Crise política no Peru afeta crescimento do país
Instabilidade do governo do socialista Pedro Castillo provoca reflexos no país; inflação é um dos principais problemas
Professores, operários, indígenas. Esses grupos se uniram para protestar contra o aumento no custo de vida, no Peru. Caminhoneiros fecharam estradas para chamar a atenção do governo para o reajuste no valor do combustível, que foi de 3,5% nos primeiros cinco meses deste ano. Em diferentes partes do país, manifestantes entraram em confronto com a polícia.
O clima de instabilidade política instaurada no governo do presidente socialista Pedro Castillo pesa no crescimento do país. Desde que tomou posse, em julho do ano passado, ele já trocou quatro vezes os ministros de seu gabinete, alegando necessidade de renovação.
Castillo é acusado pelos opositores, no Congresso, de corrupção por suposto tráfico de influência para favorecer empreiteiras em obras públicas. Ele nega e diz que o Peru passa por uma crise institucional. A oposição também acusa Castillo de mentir em investigações. Em apenas oito meses de mandato, o líder peruano já sofreu duas tentativas de impeachment.
No meio da briga com a oposição, o presidente apresentou propostas para melhorar a gestão, mas o resultado ainda não é sentido pela população.
“Pedro Castillo tem menos de 20% do controle do Parlamento. A crise está anunciada: pouco apoio popular e grande resistência parlamentar às suas propostas de ampliação do poder do estado no Peru”, explica Leandro Trevisan, professor de Relações Internacionais da ESPM.
Este é mais um capítulo de uma situação que os peruanos já viram outras vezes. Um dos episódios mais marcantes aconteceu em abril de 1992, quando o então presidente Alberto Fujimori –que havia sido eleito dois anos antes– dissolveu o Congresso Nacional, suspendeu a Constituição e fechou a Suprema Corte de Justiça. O chamado autogolpe de Fujimori o manteve no poder por mais oito anos, em um período marcado pelo assassinato de opositores e corrupção.
Fujimori foi julgado por crimes contra a humanidade, improbidade administrativa e corrupção, e pegou pena máxima do país: 30 anos. O fim do regime de Alberto Fujimori, no ano 2000, não significou a volta de uma democracia saudável no Peru.
Desde então, o país teve nove presidentes: três deles estão presos por causa de atos de corrupção envolvendo a empreiteira brasileira Odebrecht e outro ex-presidente, Alan Garcia, também acusado de corrupção, cometeu suicídio.
Crise econômica
Hoje, a crise econômica é o que preocupa o país. Agora em 2022, a inflação no Peru sobe a um ritmo acelerado, que ultrapassa 1% ao mês. Algo que não se via desde 1997.
O casal Johnny e Kelly Sánchez Sierra, que vivem na região central de Lima, tiveram que vender o carro e abriram mão do plano de saúde privado da família. Se a economia não melhorar, eles pensam até em deixar o país.
“Muitos amigos saíram do país buscando melhores oportunidade para eles e para os seus filhos. E nós também estamos avaliando essa possibilidade”, diz Kelly Sánchez Sierra, designer de interiores.
Para a economista peruana Ana Reategui o presidente socialista Castillo enfrenta um dos piores cenários políticos e econômicos do país, desvalorizando a moeda local e elevando preços de produtos básicos.
“Altas taxas de inflação, estimativas de crescimento de produto caindo e, sobretudo, muitas incertezas em relação para este ano e também para 2023, que todos pensamos que seria um ano muito mais calmo e hoje não temos tanta certeza”, avaliou a economista.
Os problemas econômicos que o Peru enfrenta hoje são muito parecidos com os de outros vizinhos sul-americanos. Um deles é a dependência excessiva da exportação de matéria-prima.
O país tem uma importante produção de zinco e cobre, fundamentais para a indústria. A mineração representa pouco mais de 14% da economia. O problema é que o faturamento com a venda de commodities oscila conforme a cotação no mercado internacional.
A esperança é que a produção industrial continue no caminho para voltar aos padrões pré-pandemia. Tanto o zinco quanto o cobre têm batido recordes de valor na cotação internacional por causa do reaquecimento da demanda.
Para a economista Anapaula Davila, a retomada da economia passa pela estabilização política do país. “É uma divisão da população, é uma divisão das lideranças que leva a uma fragmentação que faz com que o país fique atrasando as decisões. Então, o país não tem tranquilidade. Não tem a menor dúvida que tanta instabilidade afasta o capital”, explicou.