Crianças que comiam pizza são vítimas de ataques de míssil da Rússia na Ucrânia
Ataque foi em Kramatorsk, cidade no leste da Ucrânia e que está a apenas 25 quilômetros da linha de frente da guerra
Era hora do jantar e o restaurante – uma popular pizzaria no centro de Kramatorsk – estava lotado de gente. Pouco depois das 19h30 de terça-feira (27), um míssil russo atingiu o local, matando pelo menos 10 pessoas. Para milhões em todo o país, o ataque foi mais um lembrete da terrível realidade da vida na Ucrânia.
As autoridades disseram que três adolescentes, incluindo uma menina de 17 anos e as irmãs gêmeas Yulia e Anna Aksenchenko, de 14, estavam entre os mortos no ataque. Pelo menos 61 pessoas, entre elas um bebê, ficaram feridas no ataque, disseram os Serviços de Emergência do Estado, alertando que o número de vítimas pode aumentar nas próximas horas.
O ataque – o mais mortífero contra civis em meses – ocorre no momento em que a Rússia emerge de uma grande crise provocada por um levante de curta duração liderado por Yevgeny Prigozhin, chefe do grupo mercenário Wagner. Prigozhin chegou a Belarus na terça-feira, depois de encenar o que foi o maior desafio à autoridade do presidente da Rússia, Vladimir Putin.
Equipes de resgate ainda estão vasculhando os escombros, depois de terem que interromper temporariamente o trabalho na noite de terça-feira por causa de outro alarme de ataque aéreo.
O povo de Kramatorsk já conhece os ataques russos. A cidade do leste da Ucrânia fica a cerca de 25 quilômetros da linha de frente, de acordo com as avaliações do Instituto para o Estudo da Guerra sobre a situação atual no terreno.
Mas, apesar da proximidade com os combates, Kramatorsk continua sendo uma cidade movimentada. A área ao redor do Ria Lounge, o restaurante atingido, é um local particularmente concorrido com um movimentado prédio dos correios, uma joalharia, um café e uma farmácia, tudo a dois passos do Ria. Um dos maiores supermercados de Kramatorsk fica na mesma rua.
Por estar tão perto dos combates, a cidade é popular entre os soldados que buscam um pouco de descanso da luta.
Um soldado ucraniano que ajudava nos esforços de resgate disse à CNN que as vítimas que ele viu eram “principalmente jovens, militares e civis; há crianças pequenas”. O soldado, que pediu para ser identificado apenas por Alex, disse que havia um banquete para 45 pessoas em um dos restaurantes quando ocorreu o ataque e que atingiu “bem no centro do café”.
O presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky, chamou o ataque de “manifestação de terror”. “Cada manifestação de terror prova repetidamente para nós e para o mundo inteiro que a Rússia merece apenas uma coisa como resultado de tudo o que fez – derrota e um tribunal, julgamentos justos e legais contra todos os assassinos e terroristas russos”, ele disse.
Pavlo Kyrylenko, chefe da administração militar da região de Donetsk, disse que o ataque usou Iskanders – mísseis balísticos de alta precisão e curto alcance.
O chefe de política externa da União Europeia, Josep Borrell, ecoou as palavras de Zelensky na quarta-feira (28). “Em outra demonstração do terror que a Rússia está impondo aos civis ucranianos, um míssil de cruzeiro russo atingiu um restaurante e um shopping center em Kramatorsk”, disse Borrell em um post no Twitter.
Kramatorsk tem sido alvo frequente de bombardeios desde que a guerra entre a Ucrânia e separatistas apoiados pela Rússia estourou no leste da Ucrânia em 2014. A cidade foi brevemente ocupada por separatistas em 2014, mas permaneceu sob controle ucraniano desde então.
O Serviço de Segurança Ucraniano alegou na quarta-feira que o ataque foi premeditado, dizendo que deteve um homem que supostamente vasculhou o restaurante e enviou um vídeo às Forças Armadas Russas antes do ataque na terça-feira.
