Prime Time

seg - sex

Apresentação

Ao vivo

A seguir

    Cubanos tentam aproveitar reabertura para sair do país

    Durante grande parte da pandemia de Covid-19, as fronteiras de Cuba ficaram fechadas, tornando as viagens internacionais quase impossíveis

    Patrick Oppmannda CNN , Havana, Cuba

    Horas antes de os escritórios da companhia aérea abrirem de manhã, centenas de cubanos esperam na fila, na esperança de conseguir uma rara passagem para sair da ilha.

    Para muitos cubanos, a espera é apenas o começo de uma longa e muitas vezes perigosa jornada para os Estados Unidos.

    Durante grande parte da pandemia de Covid-19, as fronteiras de Cuba ficaram fechadas, tornando as viagens internacionais quase impossíveis.

    Mas, à medida que a ilha se reabre para o mundo exterior e os cubanos lidam com o agravamento da escassez de alimentos e medicamentos, o impacto das sanções econômicas mais pesadas dos EUA e a repressão do próprio governo após protestos inéditos em julho, muitos dizem que estão se preparando para deixar sua terra natal para sempre.

    Em meio às multidões do lado de fora dos escritórios de companhias aéreas no centro de negócios de Havana, um homem que se descreve como “facilitador” chamado Sérgio (que não quis dar seu sobrenome dada a natureza do serviço que vendia) se ofereceu para usar seus contatos para ajudar as pessoas a cortar as longas filas em troca de “uma porcentagem” do preço da passagem.

    “A maioria dessas pessoas não vai voltar”, disse Sergio à CNN, acrescentando: “Talvez alguns estejam indo para a Nicarágua para fazer compras, mas a maioria está emigrando”.

    O êxodo é complicado porque a maioria dos países exige que os cubanos obtenham um visto. A pandemia só complica a situação. Para entrar nos Estados Unidos, os cubanos devem ter um comprovante de vacinação com uma vacina aprovada pela FDA ou que tenha recebido a aprovação de emergencial da Organização Mundial de Saúde. São vacinas às quais a maioria dos cubanos da ilha não tem acesso.

    Cuba ainda está em processo de certificação na OMS da vacina desenvolvida no próprio país. Isso significa que os cubanos com visto para os Estados Unidos ainda não podem viajar legalmente para lá sem primeiro serem vacinados em um terceiro país.

    Em novembro, a Nicarágua, aliada próxima da ilha, dispensou a exigência de visto, o que significa que qualquer cubano com dinheiro pode comprar uma passagem e viajar para lá para depois, acredita-se, tentar chegar na fronteira EUA-México.

    O governo da Nicarágua disse que está abrindo as portas aos cubanos para estimular o comércio, o turismo e a reunião das famílias cubanas.

    Os críticos dos governos socialistas de Cuba e da Nicarágua os acusam de tentar provocar uma crise migratória (como a que ocorreu na ilha nas décadas de 1980 e 90) que permitiria a saída de milhares de cubanos, cansados da instabilidade econômica da ilha.

    “O governo Biden deve responder rapidamente e abordar isso pelo que é, ou seja, um ato hostil”, disse o senador republicano Marco Rubio, da Flórida, em um comunicado.

    Uma odisseia global

    Depois que o governo da Nicarágua anunciou que estava retirando a exigência de visto, os preços das passagens da companhia aérea Copa Airlines (que voa de Havana para a capital da Nicarágua, Manágua, via Cidade do Panamá) dispararam. Na quarta-feira (15), a Conviasa, companhia aérea nacional da Venezuela, também aliada de Cuba, começou a operar voos diretos de Havana para Manágua, capital da Nicarágua.

    Não está claro quantos cubanos viajarão para o país visando chegar nos Estados Unidos. Em outubro (antes da mudança), 5.870 migrantes cubanos foram levados sob custódia pela Alfândega e Proteção de Fronteiras dos EUA ao longo da fronteira com o México. Foi o maior número em mais de dois anos.

