Prime Time

seg - sex

Apresentação

Ao vivo

A seguir

    “Brasil abriria mão da Amazônia para terminar uma guerra?”, questiona assessor de Zelensky à CNN

    Em entrevista exclusiva, enviado especial ucraniano para a América Latina diz que “clube da paz” proposto por Lula pode funcionar e que visita de Celso Amorim a Kiev é muito importante 

    Américo Martinsda CNN , Londres

    O enviado especial do presidente Volodymyr Zelensky para a América Latina, embaixador Ruslan Spirin, questionou se o Brasil, caso invadido por forças estrangeiras, abriria mão de parte da Amazônia para terminar o hipotético conflito.

    Spirin fez esse exercício retórico durante uma entrevista exclusiva à CNN Brasil, concedida diretamente do seu escritório em Kiev, enquanto comentava as declarações recentes do presidente Luiz Inácio Lula da Silva que deram a entender que os Estados Unidos e a União Europeia estavam prolongando a guerra da Ucrânia.

    “Eles (EUA e UE) estão defendendo nosso país. Eles têm direitos, não estão atacando a Rússia. Estão nos defendendo da mesma forma que poderiam defender o Brasil contra qualquer inimigo, se alguém quisesse conquistar o território do Brasil. O que vocês achariam, por exemplo, se a Amazônia fosse ocupada? E surgisse alguém dizendo: por que não deixar assim mesmo? Por que vocês não deixam (o território invadido) para essas pessoas? É para terminar a guerra!”, disse ele.

    O presidente Lula também deu outras declarações polêmicas, sugerindo que talvez a Ucrânia tivesse que abrir mão da península da Crimeia, anexada pela Rússia em 2014.

    Sem se referir diretamente às declarações do presidente, o diplomata ucraniano disse que sugestões de que o Ocidente quer prolongar a guerra ou que a Ucrânia poderia abrir mão de território acontecem por falta de informações completas sobre o conflito.

    Por isso, disse ele, a visita do embaixador Celso Amorim, assessor especial do Presidente Lula para assuntos internacionais, a Kiev para se encontrar com Zelensky é muito importante.

    “Esta visita é muito importante para nós, para os dois países e para todo o mundo, porque, como um dos líderes mais importantes da América Latina, o Brasil representa uma certa posição dos países que querem alcançar a paz. A propósito, para a Ucrânia, restabelecer a paz também é a prioridade número um”, disse ele.

    Spirin afirmou que o chamado “clube da paz”, proposto por Lula, pode, sim, funcionar. Mas apenas com a retirada total das tropas russas da Ucrânia.

    O “clube” seria composto por países que não têm envolvimento direto na guerra e que atuariam como mediadores para tentar encontrar uma saída diplomática para o conflito.

    Visita de Celso Amorim à Ucrânia é vista como importante para o país / 18/10/2022 REUTERS/Carla Carniel

    “Sim, um clube de países poderia funcionar para estabelecer a paz. Isso seria genial. Mas a única maneira que esses países, ou supostamente os líderes dos países, podem se organizar neste clube é usar toda a sua influência, toda a sua amizade, ou todas as suas relações com a Rússia para explicar a este senhor, Putin, que ele tem que reconhecer suas obrigações internacionais. Que ele tem que retirar suas tropas do território do país”, afirmou.

    Ele acrescentou: “Quando ouvimos as declarações do presidente (Lula) sobre a necessidade de estabelecer a paz, concordamos plenamente. Nós (ucranianos) precisamos de paz e, claro, estamos à disposição para discutir com todos e principalmente com representantes do Brasil”.

    O embaixador ucraniano lembrou que a Rússia está violando todos os princípios básicos da ONU relativos à integridade territorial, soberania e independência do seu país.

    Spirin já morou no Rio de Janeiro e diz conhecer bem o Brasil.

    Ao final da entrevista, ele agradeceu a ajuda do governo e do povo brasileiros.

    “Estamos extremamente gratos ao povo (brasileiro) porque realmente sentimos que o povo está apoiando a Ucrânia. Já recebemos 14 toneladas de ajuda humanitária, incluindo remédios do Brasil, que nos permitem apoiar os refugiados dentro do nosso país”, disse.

    Tópicos