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    Comissão da Verdade da Colômbia sobre conflitos com Farcs publica relatório final

    Entre as recomendações do documento, está a reformulação da guerra às drogas

    Cerimônia de entrega do relatório final da Comissão da Verdade em Bogotá, na Colômbia, em 28 de junho de 2022
    Cerimônia de entrega do relatório final da Comissão da Verdade em Bogotá, na Colômbia, em 28 de junho de 2022 Juan David Moreno Gallego/Anadolu Agency via Getty Images

    Stefano Pozzebonda CNN

    Em Bogotá

    A Comissão da Verdade da Colômbia apresentou nesta terça-feira (28) um relatório há muito esperado sobre quase seis décadas de conflito civil generalizado durante uma cerimônia carregada de emoção em Bogotá, capital do país.

    O relatório final da Comissão da Verdade marca o culminar de horas de entrevistas com vítimas, atores armados e servidores públicos envolvidos na luta armada entre o Estado colombiano e as Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (Farc). A comissão foi criada em 2016, como parte de um histórico acordo de paz entre o governo colombiano e as Farc.

    O relatório de 800 páginas lança luz sobre os abusos de direitos humanos e atos criminosos que ocorreram na Colômbia durante os 52 anos de conflito armado que matou até 220.000 pessoas e deslocou até 5 milhões de pessoas.

    Ele também contém recomendações sobre como o país pode avançar, mesmo que os combates continuem, apesar do acordo de paz de 2016.

    Essas são as cinco principais conclusões do relatório divulgado:

    • Há uma lista “infinita” de vítimas

    Não está claro quantas pessoas morreram no conflito, que afetou todos os aspectos da sociedade colombiana, segundo a comissão. De acordo com estimativas conservadoras, do Centro Nacional de Memória Histórica, mais de 260.000 civis perderam a vida como resultado da violência.

    Se todas as vítimas nomeadas do conflito fossem lidas em voz alta, levaria mais de 17 anos para lê-las todas, disse na terça-feira o padre Francisco de Roux, chefe da Comissão da Verdade.

    “A lista é interminável… a dor é imensa”, disse ele.

    A comissão também estabeleceu que a grande maioria das vítimas do conflito eram civis, estimando que até 34.000 crianças foram recrutadas à força pelos guerrilheiros apenas nos últimos 30 anos do conflito.

    Embora esta terça-feira tenha sido dedicada ao relatório final de 800 páginas sobre descobertas e recomendações, a comissão de 11 membros também lançou nove volumes adicionais detalhando eventos históricos, testemunhos e transcrições de mais de 14.000 entrevistas de 2016 a 2020.

    • As forças armadas devem se concentrar nos direitos humanos

    A Comissão da Verdade disse que as forças armadas colombianas cometeram abusos de direitos humanos e conduziram uma guerra criminosa durante todo o conflito. Agora ele está pedindo aos militares que realizem uma reforma abrangente, dizendo que “a abordagem de segurança não criou segurança”.

    O padre de Roux pediu às autoridades que reorientem as forças armadas para os direitos humanos e o direito internacional, e também pediu a criação de uma força policial civil. Na Colômbia, a polícia faz parte do Ministério da Defesa, e os policiais costumam treinar e trabalhar com unidades militares.

    • Reformulação da guerra às drogas

    A Comissão da Verdade recomendou que o governo mudasse completamente sua guerra às drogas. O narcotráfico é uma força tão onipresente na sociedade colombiana que deve ser considerado uma entidade política e não alvo de medidas repressivas, diz o relatório.

    Ele pediu o fim da prática de pulverização aérea para combater a colheita de plantas de coca em áreas rurais, devido ao impacto negativo que tem na saúde, na segurança alimentar e no meio ambiente.

    E enquanto sucessivos governos colombianos celebram a extradição de poderosos narcotraficantes, a Comissão da Verdade aconselha a não aprovar tantos pedidos de respeito aos direitos das vítimas. Em vez disso, eles aconselham que os traficantes de drogas sejam julgados na Colômbia.

    • O atual presidente da Colômbia, Iván Duque, não compareceu ao evento

    Embora o trabalho da comissão tenha sido elogiado internacionalmente, especialmente pelo embaixador dos Estados Unidos na Colômbia, a ausência de Duque devido a uma viagem ao exterior foi notada.

    Em 2016, Duque fez campanha contra o acordo de paz que levou à criação da Comissão da Verdade e, embora tenha prometido respeitar o acordo ao se tornar presidente, a segurança se deteriorou durante seu mandato.

    O partido de Duque, o Centro Democrático, cujo líder Álvaro Uribe supervisionou uma das fases mais sangrentas do conflito armado, divulgou um comunicado na terça-feira dizendo: “Não consideramos apropriado estabelecer verdades definitivas ou dogmáticas sobre o conflito e seus atores, pois não são múltiplas versões do que aconteceu no contexto do conflito armado colombiano”. O novo presidente da Colômbia, Gustavo Petro, toma posse de seu cargo em 7 de agosto.

    • O relatório não é juridicamente vinculativo

    Embora o relatório da Comissão da Verdade seja a investigação mais extensa sobre abusos de direitos humanos e atos criminosos ocorridos durante o conflito armado, ele não tem peso legal.

    Como parte do acordo de paz de 2016, um Tribunal de Paz especial é encarregado de investigar e condenar atores armados tanto das forças armadas quanto das guerrilhas.

    O papel da Comissão da Verdade era apresentar recomendações para evitar que um conflito semelhante acontecesse novamente.

    Este conteúdo foi criado originalmente em espanhol.

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