Cúpula Putin-Biden “não acontecerá antes de quinta-feira”, diz ministro francês da UE
Nesta segunda, Joe Biden e o presidente da Rússia concordaram em realizar uma cúpula sobre a crise na Ucrânia
O ministro francês de Assuntos Europeus, Clement Beaune, disse que uma cúpula entre os presidentes dos EUA e da Rússia “não acontecerá antes de quinta-feira”. Os comentários foram feitos à emissora francesa LCI nesta segunda-feira (21).
O ministro das Relações Exteriores da Rússia, Sergey Lavrov, deve falar com seu colega francês, Jean-Yves Le Drian, hoje, e com o secretário de Estado dos EUA, Anthony Blinken, na quinta-feira (24).
Beaune descreveu que esses encontros são como “reuniões preparatórias” para uma cúpula entre os dois presidentes. “Vamos ver a situação” após essas discussões, disse ele. Os líderes russos e norte-americanos concordaram em princípio com uma reunião bilateral para discutir as tensões em torno da Ucrânia, após ligações com o presidente francês Emmanuel Macron, incluindo três horas de discussão com Putin, segundo Beaune.”A esperança diplomática foi restaurada” por Macron, disse ele.
Nesta segunda-feira (21), o presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, e o presidente da Rússia concordaram em princípio em realizar uma cúpula sobre a crise na Ucrânia.
Qual é a situação na fronteira?
Mais de 150 mil soldados russos cercam a Ucrânia como uma ferradura em três lados, de acordo com estimativas de oficiais de inteligência dos EUA e da Ucrânia. A Casa Branca alertou repetidamente que Putin poderia lançar uma invasão em larga escala da Ucrânia a qualquer momento.
Em 15 de fevereiro, Putin afirmou que estava retornando algumas tropas de volta à base depois de completar os exercícios e estava aberto a uma rota diplomática para sair do impasse. Mas, a a declaração foi vista com frustração, já que EUA alegaram que a Rússia estava mobilizando tropas silenciosamente.
A Otan (Organização do Tratado do Atlântico Norte) aumentou a prontidão de sua força de resposta rápida, enquanto os países membros colocam tropas de prontidão e enviam batalhões, aviões e navios para a região. Os EUA ordenaram que 3 mil soldados fossem enviados para a Polônia, elevando o número total de reforços enviados para a Europa nas últimas semanas para cerca de 5 mil. O país informou que não têm intenção de enviar tropas para a Ucrânia, que não é membro da Otan.
Biden e líderes europeus alertaram que a Rússia sofreria sérias consequências, incluindo sanções, caso Putin avance com uma invasão. Mas isso não impediu a Rússia de continuar reforçando suas posições militares. No final de 2021 e início de 2022, imagens de satélite revelaram novos desdobramentos russos de tropas, tanques, artilharia e outros equipamentos surgindo em vários locais, incluindo próximo ao leste da Ucrânia, Crimeia e Belarus, onde suas forças estavam participando de exercícios conjuntos com o aliado internacional mais próximo de Moscou.
Apesar de receber financiamento, treinamento e equipamentos dos EUA e de outros países membros da Otan, especialistas dizem que a Ucrânia seria significativamente superada pelas forças armadas da Rússia, que foram modernizadas sob a liderança de Putin. Se uma guerra total eclodir entre os dois países, dezenas de milhares de civis podem morrer e até 5 milhões de pessoas podem se tornar refugiados.
O que Putin quer?
Putin conseguiu aumentar a pressão sobre o Ocidente por meses sem nunca disparar um tiro ou atravessar um tanque através de sua fronteira com a Ucrânia.
Moscou foi acusada de se envolver em guerra híbrida contra a Ucrânia, usando ataques cibernéticos, pressão econômica e propaganda para aumentar as tensões. As intenções do Kremlin permaneceram em grande parte um mistério. Putin deixou claro, porém, é que ele vê a expansão da Otan para o leste como uma ameaça existencial para a Rússia.
Em dezembro, Putin apresentou aos EUA e à Otan uma lista de exigências de segurança. A principal delas é a garantia de que a Ucrânia nunca entrará na Otan e que a aliança reduza sua presença militar na Europa Oriental e Central – propostas que os EUA e seus aliados disseram repetidamente não serem iniciais.