    Embora seja mais cara do que muitos cubanos podem pagar, a rota pela Nicarágua será muitíssimo mais barata e direta do que aquelas escolhidas por muitos cubanos que deixaram a ilha durante a pandemia.

    Um cubano que pediu que a CNN o chamasse de Miguel em vez de seu nome verdadeiro por questões de segurança cruzou a fronteira dos Estados Unidos com o México em setembro para se reunir com a família no Texas.

    Foi uma odisseia que o levou quase ao redor do mundo.

    “Fui para Moscou porque naquele momento não havia voos diretos para o México”, contou Miguel. “Fiquei três dias em Moscou. De lá fui para a Cidade do México via Turquia. Passei dois dias na Cidade do México, daí algumas pessoas que conheço me levaram para Mexicali e de lá cruzei a fronteira (para os Estados Unidos)”, relatou.

    Outros cubanos detalharam viagens semelhantes nas redes sociais.

    A Rússia é um dos poucos países que não exige que os cubanos obtenham visto, por isso alguns cubanos usam a rota como forma de cruzar para outros países da Europa, com o objetivo final de chegar aos Estados Unidos.

    Mas, nas últimas semanas, a Rússia aparentemente começou a barrar os cubanos usando a isenção de visto para viajar a terceiros países.

    Em dezembro, um grupo de 71 cubanos teve sua entrada negada na Rússia e foi mandado de volta à ilha por “não atender aos requisitos de turistas”, segundo um comunicado do consulado cubano em Moscou.

    Em fotos postadas nas redes sociais por membros do grupo, eles aparecem amontoados e dormindo no banheiro do aeroporto enquanto aguardam o voo de volta para Cuba.

    Ao mesmo tempo, os cubanos tentam cada vez mais a perigosa travessia marítima do Estreito da Flórida, que conecta o Golfo do México ao Oceano Atlântico.

    A Guarda Costeira dos EUA flagrou 838 cubanos no mar em 2021, contra 49 no ano anterior. Desde outubro, 410 cubanos foram interditados na travessia.

    No sábado, a Patrulha de Fronteira cubana informou que resgatou 23 pessoas e recuperou os corpos de outras duas que tentaram deixar a ilha em um barco lotado.

    Autoridades cubanas culparam o governo dos Estados Unidos pelo aumento da imigração ilegal depois que o então governo Trump encerrou os serviços de visto na Embaixada dos Estados Unidos em Havana em 2017. O fechamento aconteceu após casos de doenças ainda inexplicáveis que afetaram diplomatas norte-americanos que trabalhavam na ilha.

    Para Carlos Fernandez de Cossio, o principal diplomata cubano para assuntos dos EUA, o governo Biden ainda precisa se envolver com Cuba nas questões de migração.

    “O fato é que os Estados Unidos não cumprem seus compromissos nos acordos migratórios”, disse o diplomata à CNN na quarta-feira (15). “Essa realidade está criando problemas que não são benéficos para nenhum dos dois países”.

    Um porta-voz do Departamento de Estado dos EUA disse à CNN que eles estão “comprometidos com a migração segura, ordeira e regular de cidadãos cubanos para os Estados Unidos” e que a pandemia “forçou” o departamento a tomar “decisões difíceis” na maneira como prioriza os serviços consulares.

    O porta-voz também disse que eles estão revisando os planos para aumentar o quadro de funcionários da Embaixada dos Estados Unidos em Havana e que são “compreensivos” com os desafios financeiros e outros que os cubanos enfrentam ao solicitar vistos.

    “A falta de esperança é um dos principais motores da migração irregular nas Américas, e isso inclui Cuba também”, acrescentou o porta-voz. “É por isso que apoiamos os desejos dos cubanos por liberdade e respeito aos seus direitos humanos, bem como por maiores oportunidades econômicas para que eles possam levar uma vida bem-sucedida em seu país”.

    Jennifer Hansler, da CNN, contribuiu para esta reportagem.

    Tópicos