Prime Time

seg - sex

Apresentação

Ao vivo

A seguir

    Dia da Mulher: O que a pandemia da Covid-19 piorou para meninas e mulheres

    De aumento do feminicídio a maior exposição a gravidez indesejada, passando por desemprego, mulheres estão mais expostas às aflições da pandem

    María Camila Rincón Ortega, , da CNN

    Todos os tipos de violência contra mulheres e meninas aumentaram desde que o coronavírus começou a se espalhar e ceifar vidas de forma massiva, de acordo com uma publicação da ONU Mulheres. Mas essa não é a única ameaça: a pandemia se encarregou de colocá-las na corda bamba diante da perda de emprego, do abandono escolar e do risco de doenças mentais. Portanto, neste Dia Internacional da Mulher, resgatamos cinco desigualdades que a pandemia de Covid-19 agravou para as mulheres.

    Violência

    Uma em cada três mulheres foi vítima de violência sexual ou física no mundo. E embora o número de 35% seja bastante alto, ele não inclui o assédio sexual. A ONU Mulheres alertou que, como resultado da pandemia, as chamadas para canais telefônicos de ajuda aumentaram cinco vezes em alguns países. Tudo por causa do aumento da violência doméstica. 

    Simplificando, algumas mulheres são presas com seus agressores, enquanto são isoladas de pessoas e recursos que podem ajudá-las. Ao que devemos acrescentar que, menos de 40% das mulheres vítimas de violência procuram algum tipo de ajuda. Outro fator importante é que elas não sabem onde podem ir para obter algum suporte.

    O Fundo de População das Nações Unidas (UNFPA, na sigla em inglês) calculou, em abril de 2020, que, há cada seis meses de confinamento, “são esperados mais 31 milhões de casos de violência de gênero”. A Comissão Econômica para a América Latina e o Caribe (CEPAL) afirmou, em 2020, que, de acordo com uma pesquisa realizada em seis países latino-americanos, entre 60% e 76% das mulheres (cerca de duas a cada três) foram vítimas de violência de gênero em diferentes áreas da sua vida.

    Como o coronavírus, a violência também ceifou vidas: todos os dias, 137 mulheres são mortas por familiares. Este número da ONU Mulheres é pré-pandêmico, apesar de ser o mais recente disponível, e pode ter crescido depois dos bloqueios. Uma tendência que se repete na América Latina, região que possui 14 dos 25 países com as maiores taxas de feminicídio do mundo, segundo relatório da ONU Mulheres em 2018. O Observatório de Igualdade de Gênero da ONU para 24 países da região registrou que, 4.640 mulheres foram vítimas de feminicídio em 2019.

    Violência doméstica
    A violência doméstica aumentou durante a pandemia
    Foto: Elza Fiúza/ Agência Brasil

    Trabalho

    Um dos primeiros golpes que a Covid-19 desferiu foi contra os empregos. Especialmente, os femininos. O secretário-geral da ONU, António Guterres, disse que, em muitos países “a primeira onda de demissões coletivas” graves foi no setor de serviços. Exatamente onde as mulheres “estão bastante representadas”. No caso da América Latina e Caribe, chegaram a 80% em 2019. O que significa que, mais mulheres do que homens perderam o emprego. E, portanto, seu sustento e independência econômica.

    “Há uma lacuna gigante entre homens e mulheres no setor de trabalho e no setor econômico, que foi expandida durante a pandemia”, disse Catalina Calderón à CNN. Ela é diretora para América Latina e Caribe da ONG Women’s Equality Center, focada na liberdade reprodutiva das mulheres. Calderón disse que o fato de as mulheres estarem perdendo seus empregos “tem tudo a ver com violência. Na maioria dos casos, a violência doméstica tem um peso econômico muito alto”. A explicação de Calderón é que, quando as mulheres são economicamente independentes, há um freio no controle sobre elas por parte de seus parceiros. Mas quando elas perdem seus empregos, essa independência acaba.

    “A violência começa com o controle da independência econômica. Vimos isso nesta pandemia, quando o número de feminicídios aumentou bastante ”, completou.

    No entanto, 70% dos empregos femininos nos países em desenvolvimento estão no setor informal. Situação que tem duas consequências: elas têm menos benefícios sociais e estão mais impedidas pela pandemia de trabalhar. De acordo com a ONU, a COVID-19 “afetará desproporcionalmente” as mulheres porque “elas ganham menos, economizam menos e têm empregos mais vulneráveis” do que os homens. Em seu relatório mais recente, a CEPAL registrou que, em 2020, a desigualdade nas taxas de emprego e na participação laboral foi agravada, especialmente para as mulheres. Assim, “a injusta divisão sexual do trabalho e as obrigações do lar”, que caem primordialmente sobre elas, ameaçam a autonomia e o exercício de direitos das mulheres. 

