COP26 trabalhará em 3 eixos para produzir muitas ‘pequenas vitórias’
Ao contrário das cúpulas do clima anteriores, reunião em Glasgow não entregará um novo tratado ou uma 'grande vitória' contra mudanças climáticas


Será complexo fazer uma avaliação final do progresso alcançado nas duas semanas das negociações da COP26 em Glasgow. Ao contrário das cúpulas do clima anteriores, o evento não entregará um novo tratado ou uma “grande vitória”.
Em vez disso, tentará produzir uma grande número de pequenas vitórias – das negociações formais da ONU sobre o Acordo de Paris até novas promessas climáticas que países, empresas e investidores anunciarão durante a conferência.
Seu sucesso será julgado, então, pela possibilidade de todos manterem viva a meta de limitar o aumento da temperatura global em 1,5 °C.
A lacuna é enorme. Os cientistas dizem que limitar o aquecimento global a 1,5 °C exigiria que as emissões globais despencassem 45% em 2030 em relação aos níveis de 2010 e chegassem a zero em 2050. Com os compromissos atuais dos países, porém, as emissões devem subir 16% até 2030.
Assim, a COP26 usará três eixos para tentar conduzir o mundo em direção ao limite de 1,5 °C.
Ambições
Primeiro, elaborará um plano de como os países poderão acelerar suas promessas de redução de emissões nos próximos anos.
A COP26 quase certamente não entregará promessas suficientes para colocar o mundo firmemente no rumo de 1,5 °C. Mas um acordo confiável para aumentar a ambição nos próximos anos poderia pelo menos mantê-la viva.
Dinamarca e Granada foram encarregadas de definir opções para isso, e o Reino Unido está considerando uma proposta que exigiria que os países voltassem com novas e mais ambiciosas promessas já em 2023.
Os anfitriões britânicos da conferência também traçam um conjunto de acordos paralelos sobre a eliminação gradual do carvão, veículos limpos e desmatamento. Isso poderia ajudar a atingir os objetivos do Acordo de Paris na ausência de novos compromissos dos maiores poluidores do mundo.
Finanças
O segundo mecanismo é o dinheiro. Os países ricos confirmaram na semana passada que não conseguiram cumprir a promessa de 2009 de aplicar US$ 100 bilhões anuais até 2020 em financiamento climático para ajudar as nações mais pobres a reduzir suas próprias emissões e construir sistemas resilientes para resistir ao agravamento de tempestades, inundações e outros impactos climáticos.
Isso alimentou a raiva e a desconfiança entre os países em desenvolvimento e minou os pedidos das nações ricas de que o mundo em desenvolvimento reduzisse as emissões mais rapidamente – o que exigiria enormes investimentos para descarbonizar tudo, desde usinas elétricas a fábricas, transporte e agricultura.
A COP26 precisará produzir um plano para garantir que os US$ 100 bilhões cheguem. Também iniciará negociações sobre uma nova meta de financiamento do clima para 2025 – e as regras para garantir que países ricos não possam evitar a distribuição do dinheiro.
Um bloco dos países mais vulneráveis ao clima também exige que Glasgow inicie negociações sobre o financiamento das chamadas “perdas e danos” – dinheiro para compensá-los pelos custos crescentes da mudança climática, desde efeitos sobre safras até a elevação do nível do mar.
O Reino Unido, anfitrião da COP26, também atraiu o setor privado e está alinhando promessas de bancos e investidores para destinar bilhões para investimentos limpos e preencher a lacuna deixada pelas doações atrasadas dos países ricos.
Analistas da Bernstein estimam que de US$ 2 trilhões a US$ 4 trilhões devem ser investidos em indústrias de baixo carbono a cada ano para que o mundo alcance zero emissões até 2050 – número muito superior aos US$ 79,6 bilhões que os países ricos ofereceram aos países pobres em financiamento climático em 2019.
Economistas concordam cada vez mais que o custo de não fazer nada – e de deixar a mudança climática avançar sem controle – seria muito mais alto.

Regulamentações
A terceira prioridade da COP26 é que os negociadores dos quase 200 países signatários do Acordo de Paris de 2015 concluam as regras de implementação do acordo.
Isso inclui discussões espinhosas sobre os mercados de carbono e como os países definirão no futuro as metas climáticas e questões financeiras.
“Paris foi a festa de noivado, mas agora estamos no casamento, esperando para ver se os principais países e empresas estão prontos para dizer ‘sim'”, disse a diretora do Greenpeace, Jennifer Morgan.