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    Desejada por Putin, neutralidade da Ucrânia tem outras exigências de Zelensky

    Presidente ucraniano afirmou que país rejeitaria a neutralidade sem garantias de segurança juridicamente vinculativas

    Nathan Hodgeda CNN

    Em uma entrevista concedida no domingo (27) a jornalistas russos, o presidente ucraniano Volodymyr Zelensky falou longamente sobre um ponto importante em potenciais negociações de paz: a possibilidade de neutralidade da Ucrânia.

    “Estamos prontos para aceitar”, disse Zelensky. “Este é o ponto mais importante”.

    Zelensky e funcionários ucranianos há muito tempo disseram que estão dispostos a falar sobre a neutralidade para a Ucrânia se a Otan não estiver pronta para aceitar o país como membro da aliança.

    Isso, em teoria, atenderia a uma das exigências do presidente russo Vladimir Putin: que a Ucrânia desista de suas aspirações a integrar a Otan.

    Mas não é tão simples assim. Zelensky também deixou claro que a Ucrânia rejeitaria a “neutralidade” sem garantias de segurança juridicamente vinculativas. E, com a Ucrânia sob invasão da Rússia, o líder ucraniano disse que não está interessado em promessas vazias.

    “Estou interessado em garantir que não seja apenas mais um pedaço de papel a la Memorando de Budapeste”, disse ele.

    Zelensky estava se referindo a um momento pouco lembrado na história pós-Guerra Fria.

    Com o colapso da União Soviética, a Ucrânia — pelo menos no papel — passou a ter o terceiro maior estoque nuclear do mundo. A Rússia manteve o controle operacional dessas armas, mas a Ucrânia assinou um acordo em 1994 para desistir das armas nucleares estacionadas em seu território em troca de garantias de segurança, incluindo a proteção da integridade territorial e independência política da Ucrânia.

    Isso é algo que a Rússia, signatária do Memorando de Budapeste, pisoteou com a anexação da Crimeia em 2014 e a invasão da Ucrânia em fevereiro.

    Mykhailo Podolyak, conselheiro sênior de Zelensky, disse que as garantias de segurança devem, em essência, incluir um compromisso de países garantidores para ajudar a Ucrânia caso haja uma agressão.

    E é importante acrescentar que a neutralidade, do tipo agradável à Putin, não é algo que Zelensky possa simplesmente oferecer. A aspiração à adesão à Otan está consagrada na constituição da Ucrânia.

    Foi aí que Zelensky deu aos entrevistadores russos uma pequena lição sobre os processos democráticos da Ucrânia. As garantias de segurança, explicou ele, teriam que ser seguidas por um referendo na Ucrânia.

    “Por quê? Porque temos uma lei sobre referendos”, disse Zelensky. “Nós a aprovamos. Mudanças deste ou daquele status… e as garantias de segurança pressupõem mudanças constitucionais. Você entende, não é mesmo? Mudanças constitucionais”.

    E aí reside a diferença. A Rússia tem um sistema político construído em torno de um homem, Putin, e Zelensky é o chefe de um Estado democrático. Mesmo que a neutralidade esteja sobre a mesa de negociações, o povo ucraniano terá que ter sua palavra a ser posta.

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