    O confinamento colocou sobre as mulheres uma sobrecarga nas atividades de cuidado não remunerado do lar, que elas já realizavam antes da pandemia. Em um dia normal, as mulheres gastavam quase três vezes mais tempo do que os homens em tarefas domésticas não remuneradas. E a crise da Covid-19 não mudou isso. De acordo com uma pesquisa realizada em 17 países em 2020, homens e mulheres assumiram mais responsabilidades pelas tarefas domésticas, mas a maior parte do trabalho continua a recair sobre elas.

    Você sabia que 70% dos profissionais de saúde, tão aplaudidos em meio a essa pandemia, são mulheres? E que apesar de serem maioria, ganham menos que os homens? A diferença salarial média no setor saúde é de 28%, segundo a OMS. O trabalho feminino contribui com US$ 3 trilhões para a saúde global. Porém, metade desse valor corresponde a trabalho assistencial não remunerado. Além disso, com a Covid-19 veio outra desigualdade: em alguns países, as infecções por coronavírus entre os profissionais de saúde são o dobro entre as mulheres. 

    A UNESCO projetou até 2020 que 11 milhões de meninas não poderiam voltar à escola devido à pandemia. Para se ter uma ideia: isso equivale à população total da Bolívia. Quando uma menina para de receber educação, isso a coloca em risco de gravidez na adolescência, casamentos precoces e forçados, abuso e violência. “Para muitas meninas, a escola é mais do que a chave para um futuro melhor. É um salva-vidas ”, afirma a UNESCO. Além disso, a ONU destacou que epidemias anteriores mostraram que as adolescentes correm o risco de não voltar a estudar, mesmo depois da crise.

    Mas não é apenas o risco de abandono escolar que incide mais pesadamente sobre elas. A carga de trabalho doméstico aumentada pelo coronavírus também recai sobre as meninas. Isso significa que elas estão assumindo tarefas adicionais em casa, quando já gastavam muito mais horas fazendo essas tarefas do que os homens, de acordo com a ONU.

    E o quadro só se complica se levarmos em conta que a perda abrupta de renda familiar vai gerar pressão para que crianças e adolescentes abandonem a escola e ingressem no mercado de trabalho pela necessidade de geração de renda, alertou a Unicef. Antes da pandemia, já havia milhões de meninas que não alcançariam os níveis mínimos de habilidades, conhecimentos e oportunidades para levar uma vida produtiva plena.

    Trabalho remoto; mulher negra
    Foto: Daniel Bosse/Unsplash

    Saúde mental

    Um estudo da OMS revelou que a pandemia afetou ou paralisou serviços essenciais de saúde mental em 93% dos países. O que é especialmente preocupante no caso de mulheres vítimas de violência doméstica. 67% dos países relataram problemas “em serviços de aconselhamento psicológico e psicoterapia”. Além disso, são as mulheres que enfrentam “uma grande parte do fardo em casa, e sofrem efeitos desproporcionais” relacionados ao isolamento.

    Uma pesquisa publicada na biblioteca dos Institutos Nacionais de Saúde dos EUA (NIH) descobriu que, aquelas que sofrem violência por parte do parceiro e que estão grávidas, no pós-parto ou fizeram um aborto têm risco maior de desenvolvimento de problemas de saúde mental em meio à pandemia.

    Direitos reprodutivos

    Mulher grávida
    Das 978 grávidas ou no pós-parto diagnosticadas com o novo coronavírus no Brasil entre os dias 26 de fevereiro e 18 de junho, 124 morreram
    Foto: Divulgação / Pixabay

    Só na América Latina e no Caribe, 18 milhões de mulheres podem perder o acesso a anticoncepcionais modernos devido à pandemia de Covid-19, de acordo com estimativas da ONU Mulheres. E isso ocorre porque muitos serviços de saúde sexual e reprodutiva, incluindo maternidade e atendimento à violência de gênero, foram realocados para enfrentar a crise. O que, alertou o organismo, vai gerar um aumento na mortalidade materna, nas taxas de gravidez na adolescência e nas doenças sexualmente transmissíveis.

    “Muitas mulheres em nossa região tomam pílulas anticoncepcionais secretamente. Existem mitos em que se acredita que uma mulher que usa anticoncepcional tem alta probabilidade de ser infiel. O que é absolutamente ridículo. Tomar anticoncepcionais é uma forma de garantir nosso direito de decisão”, disse Catalina Calderón, do Centro de Igualdade da Mulher.

    Além disso, o Fundo de População das Nações Unidas estima que haverá 7 milhões de gestações indesejadas a cada seis meses que o bloqueio for estendido. “A cada três meses em que o confinamento for mantido, haverá até 2 milhões a mais de mulheres que não poderão usar anticoncepcionais modernos”, alertou a organização.

    E na mesma linha, Calderón afirmou que, durante a pandemia, o acesso a abortos legais e seguros aumentou em toda a região. “Veremos o resultado dessa pandemia nos próximos dois anos”, disse ele. Em parte, devido às dificuldades de acesso à assistência médica por conta da emergência da Covid-19. Além da “estigmatização e do julgamento em torno do aborto”, advertiu Calderón.

    (Texto traduzido. Leia o original em espanhol).

    Tópicos