Brasil ainda quer intermediar acordo entre Rússia e Ucrânia, diz chanceler à CNN
Em entrevista à âncora Christiane Amanpour, Mauro Vieira destacou os esforços do país ao dialogar com os dois lados e reforça a necessidade de se encerrar as hostilidades antes de qualquer negociação
O Brasil continua empenhado em atuar como interlocutor para a costura de um acordo de paz entre Rússia e Ucrânia e seguirá atuando neste sentido. A declaração é do ministro das Relações Exteriores, Mauro Vieira, em entrevista exclusiva à âncora da CNN, Christiane Amanpour. Segundo ele, o país vem caminhando bem neste sentido, apesar da desconfiança e críticas de alguns países europeus.
“Nós estamos prontos para continuar (a negociar a paz) ao lado de outros países. Queremos promover discussão que possa resultar em um cessar-fogo para negociar a paz e aliviar o sofrimento das populações”.
Vieira fez questão de defender o ponto de vista da diplomacia brasileira, que não auxiliou Estados Unidos e Europa em enviar armas para a Ucrânia, e tem priorizado o diálogo. “O tempo na diplomacia é diferente do tempo cronológico. Assim é a diplomacia: ela leva tempo, mas vamos conseguir os resultados esperados”, afirmou. “Outros líderes e chefes de estado também estão dizendo o mesmo. Quando chegar a hora, esta será uma contribuição muito importante para solucionar esta situação”.
O chanceler descartou a possibilidade de os Estados Unidos estarem incomodados com o posicionamento neutro do Brasil em relação à guerra. “Nós não recebemos nenhuma comunicação sobre isso. O presidente Lula conversou e se reuniu com o presidente Biden e tem estado em contato com o Secretário de Estado dos EUA, Antony Blinken. Nunca houve qualquer tipo de preocupação a esse respeito, pelo contrário: discutimos esse assunto com bastante frequência e de forma detalhada para que possamos conhecer melhor a posição de cada um”.
Questionado por Amanpour se o posicionamento do Brasil de buscar um diálogo com a Rússia em vez de apoiar a Ucrânia não seria uma “política ingênua”, Vieira rebateu: “Lula já se encontrou com 22 chefes de Estado, esta semana ele está indo para Hiroshima, no Japão, para a reunião do G7. Não acredito que eles sejam ingênuos e se querem se encontrar com Lula e ter boas e profundas discussões, acho que ajuda a entender melhor o mundo e nossas posições e, principalmente, aprimorar nosso relacionamento, nossas relações bilaterais, com todos esses países”.
Vieira voltou a reforçar a posição de neutralidade do Brasil na guerra, descartando alegações de que o país tenha escolhido algum lado. “A posição do presidente Lula e do Brasil são claras: nós votamos, nas Nações Unidas, a favor de uma resolução que condenava a invasão da Ucrânia. O que o presidente Lula tem dito repetidamente é que está na hora de parar de falar em guerra e começar a discutir a paz.”
Na entrevista, Vieira também falou sobre os esforços do presidente Lula na preservação da Amazônia, um tema de âmbito interno que chama a atenção da opinião pública internacional. “Ele está trabalhando duro, realizando uma reestruturação de órgãos e legislação de fiscalização, que foram destruídos no último governo. É preciso reconstruir esse corpo administrativo para o meio ambiente”.
(Publicado por Fábio Mendes)