Dia de mudança na Casa Branca tem faxina milionária paga por contribuinte
Cerca de 100 funcionários limpam a residência oficial, que tem mais de 5 mil metros quadrados, em menos de seis horas
Uma faxina completa faz parte da tradição de transição quando um presidente dos Estados Unidos e sua família deixam a Casa Branca para os novos ocupantes.
O evento delicado e altamente coreografado de fazer as malas e sair, e desfazer outras malas e entrar, feito por dezenas de funcionários preparados e treinados, normalmente ocorre em uma janela de seis horas, quando os presidentes que entram e saem e seus cônjuges comparecem às cerimônias do Dia da Posse no Capitólio.
Quando o novo presidente e a primeira-dama retornam à Casa Branca após a celebração, todas as suas coisas já estão transferidas e prontas para usar, com a geladeira abastecida com suas comidas favoritas e o banheiro principal equipado com seu xampu preferido.
Mas, como a maioria das coisas no governo de Trump, este 20 de janeiro não será muito tradicional.
Antes da mudança do casal Biden, a Casa Branca passará primeiro por um limpeza relacionada à Covid-19 de cima para baixo, da Ala Leste (a parte residencial) à Ala Oeste (a parte governamental). De acordo com dados de contratos federais revisados pela CNN, o valor da faxina total contra a pandemia na Casa Branca antes da posse agora gira em torno de meio milhão de dólares (ou em torno de R$ 2,6 milhões).
O valor inclui R$ 127 mil (cerca de R$ 673 mil) para a “Limpeza da Posse 2021”, de acordo com documentos do governo, licitação vencida pela Didlake, uma empresa com sede na Virgínia que emprega pessoas com deficiência para trabalhos, incluindo serviços de limpeza.
Há também um pedido de US$ 44 mil (cerca de R$ 233 mil) para limpeza de carpete e do contrato de compra de US$ 115 mil (cerca de R$ 609 mil) para “Substituição e instalação do tapete para corrigir a condição atual do piso interno selecionado para vários escritórios para posse e transição presidencial de 2021”, dentro da Ala Leste, Ala Oeste e Prédio do Escritório Executivo, de acordo com a descrição.
Normalmente, em trocas de governo, a maior parte da limpeza, embora minuciosa, é feita predominantemente por funcionários da Casa Branca — governantas, mordomos e faxineiros — e a manutenção, como consertos elétricos e pequenos trabalhos de manutenção, também é conduzida por funcionários da Casa Branca. São normalmente de 90 a 100 pessoas em funções que variam de confeiteiros a floristas e encanadores.
No entanto, desta vez, o novo governo de Biden queria garantir que o imóvel na Avenida Pennsylvania, nº 600, que já teve pelo menos três surtos de Covid-19, receba o tipo de depuração que uma pandemia merece, de acordo com um funcionário da Casa Branca que falou com a CNN sob a condição de anonimato.
“A ideia de que eles simplesmente se mudariam parece improvável”, disse o funcionário, que não estava ciente dos números específicos do contrato, mas sim que medidas adicionais estavam sendo tomadas depois que os Trump deixassem a Casa Branca.
O grande dia
O presidente Donald Trump tuitou semana passada que não comparecerá à posse do presidente eleito Joe Biden. A CNN informou que a família Trump deve deixar Washington no dia anterior, 19 de janeiro. Biden está planejando passar a noite anterior à sua posse em um hotel em Washington, segundo pessoas a par de seus planos, e se mudará para a Casa Branca após a limpeza completa.
“As pessoas tendem a esquecer o tamanho deste edifício”, disse o funcionário. A Casa Branca tem cerca de 5.100 metros quadrados.
A equipe de transição de Biden não respondeu imediatamente a um pedido da CNN para comentar sobre os contratos de limpeza adicionais.
Contratos desse tipo, feitos através do Serviço de Prédios Públicos dentro da Administração de Serviços Gerais, incluem mais de US$ 29 mil (cerca de R$ 152 mil) para limpar as cortinas na Ala Leste, Ala Oeste e Edifício do Escritório Executivo Eisenhower e US$ 53 mil (cerca de R$ 279 mil) para pintura e revestimentos de parede.
Normalmente, a janela de tempo no momento da posse não é suficiente para atualizar a pintura e o papel de parede da casa. Mas, como agora há mais horas, graças ao que parece ser a saída antecipada de Trump em 19 de janeiro, as paredes serão renovadas. Um contrato de US$ 37.975 (cerca de R$ 200 mil) foi concedido a uma empresa de Annapolis, Maryland, para remoção de lixo e reciclagem, “de acordo com o escopo de trabalho em relação à posse de 2021”.
