Defender a Europa é uma ‘obrigação sagrada’ dos EUA, diz Biden à Otan
Ao chegar a Bruxelas para cúpula da aliança militar, presidente norte-americano reafirma compromisso do país com defesa mútua dos membros da organização
O presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, disse a outros líderes da Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan) nesta segunda-feira (14) que a defesa da Europa, da Turquia e do Canadá era uma “obrigação sagrada” – uma mudança marcante em relação às ameaças de seu antecessor Donald Trump de se retirar da aliança militar.
Ao chegar a Bruxelas, na Bélgica, depois de participar da cúpula do G7 no fim de semana, na Inglaterra, Biden novamente procurou reunir aliados ocidentais para apoiar uma estratégia dos EUA para conter a ascensão militar da China, bem como mostrar unidade em face da agressão da Rússia.
“O Artigo Cinco é uma obrigação sagrada”, disse Biden, referindo-se à promessa de defesa coletiva da aliança transatlântica. “Quero que toda a Europa saiba que os Estados Unidos estão comprometidos.”
“A Otan é extremamente importante para nós”, disse Biden, que busca refazer os laços depois de Trump maldizer a aliança – o ex-presidente chamou de seus membros “delinquentes”.
Os aliados devem rotular a China como um risco de segurança para a aliança ocidental pela primeira vez, um dia depois que o G7 divulgou uma declaração sobre direitos humanos na China e em Taiwan – considerada por Pequim como uma calunia de sua reputação.
A Otan denunciará formalmente o comportamento da China como um “desafio sistêmico” em sua declaração final na cúpula desta segunda-feira, de acordo com uma cópia do documento vista pela Reuters, algo inédito para uma aliança historicamente focada na Rússia.
“As ambições declaradas e o comportamento assertivo da China apresentam desafios sistêmicos à ordem internacional baseada em regras e às áreas relevantes para a segurança da aliança”, dirão os líderes da Otan em um comunicado de 79 pontos a ser publicado após o término da cúpula.
Biden disse que a Rússia e a China não estão agindo “de maneira consistente com o que esperávamos”, referindo-se aos esforços ocidentais desde meados da década de 1990 para trazer os dois países para o seio das democracias liberais.
Em sinal de que está surgindo uma posição comum sobre a China, a União Européia já designou Pequim como “rival sistêmica”.
Embora Moscou negue qualquer delito, os líderes aliados estão preocupados com o recente aumento militar da Rússia perto da Ucrânia, bem como com seus ataques secretos e cibernéticos para minar Estados ocidentais. A China não é mais vista como um parceiro comercial benigno.
O Secretário-Geral da Otan, Jens Stoltenberg, disse que a crescente presença militar da China, do Báltico à África, significa que a aliança deve estar preparada. “A China está se aproximando de nós. Nós os vemos no ciberespaço, vemos a China na África, mas também vemos a China investindo pesado em nossa própria infraestrutura crítica”, disse ele, uma referência a portos e redes de telecomunicações.
“Precisamos responder juntos como uma aliança.”
As nações do G7 reunidas na Grã-Bretanha no fim de semana repreenderam a China sobre os direitos humanos em sua região de Xinjiang, pediram que Hong Kong mantenha um alto grau de autonomia e exigiram uma investigação completa das origens do novo coronavírus na China.
A embaixada da China em Londres disse que se opõe terminantemente às menções sobre Xinjiang, Hong Kong e Taiwan, que distorcem os fatos e expõem as “intenções sinistras de alguns países como os Estados Unidos”.
“A reputação da China não deve ser difamada”, disse a embaixada na segunda-feira.
O primeiro-ministro britânico, Boris Johnson, ao chegar à cúpula, disse que há riscos e recompensas em Pequim. “Não creio que alguém ao redor da mesa queira entrar em uma nova Guerra Fria com a China“, disse ele.