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    De volta aos EUA, Xi Jinping encontra um país diferente de seis anos atrás

    Líder chinês participa de cúpula na Califórnia; última visita havia acontecido no início do governo Trump.

    U.S. President Donald Trump meets with China's President Xi Jinping at the start of their bilateral meeting at the G20 leaders summit in Osaka, Japan, June 29, 2019.
    U.S. President Donald Trump meets with China's President Xi Jinping at the start of their bilateral meeting at the G20 leaders summit in Osaka, Japan, June 29, 2019. REUTERS/Kevin Lamarque

    Nectar Ganda CNN

    Hong Kong

    Quando Xi Jinping pisou nos Estados Unidos pela última vez, o ex-presidente Donald Trump recepcionou o líder chinês em sua residência rodeada de palmeiras em Mar-a-Lago, na Flórida.

    À luz de velas, os dois líderes estreitaram laços com a “mais bela fatia de bolo de chocolate” e uma canção popular chinesa entoada pelos netos de Trump.

    Gabando-se da “ótima química” entre eles, Trump elogiou Xi após a sua primeira reunião pessoal e previu que “muitos problemas potencialmente ruins desapareceriam”.

    Mais de seis anos depois dessa cúpula com clima de lua de mel no resort da Flórida, os EUA se preparam para receber o líder chinês novamente, agora em um ambiente muito menos intimista e com as duas maiores economias do mundo mais parecendo um casal desconfiado à beira do divórcio.

    Xi, que vai participar da cúpula da Cooperação Econômica Ásia-Pacífico (APEC) em São Francisco e se reunir com o presidente dos EUA Joe Biden fora do encontro, vai chegar num país que endureceu significativamente a sua visão contra ele. Ser duro com a China virou um raro ponto de convergência na política cada vez mais polarizada dos Estados Unidos.

    São sentimentos mútuos.

    Em Pequim, na sede do governo chinês, as autoridades que há muito tempo já suspeitavam das intenções dos EUA e se ressentiram da sua influência agora têm certeza de que os EUA estão mesmos prestes a conter e suprimir a China.

    Muita coisa aconteceu no período entre as duas visitas de Xi: uma guerra comercial contundente, uma pandemia global e uma guerra feroz na Europa. Cada um desses fatos causou golpes profundos na relação EUA-China, que se deteriorou até atingir o pior patamar em décadas.

    O que começou como uma luta sobre o comércio da era Trump rapidamente se espalhou para outras áreas, como tecnologia, segurança nacional, geopolítica e visões para a ordem global. São competições que só se intensificaram sob o governo Biden.

    As relações decaíram ainda mais em agosto do ano passado, quando o governo da China cortou grandes canais de comunicação com Washington em retaliação a uma visita de alto nível dos EUA a Taiwan.

    As tentativas de restaurar o diálogo desandaram em fevereiro, depois que um suposto balão de vigilância chinês foi abatido sobrevoando o espaço aéreo americano.

    Desde então, os EUA passaram meses tentando contornar a situação com seu maior rival estratégico, chegando a enviar quatro funcionários do alto escalão do governo para Pequim durante um verão atarefado na capital chinesa.

    Pequim tem jogado com tranquilidade.

    Quando o ministro das Relações Exteriores chinês Wang Yi finalmente retribuiu com uma visita a Washington no mês passado (vista como um sinal de esperança para a cúpula Xi-Biden), ele avisou aos americanos que “’o caminho para São Francisco’ não será suave”.

    Além da percurso turbulento para chegar à Califórnia, o cenário da reunião também é revelador.

    Biden e Xi se encontram às margens de cúpula do G20 em Bali / 14/11/2022 REUTERS/Kevin Lamarque

    XI desembarca nos EUA nesta semana junto com mais de 20 líderes mundiais para a cúpula da APEC, um evento muito mais formal e comercial do que a reunião na residência particular de Trump em 2017.

    Naquela época, o encontro em Mar-a-Lago tinha como objetivo construir uma relação pessoal, como explicou Yun Sun, diretora do programa da China no think tank Stimson em Washington.

    “A relação entre os EUA e a China ainda não estava amarrada”, disse. “Quando Xi viajou, os chineses ainda esperavam por uma diplomacia de liderança e que os dois poderiam ter um relacionamento muito bom”.

    XI e Biden já se conhecem há mais de uma década e passaram diversas horas juntos nos EUA e na China antes de Biden se tornar presidente.

    Como governantes, os dois se reuniram pela primeira vez no ano passado em Bali, na Indonésia, quando acontecia a cúpula do G20.

    Diplomacia com toque pessoal

    A diplomacia com um toque pessoal tem sido uma característica central nas visitas de líderes chineses aos EUA.

    Quando as relações diplomáticas foram restauradas em 1979, o presidente americano Jimmy Carter convidou o líder supremo da China, Deng Xiaoping, para uma viagem inovadora à América. A partir de então, os dois líderes estabeleceram uma relação pessoal.

    Em seu diário pessoal, Carter descreveu Deng como “sagaz, duro, inteligente, franco, corajoso, autoconfiante, amigável”, chamando a sua visita de “uma das experiências agradáveis da minha presidência”.

    Durante essa viagem, o líder comunista chinês vestiu um imenso chapéu de caubói num rodeio do Texas em frente a uma multidão que o aplaudia – um momento que mexeu com a imaginação do povo americano.