Outros US$ 50 mil (cerca de R$ 263 mil) foram contratados para pagamento de horas extras para os responsáveis pela mudança.
Melania Trump já está mudando
Melania Trump tem tirado itens da casa há quase dois meses, de acordo com várias fontes. Ela já completou várias remessas para Mar-a-Lago, o clube privado de Palm Beach, Flórida, onde o primeiro casal deve residir. Ela também guardou grande parte da mobília e da decoração da família.
Uma das fontes estima que Melania tenha empacotado “cerca de 50%” da Casa Branca, um trabalho que a primeira-dama começou a empreender de forma séria nas semanas seguintes ao dia da eleição.
Apesar da turbulência nacional, duas fontes confirmam à CNN que grande parte de sua atenção está voltada para sua coleção de álbuns de fotos, um hobby que ela mantém por mais de uma década, recortando e criando grandes álbuns encadernados em couro gravados com as datas e ocasiões de cada um dos conteúdos.
Segundo uma fonte, a primeira-dama utilizou os serviços da fotógrafa oficial da Casa Branca, Andrea Hanks, para ajudá-la a concluir seus
projetos pessoais. Hanks é funcionária do governo e seu pedido de horas extras irritou colegas do escritório fotográfico da Casa Branca.
A Ala Leste da Casa Branca não respondeu a um pedido de comentário para esta reportagem. A chefe de gabinete e porta-voz da primeira-dama, Stephanie Grisham, renunciou na quarta-feira passada (6) após a insurreição no Capitólio. Melania Trump não é vista publicamente desde que voltou de sua casa na Flórida para a Casa Branca em 31 de dezembro.
Mudança do casal Biden
Enquanto isso, a equipe de transição de Biden já entrou em contato com o líder da Casa Branca, Timothy Harleth, disseram duas fontes à CNN. Harleth foi contratado por Melania Trump em junho de 2017; antes, ele trabalhava no Trump International Hotel Washington como gerente de quartos.
Uma fonte da Casa Branca disse que Harleth está secretamente ajudando a equipe de Biden a navegar no processo de mudança, já que a tradição da primeira-dama atual de dar as boas-vindas à primeira-dama não aconteceu no governo de Trump. Melania Trump ainda não procurou Jill Biden para conversar.
A comunicação entre as equipes dos dois lados opostos é inexistente. Governos anteriores, mesmo aqueles de adversários políticos, tiveram longas e profundas conversas sobre a logística de mudança.
Não está claro, por exemplo, se os caminhões de mudança da família Biden terão permissão para transportar a adora bicicleta ergométrica Peloton do presidente eleito de sua casa em Wilmington, Delaware, para a residência da Casa Branca. As bicicletas autônomas dessa marca normalmente têm câmeras de vídeo que se conectam à internet, o que pode ser um dos pequenos problemas.
Os aparelhos de alta tecnologia de presidentes anteriores normalmente exigiam verificação e atualização de segurança, especialmente quando se conectavam à internet ou redes de celular. O jornal “The Washington Post” relatou em fevereiro de 2019 que Trump tinha um simulador de golfe do tamanho de uma sala instalado na Casa Branca, substituindo um simulador menos sofisticado instalado pelo presidente Barack Obama.
Na época, o preço do aparelho totalmente configurado da TrackMan, empresa que tem simuladores de golfe em várias propriedades de Trump, começava em cerca de US$ 50 mil (cerca de R$ 263 mil).
Simuladores de alta tecnologia, como os do TrackMan, costumam se conectar à internet e possuem sensores ou câmeras. E-mails do Serviço Secreto dos EUA obtidos pela CNN por meio da Lei de Liberdade de Informação mostram que o pessoal da agência, incluindo um destacamento de proteção para a Divisão de Segurança Técnica do Serviço Secreto, trocou “notas” e “informações técnicas” no simulador de golfe TrackMan nos meses antes de sua instalação.
Presidentes anteriores não tinham esses problemas de alta tecnologia. O presidente George W. Bush pediu equipamentos de ginástica, incluindo uma máquina elíptica e halteres, a serem instalados em uma cabana ao lado da piscina, a poucos passos do Salão Oval, e uma esteira dobrável a bordo do Força Aérea Um. Era o suficiente para não levantar bandeiras de segurança.
Não se sabe se a ergométrica de Biden receberá a mesma investigação.
(Com informações de Kevin Liptak, da CNN Internacional. Texto traduzido, leia o original em inglês)