Como Vladimir Putin pretende se manter no poder na Rússia até 2036
Economia e recuperação do bem-estar da era soviética explicam popularidade do presidente, que venceu referendo para disputar mais duas eleições.
O presidente da Rússia, Vladimir Putin, caminha para governar a Rússia até 2036, depois de ter vencido no começo de julho um referendo que o autorizou a disputar mais dois mandatos, com quase 78% dos votos.
A razão dessa popularidade é econômica. No referendo, o governo incluiu a promessa de reajuste salarial, de acordo com a inflação. A classe trabalhadora vota nele porque desde o começo sentiu os resultados da administração Putin, no bolso. Ele representa para boa parte dos russos a volta do bem-estar social, talvez a melhor lembrança de uma nação socialista.
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Vladimir Putin poderá se tornar o homem que comandou o Kremlin por mais tempo. Se tornou presidente pela primeira vez, em 2000. Saiu com a popularidade alta em 2008 e elegeu o seu ex-primeiro-ministro por um mandato. Dmitri Medvedev sentou na cadeira presidencial, mas era Putin quem governava, desta vez como premiê. Em 2012, retornou como presidente. Na prática, Putin pode ficar no Kremlin por 36 anos.
Ex-agente da KGB, o serviço secreto da ex-União Soviética, era considerado um excelente estrategista e articulado na defesa dos seus pontos de vista. Putin chegou ao poder pelas mãos de Boris Yeltsin. Nos corredores do Kremlin já circulavam boatos de que ele estava sendo preparado para dar continuidade às reformas de mercado da Rússia. Em 1999, foi de premiê a presidente-interino, com a surpreendente renúncia do seu tutor. Três meses depois, venceu a primeira eleição e se tornou presidente.
Herdeiro de Yeltsin
Vladimir Putin herdou o país com uma retração econômica de mais de 40% e fez o PIB voltar a crescer cerca de 6% ao ano, tudo impulsionado pela disparada no preço do petróleo que injetou dinheiro no Estado. A Rússia ainda tentava se reerguer, depois da queda da União Soviética.
Logo, o homem de Yeltsin que levaria o país a um governo mais liberal, se mostrou mais inclinado a olhar para o passado. Em vez de privatizações, estatizações e trouxe de volta o nacionalismo. Putin fez os russos sentirem de novo orgulho de suas origens.
Na vida pessoal, Volodia como é chamado na intimidade, mantém os grandes amigos da época em que foi agente da KGB. Quem o conhece de perto, sabe que Putin não se dá bem com quem tenta influenciá-lo. Não se toma decisões, sem o aval dele.
Em público, sempre aparece sereno, como se quisesse passar despercebido, quem sabe um hábito ainda dos tempos de agente secreto.
Por outro lado, Putin se tornou o símbolo da Rússia moderna e usou a máquina estatal para ajudá-lo a construir essa imagem. O próprio governo distribui fotos do presidente em poses heroicas. Vídeos dele, como faixa-preta de judô e em cenas que parecem tiradas de um filme de Hollywood, se multiplicam na internet. O fato da mídia estatal dominar a imprensa, na Rússia, também é uma enorme vantagem para a construção do mito.
Impacto global
Foi Putin também que colocou a Rússia de novo no jogo da geopolítica global. A Rússia tem o ministro das Relações Exteriores há mais tempo no cargo, no mundo. Sergei Lavrov ajudou Putin a mudar a história da guerra da Síria, evitando a queda de Bashar Assad, está à frente das quedas de braço com os Estados Unidos e o resto do ocidente e é o homem de Putin nas relações com os países da ex-União Soviética, prioridade do governo.
Como qualquer outro líder mundial, Putin não é unanimidade. A oposição o acusa de ser autoritário e assassino. Não há provas de fato, mas Putin tem fama de eliminar os inimigos, de maneira não tão silenciosa, a tiros e com veneno.
Para se manter no poder, terá de convencer os mais jovens e quem tem mais anos de estudo, eleitores que querem mais que um padrão de vida melhor, querem mudanças, mais liberdade e direitos.