Confira 5 possíveis falhas de segurança da empresa responsável pelo submarino Titan
Destroços do submersível Titan foram encontrados na quinta-feira (23) e indicam que a embarcação implodiu após perda de pressão na cabine
Os destroços do submersível Titan – que estava desaparecido desde domingo (18) após iniciar uma expedição até os destroços do Titanic – foram encontrados na quinta-feira (23) e indicam que a embarcação implodiu após perda de pressão na cabine.
A empresa responsável pelo submersível e pela expedição, a OceanGate Expeditions, passou a receber questionamentos sobre seus procedimentos de segurança e relatórios sobre problemas mecânicos, expedições canceladas e um suposto desrespeito aos processos regulatórios começaram a vir à tona.
A morte dos cinco passageiros do submersível foi confirmada pela Guarda Costeira em entrevista à imprensa. Estavam a bordo: o empresário britânico Hamish Harding; o mergulhador Paul-Henri Nargeolet; o empresário paquistanês Shahzada Dawood e seu filho, Sulaiman Dawood; e o CEO e fundador da OceanGate, Stockton Rush.
Embora não esteja claro o que causou a implosão, a OceanGate já havia recebido críticas sobre possíveis falhas de segurança. Confira cinco delas:
1. Fibras de carbono
A embarcação era composta de duas partes distintas: um casco feito de fibra de carbono, que deveria suportar a altíssima pressão existente a quatro quilômetros de profundidade no mar, e a cabine na qual ficam os passageiros. Na teoria, a cabine deveria estar protegida da pressão exercida pela água, pois esta seria suportada pelo casco.
O casco do Titan era feito principalmente de fibra de carbono — fibras de alta resistência que são mais leves, disse Doug “DJ” Virnig à CNN. Ele trabalhou no projeto por cerca de um ano em uma função operacional.
Em vídeos online, Rush explicou o design não convencional do Titan, que ele disse incluir fibra de carbono para aumentar a flutuabilidade da embarcação. Ela “nunca foi usada em um submersível tripulado antes”, afirmou em um vídeo no ano passado.
“Se você usa [fibra de carbono] em uma aplicação convencional, como na fuselagem de um avião, onde elas estão sob tensão, essa é uma aplicação convencional e conhecida para esse material. Mas sob compressão, as forças são exatamente opostas”, disse Virnig. “Essa é uma aplicação bastante experimental ou não convencional para esse material.”
O casco do Titan passou no teste ao qual foi submetido, com a pressão similar à encontrada na profundidade onde o Titanic está. A questão, porém, era como isso se manteria ao longo do tempo, pontuou Virnig.
“Se você fizer isso repetidamente, o que acontece?” ele disse. “Esses são os tipos de perguntas que, se você tem um longo programa de pesquisa e desenvolvimento, consegue responder. Mas se você realmente está indo além, não há tempo para isso — você vai responder a essas perguntas em tempo real.”
2. Espessura do casco
Pelo menos dois ex-funcionários da OceanGate, anos atrás, separadamente, também expressaram preocupações de segurança sobre a espessura do casco do Titan.
David Lochridge trabalhou como contratado independente para a OceanGate em 2015, depois como funcionário entre 2016 e 2018, de acordo com documentos judiciais.
A empresa rescindiu seu contrato de trabalho e processou Lochridge e sua esposa em 2018, alegando que ele compartilhou informações confidenciais, se apropriou indevidamente de segredos comerciais e usou a empresa para assistência imigratória e, em seguida, inventou um motivo para ser demitido.
A ação de Lochridge diz que ele foi encarregado pelo CEO da OceanGate, Stockton Rush, para realizar uma inspeção do submersível.
Lochridge levantou preocupações de que nenhum teste não destrutivo foi realizado no casco do Titan para verificar “delaminações, porosidade e vazios de adesão suficiente da cola usada devido à espessura do casco”. Ele foi demitido pouco tempo depois.
Outro ex-funcionário da OceanGate, que trabalhou brevemente para a empresa durante o mesmo período em que Lochridge, falou à CNN sob condição de anonimato porque não está autorizado a falar publicamente.
Ele disse que ficou preocupado quando o casco de fibra de carbono do Titan chegou, ecoando as preocupações de Lochridge sobre sua espessura.
O ex-funcionário afirmou que o casco foi construído com apenas pouco mais de 12 centímetros de espessura, enquanto ele disse que os engenheiros da empresa recomendaram cerca de 17 centímetros de espessura.
3. Sistema de monitoramento
Segundo o site da OceanGate, o Titan também possuía um “recurso de segurança incomparável” que monitorava a integridade do casco da embarcação durante cada mergulho.
Lochridge também questionou o sistema de monitoramento na embarcação, que serviria para detectar o início da quebra do casco. Seu processo judicial argumenta que “esse tipo de análise acústica só mostraria quando um componente está prestes a falhar — geralmente milissegundos antes de uma implosão — e não detectaria nenhuma falha existente antes de colocar pressão no casco”.
Arquivos judiciais da OceanGate sugerem que mais testes foram feitos depois que Lochridge deixou a empresa. Não é possível dizer se suas preocupações foram abordadas ou solucionadas.
