Caso de morte de rapper venezuelano tem reviravolta com confissão de empresária
Oito anos após o ocorrido, Natalia Améstica confessou à polícia de que colocou analgésicos no chá para Canserbero dormir e depois cometeu o crime com várias facadas
A Procuradoria-Geral da Venezuela afirmou na terça-feira (26) que o cantor de rap e hip-hop Tirone González, conhecido como Canserbero, e seu amigo Carlos Molnar, baixista do grupo Zion TLP, foram vítimas de um duplo homicídio em janeiro de 2015 e não de um homicídio-suicídio como foi anunciado no começo.
Ao apresentar os resultados da investigação, o general fiscal Tarek William Saab mostrou um vídeo com a confissão de de Natalia Améstica, companheira de Molnar por 10 anos e empresária de Canserbero, que assegurou que colocou ás escondidas altas doses de calmantes no chá do cantor e do baixista.
A CNN tentou entrar em contato com a defesa de Améstica mas até então sem resposta.
Na narrativa da culpada, que segundo a Procuradoria-Geral teve a confissão confirmada pelo irmão Guillermo, ela o chamou para ajudar a modificar a cena do crime, juntamente de três funcionários do Serviço Bolivariano de Inteligência Nacional (Sebin) que supostamente cobraram pelo serviço de armar a cena do “homicídio-suicídio”.
A CNN contatou a Sebin para obter resposta às acusações mas até então sem resultado.
Entre as alterações descritas pelo Ministério Público estão mais facadas e golpes em ambas as vítimas para simular uma luta, incluindo um no rosto que teria desfigurado o rosto de Tirone González.
Também a criação de pegadas do suposto trajeto de González até à janela onde seria simulado o suicídio, atirando o corpo de um décimo andar. Mas as pegadas correspondiam a um tamanho de sapato de 37,5 cm e não à pegada de Cancerbero, que, segundo a Procuradoria, na conferência, teria um tamanho 41.
Saab assegurou que, durante os dias 18 e 19 deste mês, participou diretamente nos interrogatórios dos acusados, num processo que, garantiu, “decorreu em conformidade com a Constituição venezuelana”. À meia-noite do dia 19 de dezembro, ambos pediram para falar com o procurador “para confessar o que aconteceu nesse dia”, disse Saab.
Os vídeos foram transmitidos na conferência de imprensa e no canal estatal. Neles, Molnar explica o motivo do homicídio, afirmando que Molnar não tinha pagado o valor investido na turnê realizada em dezembro de 2014 por Chile e Argentina.
Já a respeito do cantor, ela complementou que Canserbero tinha uma atitude indiferente à ela e que não queria ser seu amigo.
O chefe do Ministério Píblico informou que que, até ao momento, foram detidas seis pessoas e que foram solicitados mandados de captura para pelo menos quatro dos primeiros agentes que se aproximaram do local do incidente por, segundo ele, terem atuado de forma negligente no encobrimento do incidente.
Declarou também que dois procuradores nacionais, três diretores, 33 peritos e 13 funcionários do Comando Nacional Anti-Extorsão e Sequestro (Conas) e de outras duas forças auxiliares de segurança, bem como a participação direta do procurador-geral, estiveram envolvidos na nova fase da investigação.
Eles especificaram que a nova fase incluiu 110 etapas de investigação e 13 viagens a Maracay para reunir novas provas.
Quem foi o cantor Canserbero
Tirone José González foi um cantor venezuelano de hip-hop e rap que utilizou o nome artístico Canserbero no mundo da música e que incluía ironias e críticas sociais nas suas mensagens.
Nasceu em Maracay, estado Aragua, ao centro norte de Venezuela, no dia 11 de marzo de 1988. Tinha 26 anos quando foi achado sem vida no dia 19 de janeiro de 2015.
Canserbero publicou três álbuns: Vida (2010), Muerte (2012) e Apa y Can (2013) em conjunto com o rapper Apache.
Em outubro de 2023, a revista Rolling Stone o nomeou como o melhor integrante do rap em espanhol, entre 50 artistas do gênero. No texto, destacaram que “Com letras profundas, uma voz inconfundível e uma atitude de sólida autenticidade, Canserbero precisou de pouco tempo para se tornar uma das figuras emblemáticas do rap latino-americano”.
Seus restos mortais foram sepultados no Cemitério Metropolitano de Maraca e, segundo a versão inicial, Canserbero teria assassinado Molnar e depois suicidado-se. A família e os amigos do cantor nunca acreditaram nessa versão e pediram que a investigação fosse retomada.
Saab, o general fiscal, disse que em novembro, depois de se terem reunido com a família e a namorada de Canserbero, decidiram reabrir a investigação e exumar o corpo de Tirone González.