As negociações de alto nível entre o Ocidente e a Rússia terminaram em janeiro sem nenhum avanço. O impasse deixou os líderes europeus envolvidos em um frenesi de diplomacia, explorando se um canal de negociação estabelecido entre França, Alemanha, Rússia e Ucrânia para resolver o conflito no leste da Ucrânia – conhecido como as negociações do Formato da Normandia – poderia fornecer um caminho para acalmar a crise atual.
Em uma entrevista coletiva com o novo chanceler alemão Olaf Scholz em 16 de fevereiro, Putin repetiu alegações infundadas de que a Ucrânia está realizando um “genocídio” de pessoas que falam russo na região de Donbas e pediu que o conflito seja resolvido através do progresso da paz em Minsk. ecoando uma retórica semelhante que foi usada como pretexto para anexar a Crimeia.
Moscou e Kiev continuam em desacordo sobre os principais elementos do acordo de paz assinado em 2015. O presidente ucraniano Volodymyr Zelensky afirmou recentemente que não gosta de nenhum ponto dos acordos de Minsk, que exigem diálogo sobre eleições locais em duas regiões separatistas apoiadas pela Rússia em leste do país e – embora não esteja claro em que sequência – também restauraria o controle do governo ucraniano sobre suas fronteiras orientais. Críticos dizem que o acordo pode dar a Moscou uma influência indevida sobre a política ucraniana.
Putin respondeu em termos contundentes, dizendo que, independentemente de Zelensky gostar do plano, ele deve ser implementado. “Goste ou não goste, é seu dever”, disse Putin em entrevista coletiva ao lado do presidente francês Emmanuel Macron. Zelensky, um ex-comediante e estrela de TV, venceu as eleições de 2019 com uma vitória esmagadora nas promessas de acabar com a guerra em Donbas, mas pouco mudou.
Qual a posição da Ucrânia?
O presidente Zelensky subestimou repetidamente o perigo de uma invasão russa, observando que a ameaça existe há anos e não se tornou maior nos últimos meses. É um clima semelhante em Kiev, onde os ucranianos continuaram realizando seus negócios diários, apesar das advertências internacionais e de governos estrangeiros retirarem seus funcionários diplomáticos da capital.
O governo da Ucrânia insistiu que Moscou não pode impedir Kiev de construir laços mais estreitos com a Otan, ou interferir em sua política interna ou externa. “A Rússia não pode impedir a Ucrânia de se aproximar da Otan e não tem o direito de opinar em discussões relevantes”, disse o Ministério das Relações Exteriores em nota à CNN.
As tensões entre os dois países foram exacerbadas pelo aprofundamento da crise energética ucraniana que Kiev acredita que Moscou tenha provocado de forma proposital. A Ucrânia vê o controverso oleoduto Nord Stream 2 – que conecta o fornecimento de gás russo diretamente à Alemanha – como uma ameaça à sua própria segurança.
O Nord Stream 2 é um dos dois oleodutos que a Rússia colocou no leito d’água no Mar Báltico, além de sua tradicional rede de oleodutos terrestres que atravessa a Europa Oriental, incluindo a Ucrânia. Kiev vê os oleodutos na Ucrânia como um elemento de proteção contra uma invasão da Rússia, já que qualquer ação militar poderia interromper o fluxo vital de gás para a Europa.
É apenas um dos inúmeros desafios que o governo de Zelensky enfrenta. O ex-ator, que interpretou um presidente na televisão ucraniana, teve um brutal batismo de fogo na política do mundo real desde que assumiu o cargo em 2019.
A popularidade de seu governo estagnou em meio a vários desafios políticos domésticos, incluindo uma recente terceira onda de infecções por Covid-19 e uma economia em dificuldades.
Muitos ucranianos estão insatisfeitos porque o governo não cumpriu as promessas que o levaram ao poder, incluindo reprimir a corrupção no sistema judicial do país. Mas a preocupação mais urgente é o fracasso até agora de Zelensky de trazer a paz ao leste do país.
Em meio a advertências de líderes ocidentais de uma invasão russa “a qualquer dia”, o presidente ucraniano declarou 16 de fevereiro como o Dia Nacional da Unidade, insistindo que a Ucrânia não foi intimidada por “nenhum inimigo” e seria capaz de “se defender”.