Combates na RD Congo mataram sete mil pessoas desde janeiro, diz premiê
Ao menos 450 mil pessoas estão sem abrigo depois que 90 campos de refugiados foram destruídos


Cerca de sete mil pessoas morreram desde janeiro em combates no leste da República Democrática do Congo, afirmou a primeira-ministra da RDC, Judith Suminwa, em uma reunião de alto nível do Conselho de Direitos Humanos em Genebra nesta segunda-feira (24), com combatentes e civis entre os mortos.
Ao menos três mil mortes foram registradas em Goma, afirmou Suminwa, e cerca de 450 mil pessoas ficaram sem abrigo depois que 90 campos de refugiados foram destruídos.
Desde janeiro, o grupo rebelde M23, capturou áreas do leste do Congo, incluindo as cidades de Goma e Bukavu, e valiosos depósitos minerais.
Suminwa conclamou o mundo a agir e a impor “sanções dissuasivas” a Ruanda em meio a deslocamentos em massa e execuções sumárias.
“É impossível descrever os gritos e choros de milhões de vítimas desse conflito”, declarou ela.
O secretário-geral da ONU, António Guterres, na reunião de Genebra, afirmou que os direitos humanos em todo o mundo estavam sendo “sufocados” e fez referência aos horríveis abusos na República Democrática do Congo.
“Se essa questão da violação da integridade territorial não for resolvida, a situação poderá se degenerar”, disse a primeira-ministra à Reuters após seu discurso no Conselho.
Entenda o conflito na RD Congo
Uma aliança rebelde reivindicou a captura da maior cidade na região leste da República Democrática do Congo (RD Congo), rica em minerais, nesta semana, superando tropas governamentais apoiadas por forças de intervenção regionais e da ONU.
A tomada de Goma é mais um ganho territorial para a coalizão rebelde Alliance Fleuve Congo (AFC), que inclui o grupo armado M23 – sancionado pelos Estados Unidos e pela ONU.
É também uma rápida expansão da presença dos insurgentes no leste do país – onde minerais raros cruciais para a produção de telefones e computadores são extraídos – e provavelmente piorará uma crise humanitária de longa data na região.
O governo congolês ainda não confirmou a tomada da cidade pelos rebeldes, mas reconhece sua presença no local, que é capital da província oriental de Kivu do Norte.
Além disso, a RD Congo anunciou no domingo (27) que cortou relações diplomáticas com a Ruanda e chamou de volta sua equipe diplomática do país. A nação vizinha é acusada de equipar os rebeldes com armas e combatentes.
Um porta-voz do governo de Ruanda não negou nem confirmou o apoio do país ao grupo armado M23 quando questionado pela CNN.
Enquanto isso, soldados estrangeiros de forças de paz, bem como o governador militar da província de Kivu do Norte, foram mortos nos últimos dias tentando afastar os insurgentes, enquanto milhares de moradores fogem da região.
O que é o M23?
O nome M23 se refere ao acordo de 23 de março de 2009, que encerrou uma revolta anterior liderada por tutsis no leste da RD Congo.
É o mais recente grupo de rebeldes liderados por tutsis étnicos apoiados por Ruanda, que têm causado tumulto na RD Congo desde o rescaldo do genocídio em Ruanda há trinta anos, quando extremistas hutus mataram tutsis e hutus moderados e depois foram derrubados pelas forças lideradas por tutsis que ainda dominam Ruanda.
O M23 acusa o governo da RD Congo de não cumprir o acordo de paz e integrar totalmente os tutsis congoleses ao Exército e ao governo.
O grupo também promete defender os interesses tutsis, particularmente contra milícias étnicas hutus, como as Forças Democráticas para a Libertação de Ruanda (FDLR), fundadas por hutus que fugiram de Ruanda após participar do genocídio de 1994 de quase 1 milhão de tutsis e hutus moderados.