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    Decisão do Arizona coloca aborto no centro da eleição presidencial nos EUA

    Procedimento passou a ser permitido apenas nos casos em que é "necessário salvar" vida da gestante

    Joseph AxJarrett Renshawda Reuters

    Os democratas não perderam tempo para capitalizar sobre a decisão de terça-feira da alta corte do Arizona mantendo uma proibição ao aborto de 160 anos atrás, organizando entrevistas coletivas em estados cruciais e culpando o ex-presidente republicano, Donald Trump, por ter eliminado o direito ao aborto em todo o país.

    A decisão da Suprema Corte conservadora do Arizona causou uma onda de choque no estado, que deve ter um papel fundamental na eleição presidencial de novembro e ser palco de uma das disputas mais badaladas do país ao Senado.

    Além disso, ativistas pelo direito ao aborto trabalham para colocar uma medida na cédula diante dos eleitores em novembro que consagraria proteções ao direito ao aborto na constituição estadual do Arizona. Organizadores afirmam que já reuniram mais assinaturas do que o necessário para qualificar o referendo.

    Na tentativa de se distanciar da decisão, Trump disse nesta quarta-feira (10) que o tribunal foi longe demais, embora, ao mesmo tempo, tenha defendido a decisão da Suprema Corte que permitiu os estados de restringirem o aborto. Ele pediu que o legislativo estadual, controlado pelos republicanos, e a governadora democrata alterassem a lei.

    “Como você sabe, é tudo uma questão de direitos dos estados — isso será resolvido”, disse a jornalistas em Atlanta, antes de evento de arrecadação de fundos.

    “E tenho certeza que a governadora e todo mundo vão trazer isso de volta à razão e que isso será resolvido muito rapidamente.”

    Em resposta, Michael Tyler, porta-voz da campanha de Biden, disse: “Donald Trump é o responsável pelo sofrimento e caos que estão acontecendo agora, inclusive no Arizona”.

    Manifestanes a favor e contra o aborto protestam do lado de fora da Suprema Corte dos EUA / 01/11/2021 REUTERS/Evelyn Hockstein

    Trump havia tentado neutralizar o assunto na segunda-feira, dizendo que o direito ao aborto deveria ser resolvido por cada estado individualmente e reiterando seu apoio a exceções em casos de estupro, incesto e ameaças à vida da mãe.

    Um dia depois, a Suprema Corte do Arizona descartou o limite estadual de 15 semanas e posicionou-se a favor de uma lei de 1864, anterior à condição de Estado do Arizona.

    Barrett Marson, estrategista político republicano do Arizona, disse que a decisão foi um “terremoto de proporções épicas” que seria uma ameaça a todos os republicanos em novembro.

    “Ele disse: ‘Deixe para os Estados'”, afirmou Marson. “Bom, veja o que aconteceu.”

    Os democratas deixaram clara a intenção de colocar o aborto em uma posição de destaque em novembro, dois anos após a Suprema Corte do país — empoderada por uma maioria conservadora instalada por Trump — reverter a histórica decisão Roe v. Wade de 1973 e decidiu que o aborto não era constitucionalmente protegido.

    A decisão serviu de estímulo para eleitores democratas e foi amplamente apontada como responsável pelo desempenho do partido superior às expectativas nas eleições de meio de mandato em 2022.

    Além de entrevistas coletivas em cidades do Arizona imediatamente após a decisão, democratas realizaram eventos na Georgia e na Flórida para debater o tema. A campanha do presidente Joe Biden organizou três eventos em outro Estado crucial, a Carolina do Norte, focados em direitos reprodutivos. A vice-presidente Kamala Harris visitará o Arizona na sexta-feira (12), disse a Casa Branca.

    A campanha de Biden também aumentou seus gastos no Arizona com um anúncio contundente, lançado na segunda-feira, no qual uma mulher do Texas descreve em lágrimas que quase morreu depois de ter um procedimento negado após um aborto espontâneo. Em uma tela preta, as palavras “Donald Trump fez isso” piscam enquanto seus soluços continuam ao fundo.

    Gunner Ramer, diretor político do comitê de ação política anti-Trump Republican Accountability, disse que a decisão reforçaria os esforços dos democratas para retratar os republicanos como extremistas demais.

    “Isso representa uma grande oportunidade para Biden partir para o ataque contra Trump”, disse ele.

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