O homem foi descrito pelos ucranianos como um “agente de inteligência russo” e um “regulador”.
“Para executar as instruções do inimigo, o agente do GRU fez uma gravação de vídeo secreta do estabelecimento e dos veículos estacionados nas proximidades. Então o suspeito encaminhou a filmagem para a inteligência militar russa”, disse o serviço em um comunicado no Telegram.
“Tendo recebido esta informação, os invasores russos dispararam contra o café com pessoas dentro”, acrescentou.
O Ministério da Defesa da Rússia afirmou na quarta-feira que o alvo do ataque com mísseis em Kramatorsk era “um posto de comando temporário” de uma unidade do exército ucraniano.
Separadamente, o porta-voz do Kremlin, Dmitry Peskov, disse a jornalistas que a Rússia “não ataca a infraestrutura civil” e os ataques são realizados “apenas em objetos conectados à infraestrutura militar”.
A frequência e a intensidade dos ataques aumentaram depois que a Rússia lançou sua guerra em grande escala contra a Ucrânia em fevereiro de 2022. Um ataque em particular gerou indignação internacional e levou a acusações de que a Rússia alvejava deliberadamente civis.
Em abril do ano passado, as forças russas realizaram um ataque com mísseis na estação ferroviária de Kramatorsk, que estava sendo usada para abrigar civis que fugiam dos combates. Mais de 50 pessoas, incluindo várias crianças, morreram naquele ataque, que foi chamado de “um aparente crime de guerra” pela Human Rights Watch e SITU Research.
De acordo com seu relatório, várias centenas de civis esperavam na estação quando “um míssil balístico equipado com uma ogiva de munição de fragmentação explodiu e lançou dezenas de bombas ou submunições”.
Fotos – Mercenários do Wagner se voltam contra Putin
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1 de 10Chefe da grupo militar privado Wagner, Yevgeny Prigozhin, deixando o quartel-general militar russo em Rostov-on-Don, no sudoeste da Rússia, após acordo para recuo das tropas. Imagem de 24/6/2023
Crédito: Reprodução/Reuters -
2 de 10Após deixar Rostov, paradeiro de Yevgeny Prigozhin é desconhecido. Ele deve entrar no território de Belarus
Crédito: 24/06/2023Imagem obtida de vídeo. Serviço de Imprensa da "Concord"/Divulgação via REUTERS -
3 de 10Mercenários do grupo russo Wagner em processo para deixar Rostov-on-Don
Crédito: 24/06/2023REUTERS/Stringer -
4 de 10Nova imagem com combatentes do grupo mercenário em Rostov-on-Don. Antes de recuar, eles ameaçaram invadir Moscou
Crédito: 24/06/2023REUTERS/Alexander Ermochenko -
5 de 10Combatentes do grupo Wagner em Rostov-on-Don, após recuarem da ameaça de invadir Moscou
Crédito: REUTERS/Stringer -
6 de 10Combatentes do grupo Wagner em Rostov-on-Don
Crédito: 24/06/2023REUTERS/Stringer -
7 de 10Combatentes do grupo mercenário russo Wagner ganharam perdão do governo russo para encerrar rebelião
Crédito: 25/06/2023REUTERS/Stringer -
8 de 10O presidente russo, Vladimir Putin, classificou os mercenários de traidores, mas depois recuou no acordo ao oferecer perdão
Crédito: Colaborador/Getty Images -
9 de 10Moscou chegou a montar barricadas na espera do ataque dos mercenários do Wagner, o que não ocorreu
Crédito: 24/06/2023 REUTERS/Stringer -
10 de 10Antes de recuar, Yevgeny Prigozhin , chefe do Wagner, disse ter 25 mil soldados junto com ele
Crédito: 08/04/2023REUTERS/Yulia Morozova
*Com informações de Mick Krever, Mariya Knight, Maria Kostenko, Ben Wedeman, Sarah El Sirgan, Yulia Kesaieva, James Frater, Katharina Krebs e AnneClaire Stapleton, da CNN.
