Conheça a gangue por trás do sequestro de missionários americanos no Haiti
Grupo conhecido como "400 Mawozo" ganhou força nos últimos anos e já conta com mais de 150 membros
Acredita-se que uma das gangues mais poderosas do Haiti esteja por trás do sequestro de 17 missionários americanos e canadenses neste fim de semana, disse uma fonte das forças de segurança do país à CNN.
As autoridades acreditam que a gangue “400 Mawozo” sequestrou o grupo, que incluía 16 americanos e 1 canadense, depois que os missionários visitaram um orfanato no [ultimo sábado (16) em Croix des Bouquets, um subúrbio a nordeste da capital haitiana, Porto Príncipe.
Enquanto viajavam do orfanato para Titanyen, ao norte de Porto Príncipe, membros de gangue pararam o veículo sob a mira de uma arma. A gangue de 400 Mawozo tem crescido em força nos últimos três anos, chegando a 150 membros, e assumiu o controle de Croix des Bouquets, disse a fonte à CNN no domingo (17).
O sequestro é uma atividade marcante da gangue. Eles sequestraram dezenas de pessoas somente neste ano, incluindo estrangeiros, disse a fonte.
Uma vez conhecido por roubo de carros, o 400 Mawozo foi o pioneiro em sequestros “coletivos” de grandes grupos de vítimas em ônibus e carros, de acordo com o Centro de Análise e Pesquisa para os Direitos Humanos (Cardh), uma organização sem fins lucrativos com sede em Porto Príncipe.
Grande parte do aumento de sequestros no país se deve ao grupo, de acordo com a organização. Os membros de gangues se envolvem em confrontos quase diários com a polícia haitiana e até cobram impostos sobre as empresas locais.
Em setembro, a gangue sequestrou caminhoneiros da República Dominicana e continua a mantê-los como reféns em meio a negociações para sua libertação, disse a fonte da força de segurança haitiana.
Essas tratativas estão influenciando as decisões das autoridades sobre como proceder com os missionários americanos e canadenses sequestrados, acrescentou a fonte.
De acordo com o Centro, a maioria das vítimas da gangue são cidadãos haitianos e os sequestros aumentaram no Haiti este ano – com um aumento de quase 300% desde julho.
Pelo menos 628 sequestros ocorreram desde janeiro, incluindo 29 estrangeiros, segundo dados divulgados pelo centro. O 400 Mawozo normalmente exige resgates de cerca de US$ 20.000 (cerca de R$ 100 mil), disse.
Investigação em andamento
O Departamento de Estado dos EUA confirmou nesta segunda-feira (18) que 16 cidadãos norte-americanos estavam entre os 17 indivíduos sequestrados.
“O bem-estar e a segurança dos cidadãos americanos no exterior é uma das maiores prioridades do Departamento de Estado. Temos mantido contato regular com autoridades haitianas e continuaremos a trabalhar com elas e com parceiros interagentes”, disse um porta-voz do Departamento de Estado em um comunicado.
O Christian Aid Ministries, com sede em Ohio, divulgou um comunicado no domingo (17) confirmando o sequestro dos missionários e disse que o grupo sequestrado era composto por cinco homens, sete mulheres e cinco crianças.
“Estamos buscando a direção de Deus para uma resolução e as autoridades estão procurando maneiras de ajudar”, disse o comunicado.
Dan Hooley, ex-diretor de campo do Christian Aid Ministries no Haiti, disse à CNN no domingo que acredita-se que todos os missionários sequestrados estivessem em um veículo e que alguns puderam contatar o diretor local da organização antes de serem levados.
Os sequestradores também já fizeram contato com a organização, disse ele.
“Alguns companheiros imediatamente enviaram uma mensagem ao diretor e lhe contaram o que estava acontecendo”, Hooley disse.
Autoridades haitianas estão em contato com o Departamento de Estado dos EUA sobre o sequestro, disse o ministro das Relações Exteriores do país, Claude Joseph, à CNN.
Um dos missionários sequestrados, um cidadão americano, também postou um pedido de ajuda em um grupo do WhatsApp no momento do sequestro, informou o The Washington Post, citando uma pessoa familiarizada com a situação.
“Por favor, ore por nós !! Estamos sendo mantidos como reféns, eles sequestraram nosso motorista. Ore, ore, ore. Não sabemos para onde eles estão nos levando”, dizia a mensagem.
A CNN não pode verificar de forma independente a autenticidade desta mensagem.
De acordo com um alto funcionário dos EUA familiarizado com a situação, os integrantes do FBI e do Departamento de Estado não sabem a localização atual dos missionários sequestrados.
As autoridades canadenses também estão trabalhando com as autoridades locais e “ONGs implicadas” para coletar informações, disse uma porta-voz da Global Affairs Canada à CNN.
A CNN entrou em contato com o Ministério da Justiça haitiano e a Polícia Nacional, mas eles ainda não retornaram.
Sequestros indiscriminados
O ex-diretor de campo do Christian Aid Ministries Hooley disse que os membros do grupo deveriam estar cientes dos riscos que corriam.
“São pessoas muito dedicadas, pessoas que arriscaram suas vidas, sabiam dos perigos em que corriam, ou pelo menos sabiam do que poderia acontecer, tenho certeza”, disse ele.
Hooley acrescentou que conhecia várias das vítimas pessoalmente. “Dois deles são solteiros. Um ficou lá por um tempo, o outro é um amigo nosso que acabou de chegar na sexta-feira e planejava ajudar no terremoto do Haiti, a situação lá no sul. ”
“E há um jovem casal lá – um jovem casal com dois filhos que também foram sequestrados. Nós morávamos com ela (a mãe) no Oregon e conhecíamos sua família muito bem”, disse Hooley.
Os sequestros no Haiti costumam ser indiscriminados, com alvos tanto de cidadãos ricos quanto de pobres. Várias vítimas de sequestro e suas famílias disseram anteriormente à CNN que ainda estavam trabalhando para saldar dívidas, depois de pedir dinheiro emprestado a amigos, empregadores e até bancos para pagar resgates.
Em um caso que se tornou notório em todo o país, uma menina de 5 anos foi encontrada morta no início deste ano com sinais de estrangulamento. Sua mãe, uma vendedora de amendoim, disse à Reuters que não conseguiu pagar o resgate.
Pouco antes do sequestro dos missionários, um sindicato de transporte haitiano havia convocado uma greve por tempo indeterminado a partir de hoje para protestar contra o aumento da violência no país.
“Pedimos ao governo que ponha fim aos sequestros e nos dê segurança ou que renunciem imediatamente. Somos as mais vítimas; o setor de transportes é um alvo fácil para sequestradores de todo o país”, disse Méhu Changeux, presidente da a Associação de Proprietários e Motoristas do Haiti, disse à CNN.
“Perdemos muitos membros para a insegurança e dezenas de membros foram sequestrados. A última tragédia do sequestro dos missionários americanos mostra que ninguém está seguro neste país”, disse Changeux.
(Texto traduzido. Clique aqui para ler o original em inglês)