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    Contestação de Keiko pode fazer definição da eleição no Peru demorar semanas

    Keiko Fujimori pediu à Justiça Eleitoral a anulação de 940 assembleias de votos; decisão eleitoral pode demorar de duas a três semanas, dizem especialistas

    À esquerda o candidato de esquerda Pedro Castillo; à direita a conservadora Keiko Fujimori
    À esquerda o candidato de esquerda Pedro Castillo; à direita a conservadora Keiko Fujimori Foto: Colagem CNN

    Fernanda Pinotti, Juliana Alves e Layane Serrano, da CNN, em São Paulo 

    Nesta terça-feira (15) foi concluída a contagem dos votos que iria eleger o presidente do Peru. Pedro Castillo obteve o maior número, mas ainda não é considerado o vencedor, por causa de uma disputa acirrada entre os partidos de direita e esquerda do país.

    A candidata de direita, Keiko Fujimori, pediu à Justiça Eleitoral a anulação de votos. Segundo o jornalista peruano Hugo Coya, isso pode atrasar a decisão e ninguém sabe ao certo se em 28 de julho o governo do presidente do Peru, Francisco Sagasti, será encerrado.

    “A coisa está muito feia aqui no Peru. Em mais de 35 anos como jornalista, nunca vi uma coisa parecida. Essa disputa entre direita e esquerda está parando tudo, tem protestos nas ruas com participação também de lideranças indígenas. A Keiko Fujimori está fazendo a mesma tática que o Trump fez contestando as eleições. A contagem dos votos foi concluída e Castillo obteve o maior número deles, segundo dados oficiais, com uma diferença de pouco mais de 44 mil votos. A Keiko pediu à Justiça Eleitoral a anulação de 940 assembleias de voto (o equivalente a 230 mil votos), ou seja, para subtrair esses números da contagem oficial. Devido ao grande número de pedidos, isso pode levar de duas a três semanas. Enquanto isso, não haverá proclamação do vencedor”, explicou Coya à CNN.

    Pedro Castillo, se realmente eleito, será o primeiro presidente de esquerda em 44 anos no Peru, comentou Coya, que acredita que as chances da Keiko são poucas.

    “As chances de Keiko são duvidosas, porque ela não forneceu evidências concretas da fraude. Também não há histórico de fraude na história recente do país e observadores internacionais (incluindo a OEA) afirmaram que as eleições ocorreram sem grandes irregularidades.”

    Polarização política

    De acordo com Paulo Velasco, cientista político e professor de relações internacionais da  Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj), o Peru já vinha revelando um cenário de polarização desde antes das eleições, bem comum na América Latina, causado pela frustração com as instituições políticas de forma geral. 

    Desde as últimas eleições presidenciais, os peruanos viveram a renúncia de Pedro Pablo Kuczynski e o impeachament de Martín Vizcarra, que também são reflexos desse clima de desconfiança na política tradicional, gerado pelas suspeitas de corrupção.

    “Esse cenário alavanca as chances do Pedro Castillo, que não tem tradição na vida pública, e prejudica a Keiko, que já está na política há bastante tempo. No entanto, o “Fujimorismo” ainda é muito forte no Peru”, explicou o professor. 

    Segundo Velasco, a principal diferença entre Fujimori e Castillo está na matriz econômica. “Castillo representa a esquerda, mas traz o receio de ser pouco aceito internacionalmente. Ele tem planos de estatização, limitação e controle do capital internacional, e ao mesmo tempo um compromisso maior com as classes mais desassistidas do país. Esta política mais estatal preocupa o mercado financeiro e os bancos.”

    “Keiko é herdeira da tradição do pai dela. O pai deu uma guinada durante seu governo, adotando uma forte agenda neoliberal, mais ligada aos bancos.” 

    O professor destacou que, apesar de diversas divergências, os dois têm um ponto em comum: em relação à agenda social e nos costumes são bem conservadores. 

    Encontro no conservadorismo

    Arthur Murta, professor de relações internacionais da PUC-SP, também comentou que os dois polos se encontram no conservadorismo, mas com projetos de países diferentes.

    “O Pedro Castillo se define como esquerda provinciana. Ele é do campo, ele representa a esquerda campesina. Não é a esquerda como nós estamos mais acostumados. A verdade é que ele não é uma figura muito conhecida, mas ele defende um importante reforma educacional. Ele flerta com grupo anti-ideologia de gênero, contra casamentos igualitários. Ele representa uma esquerda que nem é tão comum mais na América Latina. O Peru é um país conservador, por isso o Castillo conquistou votos que nem são da esquerda. A Keiko, por sua vez, não tem pretensão de uma nova constituição. Ela fala quase abertamente sobre o favoritismo ao autoritarismo. Lembrando que ela é filha do ex-presidente Alberto Fujimori que está preso e ela sinalizou que daria o indulto ao pai.”

    Mesmo sendo eleito, Hugo Coya comenta que Castillo chega ao governo muito fraco com todo esse processo, ainda mais por não ter maioria no Congresso e atritos no partido.
    “O presidente do partido, Vladimir Cerrón, está proibido de tentar alguma função do governo, porque ele foi condenado por corrupção, mas agora está recorrendo à Justiça. Além disso, Pedro não tem maioria no Congresso. E já sabemos que, com essa disputa e falta de apoio, ele vai chegar ao governo muito fraco e isso não é bom para país.”

    Independentemente do vencedor, Coya afirmou que esta é uma das piores fases que o país está vivendo em sua história em pelo menos um século. Além da crise política, a área da saúde foi muito afetada por causa da pandemia e a situação econômica do país pode piorar.

    “O dólar explodiu e a bolsa caiu. Segundo analistas econômicos, o PIB, que tinha expectativa de crescer até o fim do ano, após a queda trágica do ano passado, pode piorar, porque já estão falando em uma perda de 2 pontos pelas incertezas das eleições.”