos de hoje e o posicionamento histórico não pode ficar à frente do que o mundo de hoje demanda”, indicou.
Nos anos 1990, preocupação com entrada do Brasil na rota do terror
Os documentos levantados pela reportagem no Arquivo Nacional revelam que havia, nos anos 1990, uma grande preocupação do governo brasileiro com a possibilidade de o país ingressar na rota dos atentados terroristas.
Em maio de 1994, investigadores relataram a possibilidade ao indicar que o “terrorismo internacional tem evidenciado a tendência de buscar áreas periféricas de atuação, distantes de seus teatros de operações principais, para executar ações contra alvos preferenciais ou obter apoio para suas organizações junto a grupos étnicos ou religiosos”.
Nesse sentido, alvos judeus poderiam ser alvos de organizações como o Hamas.
Em março de 1993, um documento do governo brasileiro também armazenado nos arquivos da Secretaria Geral da Presidência da República menciona a “forte repressão israelense e a falta de uma solução para a questão palestina” como “terreno fértil” para o crescimento do Hamas.
E faz uma previsão: “o grupo ‘Hamas’ poderá ser incluído, ainda este ano, pela primeira vez, no relatório anual dos EUA sobre terrorismo no mundo, pois o número crescente de seus atentados o credencia a entrar na lista dos atuais grupos terroristas”.