Como a Europa trata de forma diferente refugiados da Ucrânia e do Oriente Médio
Em um mês de guerra na Ucrânia, mais de 3,6 milhões de refugiados já deixaram o país; a recepção acolhedora dos vizinhos europeus destoa das ações tomadas em crises de refugiados anteriores
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Refugiados da Ucrânia chegam a abrigo temporário em Korczowa, na Polônia • Sean Gallup/Getty Images
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Refugiados choram e se abraçam após encontrar parentes do outro lado da fronteira da Ucrânia com a Polônia • Attila Husejnow/SOPA Images/LightRocket via Getty Images
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Pessoas esperam por refugiados em estação de trem nas proximidades da fronteira entre Rússia e Ucrânia • Janos Kummer/Getty Images
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Refugiada ucraniana cruza a pé a fronteira da Ucrânia com a Polônia • Attila Husejnow/SOPA Images/LightRocket via Getty Images
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Refugiados acampam perto da fronteira entre a Ucrânia e a Polônia • Beata Zawrzel/NurPhoto via Getty Images
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Abrigo de refugiados ucranianos na Polônia • Agnieszka Majchrowicz/Anadolu Agency via Getty Images
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Estação de trem na Polônia registra alto fluxo de refugiados vindos da Ucrânia • Agnieszka Majchrowicz/Anadolu Agency via Getty Images
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Pessoas evacuam a cidade de Irpin, a noroeste de Kiev, no décimo dia da guerra Rússia-Ucrânia em 5 de março de 2022 • Wolfgang Schwan/Anadolu Agency via Getty Images
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Crianças evacuadas de um orfanato em Zaporizhzhia chegam ao principal terminal ferroviário em Lviv, Ucrânia, no dia 5 de março • Dan Kitwood/Getty Images
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Estudantes indianos voltaram da Ucrânia depois da invasão da Rússia; pais e outros parentes se emocionaram ao receber os alunos no aeroporto internacional Índia Gandhi, em Nova Délhi, Índia, no dia 5 de março. Governo indiano amplia a Operação Ganga, uma operação de resgate para evacuar cidadãos indianos • Salman Ali/Hindustan Times via Getty Images
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Refugiados que fugiram da Ucrânia estão sendo abrigados em um ginásio esportivo em Zgorzelec, na Polônia • Danilo Dittrich/picture alliance via Getty Images
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Pessoas que fugiram da guerra na Ucrânia encontram abrigo em ginásio esportivo convertido temporariamente em um abrigo, na região de Nowa Huta, em Cracóvia, na Polônia, em 15 de março de 2022 • Omar Marques/Getty Images
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Refugiados ucranianos cruzam a ponte sobre o rio Tisza, que conecta a Ucrânia com a Romênia • Denise Hruby/CNN
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Refugiados e voluntários locais descarregando ajuda vinda da Romênia • Denise Hruby/CNN
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Refugiados ucranianos estão sendo acolhidos em centro a dois quilômetros de distância do antigo campo de extermínio nazista de Auschwitz-Birkenau • Reuters
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Rada, 2 anos, alimenta-se em Medyka, Polônia, após deixar a Ucrânia 11/03/2022 • REUTERS/Fabrizio Bensch
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Ponto de ajuda para refugiados da Ucrânia que foi inaugurado no Estádio Municipal Henryk Reymans. em Cracóvia, na Polônia • NurPhoto via Getty Images
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Pessoas retiradas da região de Mariupol, na Ucrânia • Foto: Alexander Ermochenko/REUTERS
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Voluntários preparam ajuda humanitária para refugiados em Lviv, Ucrânia • 06/03/2022REUTERS/Pavlo Palamarchuk
Desde o início da invasão russa na Ucrânia, no dia 24 de fevereiro, mais de 3,6 milhões de refugiados já deixaram o país na tentativa de fugir da guerra. De acordo com o Alto Comissariado das Nações Unidas para os Refugiados (Acnur), essa já é a crise de refugiados que mais cresce na Europa desde a Segunda Guerra Mundial.
