Crise climática: entenda por que o mundo está mais quente
Assunto será discutido por líderes de mais de 40 países na Cúpula do Clima, a partir desta quinta-feira (22)


Como o mundo chegou à esta crise climática? Quanto o planeta está esquentando e quanto disso é causado pelos humanos?
Se você ainda tem dúvidas como essas, confira aqui os fatos que ajudam a respondê-las e fique por dentro dos principais assuntos que devem predominar durante a Cúpula de Líderes sobre o Clima, que começa nesta quinta-feira (22).
Dióxido de carbono e o efeito estufa
O dióxido de carbono (CO2) é chamado de “gás de efeito estufa” por causa de sua capacidade de reter a radiação solar na atmosfera da Terra como um cobertor e aquecer o planeta, agindo da mesma forma que uma estufa mantém as plantas aquecidas e em crescimento.
O CO2 está presente de forma natural na atmosfera e, sem ele, o planeta seria muito frio para suportar vida. Mas a atividade humana, como a queima de combustíveis fósseis para obter energia, elevou o gás a níveis perigosos, aumentando a espessura desse cobertor a ponto de a Terra esquentar.
Cientistas estimam que antes da Revolução Industrial, os níveis variavam naturalmente, mas nunca ultrapassaram 300 partes por milhão (ppm) em nenhum momento nos últimos 800 mil anos.
Em 1958, quando as medições começaram, foram registrados 330 ppm. Atualmente, segundo a Agência Americana Oceânica e Atmosférica (NOAA), a concentração de CO2 na atmosfera é de aproximadamente 400 ppm.
Além de serem mais altos do que em qualquer ponto da história humana, a taxa em que esses níveis aumentaram mostra que os humanos são a causa.
Durante as variações naturais no passado distante, a quantidade de dióxido de carbono levou milhares de anos para mudar. Agora, a ação humana aumentou os níveis em menos de um século.
Quanto o planeta está esquentando?
Cientistas têm medido as temperaturas ao redor do globo de forma confiável desde 1850 e várias instituições governamentais e acadêmicas independentes – NOAA, Nasa, Agência Meteorológica do Japão, UK Met Office, entre outras – rastreiam esses dados para nos fornecer as temperaturas médias globais.
As agências usam métodos diferentes e trabalham separadamente, mas todos esses conjuntos de dados dizem a mesma coisa: o planeta está esquentando e quase todo ano está mais quente do que quase todos os anos anteriores.
Os últimos cinco anos foram os cinco mais quentes desde 1850 e 18 dos 19 anos mais quentes ocorreram desde 2001. A tendência de aquecimento aumentou rapidamente desde os anos 1970.
A temperatura média global aumentou pouco mais de 1 grau Celsius desde a década de 1880. Isso nos coloca a mais de dois terços do caminho até o limite de aquecimento de 1,5 graus Celsius que foi estabelecido no Acordo Climático de Paris, em 2015.
Embora 1 grau Celsius possa não parecer muito, essa diferença desequilibra vários processos da Terra. Os humanos prosperaram em uma temperatura global consistente e agora ela está mudando. Pense na temperatura do seu corpo: quando você tem febre de 38 graus ou mais, isso significa que algo não está certo e tem um efeito.

Derretimento do gelo polar
A mudança climática ocorre com mais rapidez nas regiões polares da Terra, onde as temperaturas sobem duas vezes mais rápido que o planeta como um todo.
Isso está causando grandes mudanças na paisagem polar – ou seja, o derretimento do gelo nos oceanos e nas camadas de gelo da Groenlândia e da Antártica.
A cada década, há cerca de 13% menos cobertura de gelo. O volume do gelo marinho é menos da metade do que era há 20 anos.
O impacto da falta de gelo fica evidente em lugares como o Alasca, onde tem aumentado a morte de peixes e animais e as inundações costeiras.
De acordo com a Nasa, a Groenlândia está perdendo cerca de 286 bilhões de toneladas de gelo por ano, enquanto a Antártica retalha cerca de 127 bilhões de toneladas de gelo. Ambos os mantos de gelo mostraram taxas crescentes de perda na última década.
Aumento do nível do mar
O impacto mais generalizado das mudanças climáticas é o aumento do nível do mar em todo o mundo.
Uma combinação de placas de gelo derretidas, geleiras e uma expansão da água à medida que aquece fez com que o nível médio global do mar subisse mais de 20 centímetros desde 1900, com quase metade desse aumento ocorrendo nos últimos 25 anos.
As projeções mostram que os oceanos aumentarão em média de 0,3 a 1,2 metros em todo o globo até 2100, o que exporia de 30 a 60 milhões de pessoas em todo o mundo a inundações, supondo que o aquecimento global vai se manter em 1,5 grau Celsius.
Mas não é preciso esperar até 2100 para ver os impactos da elevação do nível do mar. As comunidades no sul da Flórida já estão inundando muitas vezes por ano durante as marés altas diárias e estão lutando com os custos desse problema.
Aquecimento dos oceanos
Os oceanos do mundo estão se aquecendo a um ritmo acelerado. O oceano é a “memória das mudanças climáticas” – cerca de 93% do desequilíbrio energético da Terra acaba no oceano.
Eles passaram por mudanças consistentes desde o final dos anos 1950 e ficaram muito mais quentes desde 1960, com 2018 sendo o ano mais quente já registrado, seguido por 2017 e, em seguida, 2015.
Águas mais quentes levam a um aumento nas chuvas, levando a tempestades mais duradouras e intensas, furacões mais fortes, inundações costeiras perigosas e perda de gelo marinho.
Se os humanos não fizerem nada para mitigar a mudança climática, o aquecimento na parte superior do oceano será seis vezes maior em 2081-2100 do que o aquecimento total do oceano nos últimos 60 anos, estimam os pesquisadores.
Impactos da crise climática na saúde
A crise climática pode “interromper e reverter” o progresso feito na saúde humana no século passado, dizem os especialistas.
O aumento das temperaturas globais pode levar a muito mais mortes do que as 250 mil por ano entre 2030 e 2050 que a Organização Mundial da Saúde (OMS) previu há apenas cinco anos.
As temperaturas mais altas trazem mais doenças transmitidas por insetos e casos de malária, diarreia, estresse por calor, defeitos cardíacos e desnutrição.
Escassez de alimentos
Cerca de 1% das calorias dos alimentos já foram perdidas na produção global de alimentos devido ao aumento das temperaturas. Isso significa uma grave perda de nutrientes alimentares para cerca de 50 milhões de pessoas.
Os níveis crescentes de CO2 também tiveram um impacto negativo sobre o valor nutricional de certas culturas, como o arroz, e a crise climática reduziu o rendimento delas.
Também impactou negativamente o desenvolvimento floral, fazendo com que os polinizadores – abelhas e borboletas – que dependem desse pólen sejam ameaçados pela crise climática.
(Texto traduzido; leia o original em inglês)