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    Como fica a relação diplomática entre Brasil e EUA no governo Biden

    Rubens Barbosa falou à CNN sobre o que deve mudar e o que deve ser mantido nas relações internacionais norte-americanas com a chegada do democrata ao poder

    Jéssica Otoboni, da CNN, em São Paulo

    Em entrevista à CNN, o ex-embaixador do Brasil nos Estados Unidos Rubens Barbosa disse que acredita que o governo está sendo coerente em esperar a decisão final da Suprema Corte norte-americana – caso o presidente Donald Trump peça uma revisão dos resultados – antes de se manifestar sobre a vitória do democrata Joe Biden nas eleições do país. “Seria contraditório se ele [o presidente Jair Bolsonaro] imediatamente, tendo manifestado apoio a Trump, se manifestasse a favor da confirmação de Biden.”

    Ele explicou que a relação entre Brasil e EUA ocorre em dois níveis, sendo um deles o pessoal, o qual vai mudar. “Bolsonaro não vai ter o acesso à intimidade que disse que tinha com Trump”, afirmou.

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     Rubens Barbosa
    Rubens Barbosa, ex-embaixador do Brasil nos EUA
    Foto: Reprodução – 09.nov.2020 / CNN

    “Em termos institucionais, acho que a relação comercial vai continuar. Não só com a volta do crescimento do comércio, que neste ano caiu muito por causa da pandemia e das crises, mas os mini acordos alcançados entre os dois governos esse ano – na área de facilitação de comércio, de regulamentação, combate à corrupção – vão continuar”, disse Barbosa.

    Para ele, o setor que deve ter mais mudanças é o do meio-ambiente. “Não só pelos problemas internos (energia renovável e petróleo), mas porque os EUA vão voltar a participar dos Acordos de Paris, de mudança climática”, afirmou ele, acrescentando que essa postura deve repercutir no Brasil.

    “Nos organismos internacionais, o Brasil vai ficar mais isolado sem a companhia norte-americana nos temas culturais e sociais”, declarou. Ele também disse que a pressão dos EUA com relação ao 5G e China deve continuar, mas menos confrontacionista, “o que abre espaço para uma posição brasileira menos engajada politicamente”.

    Rubens Barbosa afirmou que o Brasil, com a atitude de apoiar os EUA, se filiou a uma corrente política de nacional populismo. “Essa corrente vai ficar agora com muito menos peso”, disse ele.

    “Jogamos ideologicamente numa situação que agora, com a derrota do Trump, fica negativa para o Brasil. Por isso estamos hesitando em reconhecer formalmente o [novo] governo e vamos ter que nos ajustar no futuro, a partir de janeiro, às novas políticas norte-americanas”, para não ter prejuízos.

    Relação dos EUA com outros países

    Sobre a relação diplomática de Washington com outros países, Barbosa afirmou que “vai haver mudanças muito importantes nas ênfases do governo norte-americano”. Para ele, não vai haver uma grande transformação, pois o que vai mudar é o estilo, já que os interesses norte-americanos continuam os mesmos”.

    “Acho que o que vai mudar é a relação dos EUA com os aliados europeus, por exemplo. Na área comercial, vai mudar a relação dos EUA com os países asiáticos. Possivelmente, os EUA vão voltar ao acordo com a Ásia”, disse o ex-embaixador.

    Ele destacou que o ponto que deve sofrer alterações é a ênfase na relação com a China. Segundo Barbosa, a confrontação estratégica entre os dois países vai continuar pois as duas economias estão muito entrelaçadas, mas o estilo e a relação será diferente. 

    Além disso, ele afirmou que Washington deve voltar a conversar também sobre a ênfase com relação a Irã, Cuba e Venezuela. “Mas as políticas principais vão continuar.”