A grande maioria desses refugiados estão alocados em países europeus, principalmente aqueles que fazem fronteira com a Ucrânia. A recepção acolhedora dessa população contrasta com a forma como os países europeus lidaram com a última grande crise de refugiados, entre 2015 e 2016. Migrantes vindos, principalmente, da Síria e de outros países do Oriente Médio tentavam escapar da guerra em seus territórios.
No início de março, a União Europeia concedeu, por unanimidade, proteção temporária aos ucranianos. A decisão determina que refugiados da guerra na Ucrânia tenham direito a residência, acesso ao mercado de trabalho, assistência médica e educação infantil por pelo menos um ano.
Os países também tomaram iniciativas próprias para receber os migrantes ucranianos. O Reino Unido, que não faz mais parte da União Europeia, chegou a oferecer uma mesada para que sua população abrigasse refugiados.
Entre 2015 e 2016, cerca de 1 milhão de refugiados do Oriente Médio se deslocaram para a Europa e foram recebidos de maneira muito menos acolhedora. A maior parte foi para a Turquia, país que não faz parte da União Europeia, de lá, alguns tentavam entrar na Grécia para que pudessem ter acesso ao livre deslocamento entre os países do bloco.
A situação na década passada levou a uma escalada de políticas anti-imigração no continente. Um acordo foi feito entre a Turquia e o bloco europeu em 2016, fazendo com que todos os imigrantes irregulares que tentassem entrar na Grécia pela fronteira fossem mandados de volta ao país.
Na avaliação de Jeff Crisp, ex-diretor no Acnur e na Organização Internacional para as Migrações, a diferença na resposta dos países europeus entre as duas crises migratórias é nítida. “Os ucranianos se deslocaram de forma mais rápida e em maior número, mas não há o mesmo senso de alarme e medo na Europa.”
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Após o presidente Vladimir Putin fazer um pronunciamento autorizando uma "operação militar especial" na Ucrânia, primeiras explosões foram registradas na capital Kiev na quinta-feira, 24 de fevereiro • Gabinete do Presidente da Ucrânia
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Um comboio de tropas russas com quilômetros de extensão se desloca na Ucrânia, em direção à Kiev. Na última semana, autoridades britânicas afirmaram que a longa fila de veículos militares estaria parada • Maxar
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Desde o início da guerra, pelo menos 3,3 milhões de pessoas fugiram da Ucrânia, segundo dados da ONU. Cerca de 6,5 milhões se deslocaram dentro do território ucraniano • Wolfgang Schwan/Anadolu Agency via Getty Images
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Milhares de pessoas foram presas em protestos antiguerra na Rússia ao longo dos dias de guerra na Ucrânia • Anadolu Agency via Getty Images (27.fev.2022)
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Um fluxo de pessoas que passava por um posto de controle tentando deixar a cidade de Irpin, no dia 6 de março, foi atingido por um ataque de projéteis. Três pessoas foram mortas, disseram autoridades ucranianas, incluindo duas crianças. • Carlo Allegri/Reuters (07.mar.2022)
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Em 4 de março, um tiroteio entre forças russas e ucranianas causaram um incêndio no complexo onde fica localizada a usina nuclear de Zaporizhzhia, a maior desse tipo em toda a Europa. Os confrontos não chegaram a atingir os prédios de atividade nuclear • Reprodução
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No dia 9 de março, a Ucrânia acusou a Rússia de bombardear um hospital infantil e maternidade na cidade de Mariupol. Pelo menos uma gestante e seu bebê não resistiram aos ferimentos causados pelo ataque • Reuters
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Marina Ovsyannikova, editora de TV russa, chamou a atenção de todo o mundo após um protesto antiguerra ao vivo em um canal estatal. Depois da manifestação, Marina foi levada pela polícia e teria sido submetida à 14 horas de interrogatório • Russia Channel 1/Reprodução (14.mar.2022)
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Na quarta-feira, 16 de março, um teatro usado como abrigo em Mariupol foi atingido por um suposto ataque aéreo russo, segundo a Ucrânia. Imagens de satélite mostraram a palavra "crianças" escrita nos dois lados de edifício • Maxar Technologies
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Ataque a shopping center no distrito de Podilsky, em Kiev, deixou ao menos oito mortos. Destroços e escombros foram capturados do lado de fora • Ceng Shou Yi/NurPhoto via Getty Images (20.mar.2022)
Crisp aponta alguns fatores que explicam a diferença, o primeiro deles é a discriminação de raça e etnia. “Os ucranianos são vistos como europeus brancos e cristãos”, ele explica. Os refugiados que vinham do Oriente Médio não eram percebidos como brancos, além de alguns serem muçulmanos. Para Crisp, essas características levaram os europeus a temerem possíveis ameaças terroristas.
