Christopher Garman: Com a vitória de Trump, teremos um novo acirramento comercial entre EUA e China?
Diretor-executivo para as Américas do grupo Eurasia fala sobre os impactos do protecionismo do novo governo americano e de como o Brasil poderia se beneficiar
O cientista político Christopher Garman, diretor-executivo para as Américas do grupo Eurasia, empresa de consultoria e análise de risco, avaliou o potencial impacto da vitória de Donald Trump nas eleições presidenciais dos Estados Unidos sobre as relações comerciais com a China. Segundo ele, há indicadores que apontam para um possível acirramento das tensões entre as duas potências econômicas.
Garman destaca que assessores da campanha de Trump têm prometido impor uma tarifa de importação de 60% sobre produtos chineses, um aumento significativo em relação à atual média de importação, que é de 11,3%.
“Além disso, existe a ameaça de aplicar tarifas a países que utilizam importações chinesas para reexportação aos EUA, como México e Vietnã”, diz o diretor da Eurasia.
Postura belicosa e ameaça geopolítica
Christopher Garman ressalta que a equipe de segurança nacional da campanha de Trump enxerga a China como uma grande ameaça e competidor geopolítico, adotando uma postura mais agressiva nas relações bilaterais.
O cientista político, contudo, não descarta a possibilidade de um acordo entre as duas nações. Ele lembra o estilo transacional de Trump nas negociações e cita o famoso livro escrito pelo republicano “A Arte da Negociação”. O best-seller revela suas técnicas de negociação e traz regras para o sucesso e histórias do empresário antes da carreira política.
“Trump tem um estilo em que ele pode colocar ameaças na mesa apenas como tática para poder extrair benefícios e concessões da contraparte chinesa”, explica Garman.
O papel de Elon Musk e as oportunidades para o Brasil
Garman menciona que as lideranças chinesas veem em Elon Musk — o bilionário dono de empresas como a rede social X, a fabricante de carros Tesla e a empresa aeroespacial SpaceX –, segundo um importante assessor do presidente eleito, um canal potencial para costurar um acordo entre os países.
Independentemente do desfecho, Garman afirma que, em um cenário de maior tensão entre os Estados Unidos e a China, a liderança chinesa buscará reforçar laços com outros países, como o Brasil.
O diretor da Eurasia avalia que a visita do presidente Xi Jinping ao Brasil durante a reunião da cúpula de líderes do G20, no Rio de Janeiro, será oportuna para a assinatura de vários acordos bilaterais para fortalecer as relações entre os dois países.