Como os hipopótamos levados à Colômbia por Escobar impactaram o ecossistema
Se a presença desses animais não for controlada, pode haver até 7 mil hipopótamos no país em 2060; atualmente, há quase uma centena
“Não se trata do passado: os verdadeiros problemas estarão no futuro. Trata-se de um risco ecológico, porque são animais de grande porte com capacidade de mudar o ecossistema”. Esse aviso, de um biólogo colombiano especializado em mamíferos aquáticos, foi o que me levou a investigar a história do hipopótamo.
Eu estava conversando com a Dra. Nataly Castelblanco, uma cientista da Universidade Quintana Roo que no início deste ano escreveu um estudo destacando o perigo de conservação que uma população selvagem de hipopótamos representa para a vida selvagem colombiana.
Eu a havia procurado porque seu estudo estava ganhando força e gerando alguma controvérsia na mídia colombiana.
A história dos hipopótamos é alimento regular para jornalistas estrangeiros na Colômbia, especialmente porque eles foram trazidos para a Colômbia por Pablo Escobar, o notório rei da cocaína de Medellín, que na década de 1980 reinava supremo no país.
O controle de Escobar do tráfico de cocaína da Colômbia, o maior produtor mundial, para os Estados Unidos, o maior mercado, o tornou incrivelmente rico – o suficiente para comprar quatro hipopótamos para seu zoológico particular em Hacienda Napoles, seu extenso rancho às margens do rio Magdalena no centro da Colômbia.
Quando a polícia finalmente pegou Escobar em uma luta exaustiva de quatro anos que fez milhares de vítimas, eles lutaram para encontrar um lar para a vida selvagem que o megatraficante acumulou em Napoles. A maioria dos rinocerontes, zebras e girafas foi enviada para zoológicos de todo o país, mas os hipopótamos permaneceram.
Quase três décadas depois, eles ainda estão lá, em torno da Hacienda Napoles e do rio Magdalena.
Se não for controlado, pode haver até 7 mil hipopótamos na Colômbia em 2060.
Avaliando a tragédia dos hipopótamos da Colômbia
Quando você considera o legado da guerra às drogas, o problema dos hipopótamos é realmente uma gota no oceano, uma estranheza que tem pouca relação com a dor que a cocaína infligiu ao país.
Escobar pode estar morto, mas a produção de cocaína está em alta. Mais de 40 líderes sociais foram mortos neste ano, muitas vezes em áreas disputadas por gangues de narcóticos.
As autoridades tentaram, com pouco sucesso, interromper o banho de sangue ou encontrar uma solução de longo prazo para a guerra contra as drogas. A desigualdade econômica, que leva os pequenos agricultores a colher coca e vendê-la aos sindicatos do crime internacional, permanece em meio aos cartéis de drogas que ganham milhões todos os anos.
Por que falar sobre hipopótamos, com tantas tragédias humanas em curso?
Quando levantei essa questão com a Dra. Castelblanc, ela me incentivou a esquecer o passado, a esquecer o narco-folclore e o legado de Escobar. Isso é realmente sobre o meio ambiente e como uma espécie invasora pode mudar um ecossistema, ela me disse.
Eu queria saber mais. As espécies invasoras – animais ou plantas que são introduzidos em uma área, mas representam uma ameaça para outras espécies – estão entre as cinco principais causas da perda de biodiversidade, uma tendência que está se acelerando, principalmente graças à atividade humana.
Não há soluções claras, dada a afinidade local pelos hipopótamos e a proibição estadual de caçá-los. Os hipopótamos colombianos são um conto de advertência sobre o que acontece quando os humanos movem uma espécie de um continente para outro sem considerar as consequências.
Quebrando o ecossistema
Sempre que uma nova semente ou planta é trazida de um continente para outro, ela ameaça o ecossistema nativo, às vezes levando novas doenças, outras vezes competindo com as espécies locais e as expulsando de seu ambiente nativo.
De acordo com um estudo do Conselho Nacional de Pesquisa dos Estados Unidos, só as espécies de plantas invasoras custam à economia dos Estados Unidos mais de 100 bilhões de dólares por ano, mas a perda de biodiversidade causada por essas invasões é incalculável.
Uma espécie invasora leva décadas para causar danos e a grande maioria dessas espécies são pequenas plantas ou bactérias, como a Cryphonectria parasitica que praticamente destruiu as florestas de castanheiros da Costa Leste no século XX. Isso torna muito difícil extrair qualquer urgência no caso de, digamos, um cogumelo começar a destruir as florestas em que está presente.
Mas como os hipopótamos esse tipo de movimento é facilmente detectável. Eles são animais enormes e barulhentos, visíveis do ar. Eles matam mais humanos do que qualquer outro animal africano. E devido ao seu tamanho, pesando até três toneladas, eles também impactam as paisagens circundantes imediatamente.
Sua presença afeta os recursos hídricos ao redor de Napoles, aumentando a proliferação de algas e diminuindo o oxigênio em lagos e lagoas circundantes.
Tendo habitado a Colômbia há menos de trinta anos, a presença de hipopótamos já cobrou seu preço. Dos quatro animais originais que Escobar trouxe para Napoles na década de 1980, surgiu uma população selvagem de quase uma centena.
Isso porque a Colômbia é, do ponto de vista dos hipopótamos, um paraíso na Terra: muita água e grama para pastar e, em relação à savana africana, não há predadores. Se não for controlado, pode haver até 7 mil hipopótamos na Colômbia em 2060.
Não há soluções claras, dada a afinidade local pelos hipopótamos e a proibição estadual de caçá-los. Os hipopótamos colombianos são um conto de advertência sobre o que acontece quando os humanos movem uma espécie de um continente para outro sem considerar as consequências.
É um problema que vai além das repercussões da guerra contra as drogas da Colômbia falando para uma questão urgente do globalismo do século 21: como as ações de um homem podem criar uma profunda calamidade ambiental dentro de uma geração.
(Este texto é uma tradução. Para ler o original, em inglês, clique aqui)