A proximidade da Ucrânia e o fato da guerra no país estar sendo constantemente veiculada pela mídia do mundo todo também influenciam na resposta europeia. Crisp explica: “Há pouca dúvida se essas pessoas são refugiadas ou não. Em 2015 e 2016, havia a sensação de que talvez algumas pessoas fossem refugiados, mas outras poderiam ser apenas migrantes econômicos, buscando melhores oportunidades de vida.”
Além disso, a Rússia representa uma ameaça não só para a Ucrânia, mas para toda a Europa. Na década passada, muitas pessoas não sabiam direito o que estava acontecendo na Síria e, mesmo se soubessem, se sentiam pouco afetadas pelo conflito em si.
Entretanto, o porta-voz do Acnur no Brasil, Luiz Fernando Godinho, explica que, do ponto de vista global, é mais comum que países vizinhos acolham aos refugiados de uma determinada região. “Os países vizinhos da Síria, como Turquia, Líbano, Jordânia e Iraque, têm acolhido milhões de refugiados sírios na última década.”
Refugiados na Polônia
A Polônia, que faz fronteira com a Ucrânia e é membro da União Europeia, talvez seja o caso mais claro da diferença no tratamento com os refugiados. Mais de 2,1 milhões de ucranianos estão no país, de acordo com dados do Acnur. O presidente do país, Andrzej Duda, falou em declaração que muitos estavam sendo acolhidos pelas famílias polonesas, “porque as pessoas sabem que devem abrir seus corações e receber os refugiados”.
No entanto, Duda age para endurecer as leis contra refugiados no país. No início de 2021, quando cerca de 4 mil pessoas vindas do Iraque e de outros países do Oriente Médio tentavam entrar na Polônia através da fronteira com Belarus, que não faz parte da União Europeia, o governo polonês fechou a fronteira e as pessoas foram mandadas de volta ao Iraque.
O futuro dos refugiados na Europa
Jeff Crisp aponta dois cenários possíveis após a Europa ter acolhido os refugiados ucranianos. No cenário positivo, o acolhimento dos ucranianos faria com que os europeus criassem mais empatia com a condição de todos os refugiados, independente de seu país de origem.
Outra possibilidade, que Crisp acredita ser a mais provável, infelizmente, é que os países europeus limitem ainda mais a entrada de refugiados, com a justificativa de que já estariam sobrecarregados com as pessoas vindas da Ucrânia.
O governo da Dinamarca parece confirmar este palpite. Enquanto o país está acolhendo refugiados ucranianos de braços abertos, as autoridades dinamarquesas seguem tentando mandar refugiados sírios de volta ao seu país – que continua em guerra – desde 2019.
Godinho se mostra mais otimista e ressalta que o acolhimento e recepção das pessoas refugiadas da Ucrânia deve ser elogiado. “Esperamos que este exemplo seja inspirador para reverter uma série de narrativas e políticas tóxicas verificadas em outras crises de refugiados”, ele diz, “é crucial que a União Europeia e outros países continuem a admitir pessoas vindas de outros países em seus territórios”.