China deve ignorar apelo de Lula para entrar no grupo que pede paz na Guerra da Ucrânia
A viagem do presidente brasileiro deve acontecer na segunda quinzena de março, mas o Itamaraty ainda não confirma a data exata
Fontes ligadas ao Partido Comunista Chinês afirmam que os apelos de Lula para a entrada da China em grupo pela paz na Ucrânia “devem entrar por um ouvido e sair por outro”. Os chineses devem inclusive pedir para que o assunto guerra seja retirado da pauta durante a visita de Lula ao país.
Sempre que provocadas sobre a guerra, autoridades chinesas têm se posicionado no sentido de dizer que o mundo quer empurrar para a China um fardo que não é seu.
A viagem de Lula a China deve acontecer na segunda quinzena de março, mas o Itamaraty ainda não confirma a data exata da viagem. O ministro das relações exteriores, Mauro Vieira, irá à Índia nos dias 1 e 2 de março, para a reunião ministerial do G20.
Segundo o Itamaraty, Vieira irá participar de uma reunião bilateral com o chanceler chinês. No encontro, deve preparar o terreno para a visita de Lula. É de praxe que aconteça uma visita ministerial antes da presidencial para definir o que vai entrar na pauta.
Durante a visita do chanceler alemão Olaf Scholz ao Brasil, na semana passada, Lula falou sobre a ideia de se criar um “grupo de países” para encontrar uma solução para por fim à guerra entre Rússia e a Ucrânia. “E aí eu acho que nossos amigos chineses têm um papel muito importante. Eu, se for a China em março, como está previsto, quero conversar sobre isso com o presidente Xi Jinping. Está na hora de a China colocar a mão na massa”, disse Lula na ocasião.
Após o encontro com Scholz, Lula também apontou que a Rússia errou ao invadir a Ucrânia, mas disse que “quando um não quer, dois não brigam”. A fala do presidente brasileiro despertou críticas na imprensa internacional de países do Ocidente, por insinuar que Volodymyr Zelensky seria tão culpado pela guerra quanto Vladimir Putin.
Aliança contra a fome
Fontes ligadas ao governo chinês dizem que Lula pode ter mais sorte ao falar de fome do que de guerra na Ucrânia. Lula e o presidente chinês Xi Jinping devem conversar sobre uma aliança global Brasil-China contra a fome e a pobreza, nos moldes da aliança da China com a África.
O ministro do Desenvolvimento e Assistência Social, Wellington Dias, se encontrou com Zhu Qingqiao, embaixador chinês no Brasil, no dia 31 de janeiro. No encontro, falaram sobre como retomar as boas relações entre os países e debateram caminhos para o desenvolvimento social do Brasil.
Com mudanças na estrutura econômica, a China tirou da pobreza mais centenas de milhões de pessoas. No encontro com o embaixador, Dias destacou: “A China tem experiências que se destacam globalmente com metas não só para fazer a retirada de pessoas da pobreza extrema, mas também para fazer crescer a classe média.
Da parte dos chineses, há interesse em abordar também parcerias no setor de energia.
Intercâmbio comercial
Nesta segunda-feira (7), Mauro Vieira recebeu o embaixador Luiz Augusto Castro Neves, presidente do Conselho Empresarial Brasil-China para discutir a retomada da relação econômico-comercial entre os países e os planos de visita do Presidente Lula à China.
Apesar de a China ser o principal parceiro comercial do Brasil, respondendo por 26% das exportações brasileiras, Lula optou por iniciar seu cronograma de viagens ao exterior por Argentina (3º parceiro, 4% das exportações), Uruguai (30º parceiro, 0,9% das exportações) e Estados Unidos (2º parceiro, com 11% das exportações), o que tem despertado análises sobre quais relações diplomáticas devem ser o foco da gestão Lula 3.
Segundo pessoas ligadas ao Partido Comunista Chinês, a ordem do cronograma de viagens de Lula foi notada. Até mesmo o fato de o ministro Mauro Vieira visitar a Índia antes da China causou incômodo.