    O sucessor de Deng, Jiang Zemin, conhecido pela sua personalidade forte e seus muitos talentos musicais, surpreendeu várias vezes os anfitriões americanos ao apresentar canções e danças improvisadas.

    Na sua primeira visita aos EUA em 1997 (a primeira de um líder chinês depois do massacre na Praça da Paz Celestial), Jiang amenizou sua imagem cantando árias da ópera de Pequim num banquete de gala na Califórnia e tocando o ukulelê num jantar no Havaí.

    Cinco anos depois, o presidente George W. Bush convidou Jiang para o seu rancho no Texas antes de os dois participarem da cúpula da APEC no México.

    Essa abordagem pessoal voltou a funcionar quando Xi conheceu o presidente Barack Obama em 2013, meses depois de assumir o comando da China.

    Em Sunnylands, um exuberante retiro no deserto californiano, os dois líderes conversaram e sorriram enquanto passeavam ao longo de um campo bem cuidado e sobre uma pequena ponte.

    Em harmonia com o ambiente informal, deixaram as suas gravatas e ternos para trás. No final da cúpula, Obama declarou que a visita havia sido “fantástica”.

    O passeio amigável em Sunnylands também inspirou o famoso meme que comparou Xi ao Ursinho Pooh depois das fotos que sobrepuseram Xi e Obama com o urso amante do mel e o amigo Tigrão, uma sátira que ficou famosa nas redes sociais chinesas.

    Como resultado, o desenho virou alvo de censura na China.

    Sun, a especialista do Stimson Center, disse que o tipo de diplomacia pessoal entre os principais líderes era considerado muito importante na formação e consolidação de laços bilaterais.

    “Mas acho que já passamos dessa fase. Mal posso imaginar que Biden convide Xi Jinping para a sua residência particular”, disse a especialista.

    “São Francisco vai ser muito voltada aos negócios. E será muito oficial”.

    Aumento da desilusão

    Alguns anos depois da presidência de Xi, as autoridades americanas começaram a perceber que nem sempre podiam contar com as promessas do líder chinês feitas durante momentos de diplomacia pessoal.

    Um ponto grave foi uma promessa de 2015 de Xi, durante uma visita de Estado dos EUA, de que não iria “buscar a militarização” do Mar do Sul da China, um juramento que contrastou fortemente com o que aconteceu depois.

    “Os quatro anos do governo Obama tiveram realmente um enorme prejuízo na confiança dos EUA sobre o comportamento da China sob o governo de Xi”, disse Sun.

    Foi notável que a visita de Xi a Mar-a-Lago tenha ocorrido no prazo de três meses após a posse de Trump.

    “Xi queria estabelecer uma boa relação com Trump numa fase inicial para poder mante-la”, comentou Suisheng Zhao, diretor do Centro para a Cooperação China-EUA da Universidade de Denver.

    “Mas Trump é uma pessoa totalmente diferente”.

    Em poucos meses, Trump acusou a China de não fazer “NADA” para impedir a busca da Coreia do Norte por armas nucleares e logo depois disso começou a guerra comercial.

    “Agora, estamos chegamos a um ponto onde ambos os lados foram muito prejudicados na confiança, e ambos estão descobrindo que os seus interesses nacionais não se alinham fundamentalmente”, disse Sun.

    Fazendas em Iowa

    A visita desta semana será a quinta viagem de Xi aos Estados Unidos como líder da China, e a décima aos EUA.

    A primeira visita de Xi aconteceu em 1985, quando ele tinha 31 anos, no que se acredita ter sido sua primeira viagem para fora da China.

    Naquela época, o funcionário pouco conhecido, de cara nova, servia como chefe do partido de um condado empobrecido na província central de Henan.

    Ele liderou uma delegação agrícola de cinco homens para aprender sobre as práticas agrícolas e pecuárias em Iowa, onde visitou fazendas, fez um piquenique em um cruzeiro no rio Mississippi e se hospedou na casa de uma família americana.

    Como parte da viagem, Xi também fez uma parada em São Francisco e posou para uma foto em frente à icônica Golden Gate Bridge.

    Nas décadas seguintes, Xi visitou os EUA mais quatro vezes até assumir o poder no final de 2012.

    Antes de as relações bilaterais darem uma reviravolta acentuada para pior, a propaganda oficial chinesa muitas vezes promoveu essas visitas como um exemplo da profunda e duradoura amizade entre os EUA e a China.

    Os especialistas dizem que é difícil saber se as primeiras visitas de Xi aos EUA podem ter afetado as suas opiniões sobre o país.

    Zhao, o estudioso da Universidade de Denver, disse que a experiência pessoal de Xi provavelmente terá um impacto muito superficial. “Ela poderia ter afetado o seu pensamento se ele fosse uma pessoa comum e não o líder forte que é hoje”, afirmou.

    Sun disse que, embora Xi tenha tentado conquistar a imagem de um grande estadista de poder, ele é “principalmente um político voltado para questões nacionais”.

    “Não sei se as visitas anteriores de Xi Jinping aos Estados Unidos tiveram um grande impacto na sua política externa. Acho que o seu estilo de política externa é decidido pelo seu estilo político doméstico que é: “eu sou o Imperador e decido tudo.”

    Simone McCarthy, da CNN, contribuiu para a reportagem.

    Este conteúdo foi criado originalmente em Internacional.

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