Cruz Vermelha alerta que crise de Covid-19 pode levar a uma nova onda migratória
Para Jagan Chapagain, muitas pessoas na pobreza enfrentaram a escolha desesperada de arriscar se expor ao vírus ou morrer de fome

O líder da Cruz Vermelha alertou, em uma entrevista à agência de notícias France-Presse, que os danos econômicos causados pela pandemia do novo coronavírus podem levar a grandes novas ondas migratórias.
Jagan Chapagain, líder da Federação Internacional das Sociedades da Cruz Vermelha e do Crescente Vermelho (IRFC), disse que muitas pessoas na pobreza enfrentaram a escolha desesperada de arriscar se expor ao vírus ou morrer de fome.
“Cada vez mais vemos em muitos países os impactos nos meios de subsistência e na situação alimentar”, afirmou ele em Genebra nessa quarta-feira (22).
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“O que ouvimos é que muitas pessoas que estão perdendo seus meios de subsistência, assim que as fronteiras começarem a se abrir, vão se sentir obrigadas a se mover”, disse Chapagain. “Não devemos nos surpreender se houver um impacto massivo na migração nos próximos meses e anos.”
Chapagain, que é do Nepal, contou à Agência France Presse que mais migração motivada por desespero poderia resultar em mais tragédias, assim como mais mortes no mar. Ele destacou ainda a necessidade econômica e moral de ajudar aqueles que mais precisam.
“O custo de ajudar os imigrantes, durante a travessia e, claro, quando eles chegarem ao país de destino, vai muito além de ajudar as pessoas quanto aos meios de subsistência, educação e saúde em seus próprios países”, afirmou.
Desigualdade
Chapagain também alertou que as desigualdades no acesso à saúde poderiam levar a mais migração. “As pessoas podem sentir que há uma chance melhor de sobreviver do outro lado do mar”, disse ele, acrescentando “a disponibilidade de vacinas” como outro fator.
“Se as pessoas virem que a vacina está, por exemplo, disponível na Europa, mas não na África, o que vai acontecer? Elas vão querer ir para um lugar onde haja vacinas”, afirmou Chapagain. Ele criticou os esforços de alguns países para garantir o fornecimento de vacinas para seus próprios povos primeiro.
“O vírus cruza a fronteira, então é egoísta pensar que eu vacino o meu povo, mas deixo todos os outros sem vacina, e estaremos seguros”, disse ele. “Simplesmente não faz sentido.”