4. Falta de certificação
O submersível Titan não tinha certificação de nenhuma agência reguladora. Como o Titan estava mergulhando em águas internacionais, a embarcação parecia operar em uma lacuna regulatória.
A OceanGate afirmava que a documentação não existia por ser uma tecnologia totalmente nova, sem parâmetros de autorização. Rush já havia declarado que, para ele, inovação significava: “Escolher as regras que você quebra que agregarão valor aos outros e agregarão valor à sociedade”, disse ele a Alan Estrada, um youtuber que documentou sua viagem ao Titanic, incluindo uma tentativa abortada em julho de 2021 antes de uma visita bem-sucedida em 2022.
Essa declaração ecoa outras da empresa de Rush, que reconheceu em um post de 2019 em seu site que a embarcação não havia sido classificada porque a classificação de projetos inovadores geralmente requer um processo de aprovação de vários anos, o que impediria a inovação rápida.
A maioria das operações marítimas, disse o post, “exige que as embarcações fretadas sejam ‘classificadas’ por um grupo independente, como o American Bureau of Shipping (ABS), DNV/GL, Lloyd’s Register ou um dos muitos outros”.
Mas essas agências não “garantem que os operadores sigam procedimentos operacionais adequados e processos de tomada de decisão”, que o post disse serem “muito mais importantes para mitigar os riscos no mar” porque a maioria dos acidentes ocorre devido a erro do operador.
Uma das empresas de certificação marítima, Lloyd’s Register, disse à CNN que “recusou um pedido” da OceanGate Expeditions para certificar o Titan.
O Comitê de Veículos Subaquáticos Tripulados da Marine Technology Society escreveu uma carta a Stockton Rush em 2018 que expressava preocupação com a falta de certificação e dizia: “Nossa apreensão é que a atual abordagem ‘experimental’ adotada pela Oceangate possa resultar em resultados negativos (de menores a catastróficos) que teriam sérias consequências para todos na indústria.”
Will Kohnen, que participou da carta e falou com o CEO da OceanGate sobre suas preocupações, disse à CNN: “Existem 10 submarinos no mundo que podem atingir 12 mil pés ou mais. Todos eles são certificados, exceto o submersível da OceanGate.”
5. Incidentes anteriores
Segundo registros judiciais, a OceanGate enfrentou uma série de problemas mecânicos e condições climáticas adversas que forçaram o cancelamento ou adiamento de viagens nos últimos anos.
Uma empresa de viagens com sede em Londres, Henry Cookson Adventures Ltd., acusou a OceanGate de não ter um “navio em condições de navegar” após ter fechado um acordo em 2016 para levar até nove passageiros ao Titanic em 2018.
A empresa de viagens tentou recuperar cerca de US$ 850.000 pagos à OceanGate, de acordo com uma ação civil movida em 2021. A OceanGate não respondeu às reivindicações no tribunal e não pôde ser contatada para comentar sobre.
Uma postagem no site da OceanGate em 2018 afirmou que “atrasos causados pelo clima e raios” impediram a empresa de concluir uma série de mergulhos, mas o processo da Henry Cookson Adventures questionou essa justificativa. “A alegação de raios não foi verificada e o verdadeiro motivo pode ser… porque o navio submersível não pôde ser certificado no momento para operações seguras”, alegou a empresa turística.
O caso foi encerrado em julho passado pela empresa de viagens Cookson Adventures, cujo porta-voz se recusou a comentar o litígio e disse que a empresa decidiu não prosseguir com nenhum projeto envolvendo a OceanGate.
Mais recentemente, um casal da Flórida alegou em uma ação judicial deste ano que não conseguiu obter um reembolso depois que sua planejada expedição ao Titanic em 2018 com a OceanGate foi repetidamente adiada. A súmula online do caso não mostra resposta ao processo.
Algumas expedições foram adiadas depois que a OceanGate foi forçada a reconstruir o casco do Titan porque apresentava “fadiga cíclica” e não seria capaz de viajar fundo o suficiente para alcançar os destroços do Titanic, de acordo com um artigo de 2020 da GeekWire, que entrevistou o CEO da empresa.
Em outro cancelamento de alto nível, a OceanGate, no ano passado, levou David Pogue, da CBS News, para um mergulho em seu submersível, mas cancelou a viagem devido a um mau funcionamento do equipamento após descer apenas 11 metros, disse Pogue na transmissão.
Em um mergulho posterior, a embarcação perdeu contato com o navio e não conseguiu encontrar os destroços. “Ficamos perdidos por duas horas e meia”, disse um passageiro que falou com a CBS News.
Durante um mergulho em 2022, o submersível encontrou um problema de bateria e teve que ser “anexado manualmente à sua plataforma de elevação”, o que levou a “danos modestos sustentados em seus componentes externos”, de acordo com um processo judicial de novembro de um consultor da empresa.
A OceanGate cancelou uma missão subsequente “para reparos e aprimoramentos operacionais”, mas chegou ao naufrágio em outras posteriores, afirmou o documento.
*Publicado por Fernanda Pinotti