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    Colômbia planeja transportar pelo ar hipopótamos de Escobar para Índia e México

    Sem controle, quantidade de animais poderá aumentar para cerca de 1.500 em menos de duas décadas; atualmente, há entre 130 e 160 hipopótamos

    Animais podem trazer risco aos moradores e à biodiversidade da região da Antióquia, na Colômbia
    Animais podem trazer risco aos moradores e à biodiversidade da região da Antióquia, na Colômbia Paul Arboleda/AFP/Getty Images

    Ángela Reyes Haczekda CNN*

    Colômbia

    Parece ficção, mas não é: dezenas de “hipopótamos da cocaína”, o legado mais inesperado do narcotraficante Pablo Escobar, serão transportados pelo ar da Colômbia para a Índia e o México, segundo o governador de Antioquia, na tentativa de resolver um problema que ameaça os ecossistemas e até a segurança das populações que vivem por perto.

    Na década de 1980, “El Patrón” importou um hipopótamo macho e três fêmeas para sua coleção de animais selvagens. Após sua morte em 1993, as autoridades realocaram algumas das espécies de animais exóticos que ele mantinha, mas não os hipopótamos, pois eram difíceis de capturar e transportar, conforme informou a CNN anteriormente.

    Esses enormes mamíferos começaram a se dispersar de seu local original, que ficava a aproximadamente 250 quilômetros de Medellín, pela bacia do rio Magdalena. E começaram a se reproduzir, colocando um desafio ambiental que o país ainda não conseguiu resolver devido ao seu impacto negativo nos ecossistemas.

    Atualmente, segundo os dados apurados pelo governo colombiano, existem entre 130 e 160 animais. E o número poderá crescer para cerca de 1.500 em menos de duas décadas, segundo um estudo de 2021 referenciado pela revista Nature.

    As autoridades tentaram controlar o crescimento populacional com esterilizações tradicionais e “injeções” de dardos anticoncepcionais.

    Esta semana, o governador de Antioquia, Aníbal Gaviria, informou em sua conta no Twitter que há um plano em andamento para transferir 70 desses hipopótamos para santuários naturais localizados na Índia e no México.

    Por que Índia e México?

    O termo técnico para a operação é “translocar”, explicou Gaviria em entrevista à mídia colombiana Blu Radio, já que se trata de transportar os hipopótamos de um país de onde não são originários para outros dois países de onde também não são originários, mas de onde há santuários que podem acolhê-los.

    O objetivo, segundo ele, é “levá-los para países onde essas instituições tenham capacidade para recebê-los, para os manter devidamente e para controlar a sua reprodução”. E esclareceu que o seu habitat original, que é a África, é precisamente onde “não é permitido levá-los” nestes casos.

    María Ángela Echeverry, professora de Biologia da Universidade Javeriana, havia explicado anteriormente à CNN os riscos de mover os hipopótamos para o continente africano como solução.

    “Toda vez que movemos animais ou plantas de um lugar para outro, também movemos seus patógenos, suas bactérias e seus vírus. E poderíamos trazer novas doenças para a África, não apenas para os hipopótamos que estão na natureza, mas novas doenças para todo o ecossistema africano que não evoluiu com esse tipo de doença”.

    Além de reduzir a população de hipopótamos na Colômbia, eles buscarão estabelecer um intercâmbio de conhecimento que permita às autoridades locais controlar a reprodução dos que permanecem no país (que, quando controlados, podem contribuir com o interesse turístico da região, segundo o governador).

    Por ar e sem sedação: os detalhes do plano de transporte dos hipopótamos

    Os hipopótamos vão viajar de avião, para o que será necessário construir caixas de transporte especiais que suportem o tamanho e força, disse Gaviria na entrevista à rádio. Espera-se a transferência de um total de 70, sendo 60 para a Índia e 10 para o México, entre machos e fêmeas.

    Conforme planejado, eles não serão sedados, mas haverá a “possibilidade de sedação de emergência durante o voo se um dos hipopótamos tiver algum tipo de colapso nervoso”, disse Gaviria.

    Sobre os prazos, Gaviria disse que se as autorizações necessárias forem agilizadas, especialmente as do Instituto Agropecuário Colombiano, isso poderá ser feito ainda no primeiro semestre deste ano.

    Lady Vanessa, um dos animais deixados por Escobar na Hacienda Napoles
    Lady Vanessa, uma hipopótamo fêmea deixada por Escobar na Hacienda Napoles. Atualmente, quase uma centena desses animais vivem na região / Foto: Luis Bernardo Cano/picture alliance via Getty Images

    O governador acrescentou que cerca de 90% dos custos da operação serão absorvidos pela Índia. No entanto, destacou também a participação de outro particular interessado. Trata-se de um canal de televisão internacional, segundo disse sem maiores especificações, que disponibilizou fundos e que em tese acompanharia todo o processo.

    No que diz respeito ao México, a gestão tem sido feita pelo o santuário de animais Ostok.

    Os perigos dos “hipopótamos da cocaína”

    Os hipopótamos, uma espécie invasora, representam um perigo para os ecossistemas locais e, às vezes, até para os humanos.

    Um estudo publicado em 2021 na revista Biological Conservation, então relatado pela CNN, cita pesquisas que mostram os efeitos negativos dos resíduos de hipopótamos nos níveis de oxigênio em corpos d’água. Isso pode ter um impacto na mortandade de peixes e, em última instância, nos seres humanos.

    Em relação aos cursos de água, um estudo de 2019 citado pela revista Nature mostrou que os lagos onde há hipopótamos, em comparação com os que não têm, têm mais nutrientes que favorecem o aparecimento de cianobactérias relacionadas às algas tóxicas. Além de afetar os peixes, essas florações podem reduzir a qualidade da água.

    Os pesquisadores também levantaram preocupações em 2021 sobre a possível transmissão de doenças de hipopótamos para humanos. E mencionam a ameaça que representam para os meios de subsistência e segurança das pessoas nas áreas onde são encontrados, porque comem ou danificam plantações e se envolvem em interações agressivas com humanos.

    “Os hipopótamos vivem em bandos, são bastante agressivos. São muito territoriais e comem plantas em geral”, disse a professora Echeverry.

    Soma-se a isso o fato, conforme explicou a especialista, de estarem em um terreno propício para sua reprodução, já que possui fontes de água rasas e grande concentração de alimentos ao redor. Isso difere da savana africana, onde a existência de períodos de seca severa afeta os animais.

    A notícia sobre a translocação de dezenas de hipopótamos coincide com a publicação, na revista científica Nature, de um artigo em que pesquisadores expressam sua preocupação com a possibilidade de o governo colombiano ficar “do lado dos defensores dos direitos dos animais em vez de impedir a propagação de animais invasores”.

    Até agora, a Colômbia não conseguiu resolver um problema que, nas palavras de Gaviria à Blu Radio, “saiu do controle”. E isso, alertam os especialistas, pode ser muito pior se não houver uma ação clara.

     

    *Com informações de Paula Bravo, Melissa Velásquez Loaiza, Jack Guy e Stefano Pozzebon.

    Este conteúdo foi criado originalmente em espanhol.

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