China cancela discurso em vídeo de líder da UE na abertura de feira comercial
Vídeo pré-gravado por Charles Michel deveria ser um dos vários de líderes mundiais na abertura da China International Import Expo (CIIE)
Autoridades chinesas por trás de uma grande feira comercial em Xangai retiraram um discurso de cerimônia de abertura do presidente do Conselho Europeu que deveria criticar a “guerra ilegal” da Rússia na Ucrânia e pedir a redução da dependência comercial da China, de acordo com diplomatas.
O vídeo pré-gravado por Charles Michel deveria ser um dos vários de líderes mundiais e chefes de organizações internacionais, incluindo o presidente chinês Xi Jinping, na abertura da China International Import Expo (CIIE) na sexta-feira, disseram três diplomatas europeus à Reuters.
Os diplomatas, que não podem ser identificados devido à sensibilidade do assunto, disseram que ficaram surpresos com a remoção do discurso.
“O presidente Michel foi convidado a discursar no 5º Fórum Hongqiao/CIIE em Xangai”, disse Barend Leyts, porta-voz de Michel. “Conforme solicitado pelas autoridades chinesas, de fato fornecemos uma mensagem pré-gravada que acabou não sendo mostrada. Abordamos isso pelos canais diplomáticos normais”.
Ninguém do Ministério das Relações Exteriores da China ou dos co-organizadores da exposição, do Ministério do Comércio da China e do governo da cidade de Xangai, respondeu aos pedidos de comentários da reportagem.
Outros dignitários que falaram na cerimônia depois de Xi incluíram o diretor-gerente do Fundo Monetário Internacional, o diretor-geral da Organização Mundial do Comércio e os presidentes da Indonésia, Sri Lanka e Belarus, segundo o site oficial da exposição.
Alexander Lukashenko, de Belarus, é um forte aliado do líder russo Vladimir Putin, cujo país já recebeu milhares de tropas russas antes e durante o que Moscou chama de “operação especial” na Ucrânia.
Foco na Rússia e no comércio
O discurso do presidente do Conselho Europeu foi definido para ser fortemente crítico da “guerra ilegal da Rússia contra a Ucrânia” e dizer que a Europa está aprendendo “lições importantes” com isso, de acordo com trechos fornecidos por diplomatas europeus.
A Europa tem sido excessivamente dependente da Rússia para combustíveis fósseis, levando a um desequilíbrio comercial, diria Michel.
“Na Europa, queremos equilíbrio em nossas relações comerciais… para evitar dependências excessivas”, segundo os diplomatas familiarizados com o que ele iria dizer.
“Isso também vale para nossas relações comerciais com a China”.
Michel também deveria pedir que a China fizesse mais para acabar com o derramamento de sangue na Ucrânia.
A China sempre se recusou a criticar a agressão da Rússia, que devastou cidades em toda a Ucrânia e matou milhares de soldados e civis desde que começou em 24 de fevereiro.
“A China tem um papel em usar sua influência para parar a guerra brutal da Rússia… por meio de sua chamada parceria ‘sem limites’ com a Rússia”, diria Michel, referindo-se a um pacto anunciado por Xi e Putin em Pequim antes do início da guerra. “Você, China, pode ajudar a acabar com isso”.
Espera-se que Xi e Michel participem e se encontrem na cúpula de chefes de estado do Grupo dos Vinte (G20), em Bali, na próxima terça e quarta-feira.
O presidente do Conselho Europeu é uma das principais autoridades da União Europeia (UE), cujo papel inclui a representação do bloco em cúpulas internacionais e cúpulas bilaterais com outros chefes de Estado.
Desde 2019, a UE considera oficialmente a China como parceira, concorrente econômica e rival sistêmica.
O serviço de política externa da UE disse em um documento no mês passado que Pequim agora deve ser vista principalmente como um concorrente que está promovendo “uma visão alternativa da ordem mundial”.
(Edição de Lincoln Feast)