Bomba que matou Darya Dugina foi detonada remotamente, diz mídia russa
Filha de "guru" de Putin dirigia nos arredores de Moscou quando seu veículo explodiu na noite do último sábado
O carro-bomba que matou Darya Dugina, filha do idealista ultranacionalista russo Alexander Dugin, foi detonado remotamente, disse um oficial da lei à agência de notícias estatal russa TASS nesta segunda-feira (22).
“Já foi estabelecido que a bomba no carro de Dugina foi detonada remotamente. Presumivelmente, o carro foi monitorado e seu movimento controlado”, disse o policial não identificado à TASS.
Dugina, uma comentarista política russa e editora de um site de desinformação chamado United World International, morreu depois que uma bomba plantada no carro que ela dirigia explodiu nos arredores de Moscou na noite de sábado.
Os detalhes da explosão estão sendo investigados pelo Comitê de Investigação da Rússia.
Mais cedo, as autoridades russas alegaram que 400 gramas de TNT foram usados na explosão e que o “dispositivo explosivo foi colocado sob o jipe do lado do motorista”, informou a TASS no domingo.
Saiba quem era Darya Dugina, filha de “guru” de Putin morta em explosão de carro
A russa Darya Platonova Dugina, filha do filósofo russo Alexander Dugin, considerado “guru” de Vladimir Putin, morreu neste sábado (20) após explosão do carro em que estava, na região de Moscou.
Defensora da invasão à Ucrânia pelas tropas russas, assim como seu pai, Darya nasceu em 1992, e se formou em filosofia na Lomonosov Moscow State University, onde mais tarde conseguiu um PhD.
Pai e filha fazem parte na lista de figuras influentes na Rússia sancionadas pelos Estados Unidos e por outros países ocidentais, após Putin autorizar invasão à Ucrânia, dando início à atual guerra entre os países.
“O fato de estarmos sob sanções dos EUA, Canadá, Austrália e Reino Unido também é um símbolo de que nós, Dugin, estamos no caminho da verdade na luta contra o globalismo. Portanto, eu diria que é uma honra nascer em uma família assim”, afirmou a filósofa, em entrevista em maio deste ano ao veículo estatal russo Geopolítika, plataforma controlada pelo pai de Darya, segundo o governo dos EUA.
Darya também chegou a dizer que a Ucrânia vive em uma ditadura desde 2014, por influência de “uma agenda globalista e pró-americana”. Ela também afirmou que desde então vários países cultivam uma cultura de “russofobia”.
Em 2014, a região da Crimeia foi anexada pela Rússia. O movimento foi alvo de críticas do então estabelecido governo ucraniano pró-União Europeia e de países do Ocidente, que pressionaram a Rússia com sanções,
“O apoio unânime do Ocidente à Ucrânia, o fornecimento de armas em uma escala impensável, tudo isso é uma agonia. Para mim, a pior dor é que a Europa sucumbiu à influência da propaganda globalista e, em vez de permanecer neutra, ficou do lado da guerra. De muitas maneiras, esse foi certamente o plano dos Estados Unidos, que provocaram sistemática e continuamente todo o conflito fornecendo armas à Ucrânia”, chegou a afirmar Darya.
A filósofa russa também questionava a veracidade da divulgação de informações sobre a atuação da Rússia na guerra por veículos de mídia ocidentais.
O Departamento do Tesouro dos EUA, ao anunciar sanções contra Darya e seu pai em 3 de março de 2022, disse que ela era editora-chefe de um site chamado United World International (UWI), que chegou a publicar uma nota que afirmava que “a Ucrânia pereceria se fosse admitida pela Otan”.
Quem é Alexander Dugin, “guru” de Putin que perdeu filha em explosão de carro
Alexander Dugin, cuja filha Darya Dugina morreu no sábado (20) após a explosão do carro em que estava, é o “sumo sacerdote” de uma virulenta campanha de nacionalismo russo que se torna cada vez mais influente no país.
Vindo de uma família de oficiais militares russos, sua jornada foi notável: de ideólogo marginal a líder de uma corrente proeminente de pensamento na Rússia que vê Moscou como o coração de um império “eurasiano” que desafia a decadência ocidental. Ele é o fundador espiritual do termo “o mundo russo”.
Ao longo do caminho, essa vertente incorporou uma profunda aversão à identidade da Ucrânia fora da Rússia.
Dugin, de 60 anos, ajudou a reviver a expressão “Novorossiya” ou Nova Rússia – que incluía territórios de partes da Ucrânia – antes da anexação russa da Crimeia em 2014. O presidente russo Vladimir Putin, inclusive, usou a palavra ao declarar a Crimeia parte da Rússia em março daquele ano.
O filósofo há muito tem uma aversão visceral aos ucranianos que resistem à assimilação na “mãe Rússia”. Depois que dezenas de manifestantes pró-Rússia foram mortos durante confrontos em Odesa, em maio de 2014, ele disse: “A Ucrânia deve ser desaparecida da Terra e reconstruída do zero ou as pessoas precisam recuperá-la. Acho que os ucranianos precisam de uma revolta total em todos níveis e em todas as regiões. Uma revolta armada contra a Junta [suposto grupo fascista ucraniano]. Não só no Sudeste”, declarou Dugin.
“Matar, matar e matar. Chega de falar. É minha opinião como professor”, acrescentou.
No ano seguinte, Dugin foi sancionado pelos Estados Unidos como “cúmplice de ações ou políticas que ameaçam a paz, segurança, estabilidade ou soberania ou integridade territorial da Ucrânia”.
O nascimento do eurasianismo
O trabalho que impulsionou Dugin à proeminência foi os “Fundamentos da Geopolítica”, de 1997, no qual ele expôs sua visão de um império eurasiano, estendendo-se de Dublin a Vladivostok. O livro defendia semear a instabilidade e a dissidência nos Estados Unidos – uma prévia da campanha de desinformação em torno das eleições de 2016 nos EUA.
Em uma passagem, ele escreveu: “É especialmente importante introduzir desordem geopolítica na atividade interna americana, incentivando todos os tipos de separatismo e conflitos étnicos, sociais e raciais, apoiando ativamente todos os movimentos dissidentes – grupos extremistas, racistas e sectários, desestabilizando, assim, os processos políticos internos nos EUA”.
A obra, escrita nos últimos dias da caótica presidência de Boris Yelstin, tornou-se um best-seller na Rússia.
Em 2004, John Dunlop, membro sênior da Hoover Institution da Universidade de Stanford, escreveu que nenhum outro livro teve “uma influência sobre as elites militares russas, policiais e estatistas de política externa comparável a ‘Fundações’”.
O exemplar estimulou Dugin a uma carreira acadêmica – e, por um tempo, ele foi presidente de relações internacionais no Departamento de Sociologia da Universidade Estadual de Moscou.
Dugin sempre foi um dos maiores defensores de Putin. Em 2007, ele disse : “Putin não tem mais adversários e, mesmo que eles existam, são doentes mentais e devem ser enviados para exames médicos. Putin está em toda parte, Putin é tudo, Putin é absoluto, Putin é insubstituível.”