Conflito na Síria: Quem está lutando no país e por quê?
Facção de rebeldes ressurge e regime de Bashar al-Assad precisa pedir ajuda à Rússia e ao Irã
A nova coalização rebelde, batizada de Hayat Tahrir Al-Sham (HTS) — grupo formado a partir de um antigo afiliado da Al Qaeda — tomou duas cidades na Síria, Aleppo e Hama, e se encaminha para tomar a terceira, Homs.
A ofensiva trouxe a guerra civil no país de volta ao foco da comunidade internacional, “sacudindo” linhas de frente que estavam paralisadas há anos.
A renovação dos combates entre tropas do presidente Bashar al-Assad e opositores podem gerar implicações para a região e além.
Saiba abaixo quem são os grupos envolvidos no conflito da Síria.
O que está acontecendo?
Os rebeldes lançaram uma ofensiva em 26 de novembro, atacando áreas ao norte e noroeste de Aleppo. Eles invadiram a cidade em 29 e 30 de novembro, forçando a saída das forças governamentais.
É a primeira vez que o controle da cidade muda desde 2016, quando as forças governamentais, apoiadas pela Rússia e pelo Irã, derrotaram os rebeldes que dominavam os distritos orientais de Aleppo.
Os insurgentes pressionaram áreas ao sul e sudoeste de Aleppo, capturando território na província de Hama.
Mas o governo prometeu revidar. A Rússia, que enviou sua força aérea para a Síria em 2015 para ajudar Assad, está conduzindo ataques aéreos em apoio ao Exército sírio.
Isso marca a mais séria escalada do conflito em anos, se somando a um saldo de centenas de milhares de mortos desde 2011, quando a guerra se desenvolveu a partir de uma revolta da Primavera Árabe contra o governo de Assad.
Desde então, mais da metade da população pré-guerra, que era estimada em 23 milhões, foi forçada a deixar suas casas, com milhões fugindo para o exterior como refugiados.
Quem são os rebeldes?
O ataque foi iniciado pelo grupo Hayat Tahrir al-Sham. Anteriormente conhecido como Frente Nusra, era a ala oficial da Al Qaeda na guerra da Síria, até romper laços com o grupo terrorista, em 2016.
O HTS, liderado por Abu Mohammed al-Golani, tem sido há muito tempo a força dominante na região de Idlib, parte de uma área do noroeste onde os rebeldes mantiveram posição apesar dos ganhos de Assad em outros lugares.
Os Estados Unidos e a Rússia, Turquia e outros países o designam como um grupo terrorista.
Outra aliança rebelde lançou uma ofensiva separada em áreas ao norte de Aleppo. Esses insurgentes são apoiados pela Turquia e organizados sob a bandeira do Exército Nacional Sírio.
Por que o conflito se intensificou agora?
Embora a paz tenha permanecido distante, as linhas de frente do conflito não se alteraram por anos, com a Síria dividida em zonas onde potências estrangeiras têm tropas.
Rússia e Irã têm influência sobre áreas controladas pelo governo, a maior parte da Síria.
Os Estados Unidos têm forças no nordeste e leste do país, apoiando as Forças Democráticas Sírias lideradas pelos curdos. Já a Turquia tem tropas no noroeste controlado pelos rebeldes.
Mas o equilíbrio de poder regional foi abalado por mais de um ano de conflito entre Israel, Irã e os grupos que esse país apoia.
O Hezbollah, que é financiado pelo Irã, ajudou Assad a recuperar Aleppo em 2016, por exemplo. O grupo, em particular, sofreu golpes duros durante mais de dois meses de guerra com Israel no Líbano — agora, há um cessar-fogo entre as partes.
O Conselheiro de Segurança Nacional dos Estados Unidos, Jake Sullivan, disse à CNN que não é uma surpresa que os rebeldes tentem tirar vantagem de uma nova situação, nesse caso, com os principais apoiadores do governo sírio — Irã, Rússia e Hezbollah — “distraídos” e enfraquecidos por conflitos.
Sullivan se referia aos confrontos regionais no Oriente Médio e à guerra da Ucrânia.
Um acordo entre a Rússia e a Turquia estabilizou a situação no noroeste da Síria desde 2020, mas a Turquia expressou crescente frustração com o fracasso de Assad em chegar a um acordo com a oposição para encerrar o conflito.
Oficiais da área de Segurança turcos afirmaram que, enquanto seu país trabalhava para impedir as ofensivas rebeldes, eles estavam cada vez mais preocupados com os ataques das forças do governo sírio aos insurgentes.
O Ministro das Relações Exteriores Hakan Fidan pontuou que Assad e os rebeldes precisavam chegar a um acordo.
Uma das principais preocupações da Turquia na Síria é o poder detido pelos grupos liderados pelos curdos, que são aliados dos Estados Unidos, mas considerados terroristas por Ancara.
A agência de notícias estatal turca, a Anadolu, informou que o Exército Nacional Sírio — que, relembrando, é um grupo rebelde — havia tomado a cidade de Tel Rifaat da milícia curda YPG.
Tanto Rússia quanto Irã reiteraram seu apoio ao governo sírio.
Existe um plano de paz?
O Conselho de Segurança da ONU aprovou uma resolução em 2015 com o objetivo de acabar com a guerra, pedindo uma nova Constituição, eleições supervisionadas pela ONU e governança transparente e responsável.
Entretanto, a implementação não teve resultados.
O enviado da ONU para a Síria, Geir Pedersen, comentou que a escalada mostra uma falha coletiva em promover um processo político e pediu negociações substantivas para encontrar uma saída para o conflito.