Prime Time

seg - sex

Apresentação

Ao vivo

A seguir

    Conheça o dragão de gelo da Patagônia que vive em geleiras que estão desaparecendo

    Inseto de pouco mais de 1,3 cm de comprimento é capaz de sobreviver em ambientes extremos, como água congelante ou fervente

    Ashley Stricklandda CNN

    Um pequeno e misterioso dragão vive no gelo da Cordilheira dos Andes, na América do Sul –e se você piscar, poderá perdê-lo. O dragão de gelo da Patagônia é um inseto com pouco mais de 1,3 cm de comprimento e vive nas geleiras.

    O campo de gelo do sul da Patagônia pode servir como uma impressionante reserva de água doce, mas os rios de gelo são um lugar difícil de se viver. O dragão da Patagônia, um tipo de mosca aquática, se adaptou para sobreviver nesta terra congelada. O dragão é o que os cientistas chamam de extremófilo, ou um organismo que pode viver em ambientes extremos.

    Esta mosca aquática é o único inseto que vive no campo de gelo da Patagônia, e todo o seu ciclo de vida ocorre no gelo. Existem duas espécies conhecidas de dragão de gelo, a Andiperla morenensis e a Andiperla willinki, mas pode haver outras a espera de serem encontradas.

    Essa é a extensão do que os cientistas sabem, disse o biólogo Isaí Madríz. Todo o resto é baseado em hipóteses ou especulações. Mas há mais perguntas do que respostas sobre o dragão de gelo.

    Pequeno, mas poderoso

    O tempo pode estar se esgotando para o dragão de gelo. O inseto diminuto está em perigo, porque a camada de gelo que ele chama de lar está derretendo rapidamente devido ao aquecimento global.

    Madríz está determinado a aprender tudo o que puder sobre o dragão e compartilhar esse conhecimento com outras pessoas, para entender melhor uma criatura rara que aprendeu a sobreviver em uma paisagem gelada e estéril há milhões de anos.

    Muitas vezes chamado de “detetive de insetos”, Madríz pesquisa a biodiversidade da Patagônia há anos. Além de ser o especialista mundial na mosca primitiva, ele investiga linhagens de insetos mal compreendidas.

    Durante suas expedições regulares ao campo de gelo, Madríz começou a coletar informações sobre suas observações do dragão de gelo e compartilhá-las com laboratórios que estudam a espécie na Argentina e no Chile.

    “Eu estava de bruços no gelo, avançando lentamente, olhando para os insetos e seguindo-os”, conta ele. “É como voltar a quando você é criança, olhar para os insetos e descobrir o que eles fazem”.

    O detetive de insetos

    Sua investigação valeu a pena. Até agora, Madríz conseguiu observar comportamentos desses insetos que só podem ser testemunhados em campo.

    Ele viu ovos de dragão de gelo de perto –uma raridade, já que os dragões de gelo jovens provaram ser difíceis de encontrar.

    “O incrível é que, uma vez que você começa a olhar para os ovos, eles se parecem com um pequeno camarão”, disse Madríz. “Você pode ver todo o organismo já desenvolvido”.

    Quando a fêmea do dragão de gelo põe os ovos, os filhotes de insetos já estão totalmente formados. Os cientistas ainda não sabem quanto tempo eles levam para emergir dos ovos, mas sua natureza invisível agora é compreendida –é porque os jovens dragões de gelo são translúcidos. No gelo, eles são impossíveis de se ver até que comecem a crescer e amadurecer e seus exoesqueletos se tornarem mais escuros.

    Fiordes e montanhas no Golfo do Corcovado, no Chile / Enrique Haag Rodriguez / CNN

    Madríz também aprendeu, por acaso, que os dragões de gelo podem resistir a outro extremo. Para preservar e estudar os espécimes, os cientistas geralmente os fervem brevemente em água, o que ajuda a manter a forma sem que os tecidos entrem em colapso.

    O especialista mergulhou três dragões de gelo em água fervente por cerca de 10 a 15 segundos e se virou para fazer outra coisa. Quando ele voltou, um dos dragões de gelo estava rastejando para fora da água.

    “Vamos descobrir que esta espécie é muito mais interessante do que pensávamos, porque você não vai do congelamento à água fervente e sobrevive, com exceção de algo como um tardígrado”, disse ele. Tardígrados microscópicos têm a capacidade de sobreviver e até prosperar nos ambientes mais extremos.

    Perguntas restantes

    Madríz espera que muitas respostas sobre o dragão de gelo sejam reveladas nos próximos anos. Ele quer descobrir como esses insetos optaram por fazer das geleiras suas casas, em vez da água, e depois se adaptaram a um estilo de vida único.

    Ele e seus colegas pesquisadores estão trabalhando duro para descobrir o funcionamento interno da espécie, incluindo como ela sobrevive no campo de gelo e o que come.

    Atualmente, há especulações de que o sangue do dragão de gelo contém glicerol, um anticongelante natural, mas as quantidades e se isso impede o congelamento do sangue do inseto são desconhecidas. Pesquisas futuras poderão contar a história.

    É possível que os dragões de gelo se alimentem de pequenas algas. Eles também podem comer outros insetos que vivem em vales próximos e que são levados pelo vento, pousando nas geleiras e morrendo. E os dragões de gelo são conhecidos por se alimentarem de crioconita, o pó fino no gelo feito de micróbios e outras pequenas partículas. Essa poeira levada pelo vento pode pousar nas geleiras e diminuir sua refletividade, o que pode facilitar o derretimento delas.

    “Quando você encontra o único [inseto] que pode viver naquele ambiente, então tem que ter algum impacto no meio ambiente”, disse Madríz.

    Ele quer iniciar um programa de reprodução em cativeiro nos próximos dois anos para ajudar a salvar esse inseto antes que seu ecossistema desapareça. Madríz espera que a conscientização sobre essa misteriosa criatura possa tornar sua conservação autossustentável. Contratar guias de campo para ensinar aos turistas sobre os dragões de gelo também pode ajudar a educar os viajantes que exploram as geleiras em extinção da Patagônia.

    Em vez de buscar selfies no gelo, os visitantes podem vir à procura do dragão de gelo e sair com uma compreensão de um ecossistema incrivelmente único, disse Madríz.

    Tópicos