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    CNN acompanha treino de soldados ucranianos em campo secreto na Inglaterra

    Militares aprendem técnicas de combate em trincheiras, uso de armas contra tanques e como identificar e abater drones

    Américo Martinsda CNN

    em Yorkshire, Inglaterra

    As Forças Armadas do Reino Unido e de outros nove países estão treinando milhares de soldados ucranianos no interior da Inglaterra.

    A CNN acompanhou os treinamentos envolvendo centenas de militares num campo secreto, localizado na região de Yorkshire, no norte do país. A exata localização não pode ser revelada, por motivos de segurança, e apenas imagens que não permitam identificar os soldados podem ser gravadas.

    Oficiais dos países aliados ensinam aos recrutas ucranianos as técnicas de guerra usadas pela Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan) para enfrentar o poderoso exército russo. Apenas 11% deles já participaram de combates e tiveram treinamento militar anterior. Os outros são voluntários de 18 a 59 anos.

    Cada curso de infantaria da chamada Operação Interflex dura cinco semanas. Os militares aprendem a usar armas contra tanques e veículos blindados, a identificar e abater drones, a combater em trincheiras e também as leis internacionais que regem os conflitos armados.

    Em um dos exercícios, um pequeno pelotão ucraniano foi instruído a invadir e tomar um prédio ocupado pelo inimigo, simulando uma batalha urbana.

    Os soldados partiram de uma casa em ruínas, lançaram granadas de gás para encobrir sua movimentação e dispararam tiros de festim, enquanto tentavam escapar de rajadas de metralhadoras e até de bombas simuladas jogadas por drones. A batalha simulada demorou horas, sem trégua.

    Qualquer erro nas trincheiras pode ser fatal

    Enquanto estão na Inglaterra, os recrutas ficam o tempo todo isolados, dormindo no próprio local. Todos se dizem bastante motivados e dedicados ao treinamento.

    “Eu decidi entrar no exército para ajudar meu país porque os russos estão matando muitos civis, inclusive mulheres e crianças. Eles mataram alguns dos meus amigos, por isso eu me alistei”, disse uma soldado de 28 anos identificada como Angelika, que passou o dia todo treinando táticas de combate e movimentação dentro de trincheiras.

    Um instrutor do exército britânico disse que a primeira prioridade é ensinar cada soldado a se defender, já que qualquer erro nas trincheiras pode ser fatal.

    Os recrutas, no entanto, dizem não ter medo da morte, embora saibam que essa possibilidade existe na frente de batalha. “Infelizmente, isso é a triste realidade de qualquer guerra”, diz Eric, um oficial norueguês especializado em batalhas em trincheiras e que combateu no Afeganistão.

    “Eu pensei nos riscos da guerra e eles passaram pela minha cabeça antes de eu me alistar como voluntário. É uma situação difícil”, explicou Igor, de 32 anos e pai de duas crianças.

    Imagens de satélite

    O campo secreto foi construído em uma zona rural, perto de fazendas com criação de ovelhas e bois, mas com alta tecnologia. Os britânicos usaram, por exemplo, imagens de satélite para reproduzir as condições das trincheiras exatamente como elas são na linha de frente na Ucrânia.

    Eles também se abastecem regularmente de informações das agências de inteligências ocidentais sobre o desenrolar da guerra para adaptar os cursos às realidades que os soldados vão enfrentar no campo de batalha.

    O oficial Erik disse à reportagem da CNN que essas informações são muito importantes para abastecer os instrutores e que é fundamental que o treinamento seja o mais próximo possível das condições reais na linha de frente.

    “A maior parte das batalhas que esses soldados vão enfrentar vai acontecer em condições exatamente iguais às que eles estão vendo aqui”, disse ele, ao lado de trincheiras de cerca de um metro e meio de profundidade.

    Segundo o Ministério da Defesa britânico, pelo menos 35 mil recrutas e oficiais ucranianos passarão por diversos cursos militares, em um dos quatro campos de treinamento espalhados pelo interior da Inglaterra.

    Os próprios oficiais ucranianos também vão selecionar soldados que demonstrem ter um perfil de liderança para enviá-los a novos cursos, onde vão começar a se preparar para comandar pelotões do exército.

    Apesar de organizado pelo Ministério da Defesa britânico, os cursos da Operação Interflex são ministrados também por oficiais de outros países aliados: Canadá, Nova Zelândia, Noruega, Dinamarca, Finlândia, Suécia, Lituânia, Holanda e Austrália.

    Finlandeses e suecos aproveitam a oportunidade para também se aproximar das forças da Otan.

    A Finlândia foi o último país a se juntar à organização e a Suécia continua no processo de entrada. Nova Zelândia e Austrália não fazem parte da Otan, mas seus militares têm um longo histórico de cooperação com a entidade.