Análise: Biden vai à Arábia Saudita nesta semana; entenda os motivos da viagem
Relação entre as duas nações está deteriorada, e essa será a primeira vez do atual presidente americano no país do Oriente Médio desde que assumiu o cargo
De “sem valor social” para ser um “parceiro estratégico” dos Estados Unidos. Essa é a mudança drástica da Arábia Saudita aos olhos do presidente Joe Biden desde que a invasão da Ucrânia pela Rússia fez com que os preços do petróleo disparassem para recordes de oito anos.
As relações entre a Arábia Saudita e os EUA se deterioraram significativamente desde que Biden substituiu Donald Trump. Mas isso está mudando agora, já que o presidente fará sua primeira visita ao reino nesta semana, e provavelmente se encontrará com o príncipe herdeiro Mohammed bin Salman.
Ambos os ex-presidentes Barack Obama e Donald Trump foram ridicularizados por se curvarem ao rei saudita durante viagens ao país. Trump até fez história ao escolher a Arábia Saudita para sua primeira visita presidencial, caracterizada por danças de espadas, orbes brilhantes e pompa.
Em contraste com seus antecessores, ele não irá à capital saudita, Riad, optando por realizar uma cúpula multilateral com líderes regionais na cidade de Jeddah, no Mar Vermelho. A mensagem é clara: esta não é uma visita de Estado.
Ambos os lados vão focalizar a viagem para sua própria vantagem política, mas a linguagem corporal, os apertos de mão e as declarações públicas serão mais reveladoras.
Para ter uma noção real de onde estão as relações, aqui está o que deve ser observado:
Apelo por mais petróleo
Diante dos altos preços da gasolina e da inflação que cresce no ritmo mais rápido desde 1981, Biden precisa vender sua viagem no mercado interno como sendo do interesse do público americano. A Casa Branca disse que a visita “daria resultados para o povo americano”.
Mas o governo também está interessado em dissipar a noção de que o presidente está indo para a Arábia Saudita pedir por mais petróleo. A energia será discutida, já que a Arábia Saudita é a presidente do cartel de petróleo da Organização dos Países Exportadores de Petróleo (Opep) e seu maior exportador, disse a Casa Branca, mas esse não será o objetivo principal da viagem.
O governo transmitirá sua “visão geral” de que precisa haver “oferta adequada no mercado global”, destacou o assessor de segurança nacional da Casa Branca, Jake Sullivan, na segunda-feira (11).
Os produtores de petróleo do Golfo Árabe, liderados pela Arábia Saudita, insistem que não há escassez de oferta do produto no mercado global e optaram por manter a aliança da Opep com a Rússia para controlar a produção.
Reconhecimento da liderança de bin Salman
Menos de um mês depois de sua presidência, a Casa Branca informou que Biden iria interagir com a Arábia Saudita no nível de chefe de Estado, já que o relacionamento com o reino seria “recalibrado”. A mensagem era que bin Salman – o governante de fato do reino – seria evitado e os negócios seriam apenas com o rei.
Ainda no mês passado, a secretária de imprensa da Casa Branca, Karine Jean-Pierre, ressaltou que a posição do presidente sobre a Arábia Saudita “ainda permanece”, respondendo à pergunta de um repórter sobre se Biden considera o reino um “pária”.
Mas isso pode estar prestes a mudar. O governo Biden diz que planeja “redefinir” seu relacionamento com Riad e que as reuniões do presidente com autoridades sauditas “incluirão” bin Salman. Mas a Casa Branca tem sido vaga sobre se os líderes terão uma reunião individual, ou mesmo se vão apertar as mãos.
Compromisso com a segurança saudita
A Arábia Saudita está frustrada com o que entende como um interesse cada vez menor dos EUA em sua segurança – mas essa visão é anterior à gestão de Biden. Quando as instalações petrolíferas sauditas foram bombardeadas em um ataque de 2019 que o governo Trump atribuiu ao Irã, os EUA optaram por não agir, apesar do evento ter levado ao maior salto nos preços do petróleo já registrado.
O país do Oriente Médio também começou a fortalecer seus laços militares com o inimigo de Washington, a China, um movimento que causou espanto no Congresso.
Mas os EUA intensificaram sua retórica em apoio à segurança do Golfo ultimamente. No entanto, manteve a proibição da venda de armas de ataque ao reino desde fevereiro do ano passado devido à guerra no Iêmen. Porém, há uma trégua no Iêmen agora, e os EUA elogiaram os esforços sauditas para alcançá-la.
Autoridades americanas disseram à CNN que a Arábia Saudita está buscando uma estratégia viável para lidar com o Irã, bem como os compromissos de segurança dos EUA, caso as negociações nucleares com Teerã fracassem. E Israel pontuou que está trabalhando com parceiros regionais para construir uma aliança de defesa aérea no Oriente Médio liderada pelosEstados Unidos. Não está claro quais outros países estarão envolvidos.
Biden também deve fazer uma “declaração importante” sobre a estratégia do governo para o Oriente Médio, afirmou Sullivan na segunda-feira.
Relações sauditas-israelenses
Autoridades dos EUA também destacaram à CNN que as relações entre Israel e a Arábia Saudita, que não têm relações diplomáticas oficiais, estão melhorando constantemente e que estão em andamento discussões para expandir o acesso dos aviões comerciais israelenses ao espaço aéreo saudita.
No mês passado, o então ministro das Relações Exteriores de Israel, Yair Lapid, disse em entrevista coletiva que Israel espera que a visita de Biden traga alguns pequenos avanços para estreitar os laços entre Israel e a Arábia Saudita. O próprio Biden tem seu governo trabalhando para “aprofundar e expandir” a normalização entre Israel e as nações árabes.
Bin Salman deixou claro que não vê Israel como um inimigo, mas como um “aliado em potencial, com muitos interesses que podemos buscar juntos”, segundo a mídia estatal.
Direitos humanos e a guerra do Iêmen
Um alto funcionário dos EUA observou à CNN que o governo precisa “superar” o assassinato de Jamal Khashoggi “para alcançar a paz e a estabilidade no Oriente Médio”.
Fontes do governo disseram à CNN que o presidente, no entanto, planeja levantar o assunto diretamente com bin Salman. Na segunda-feira, Sullivan pontuou que a agenda de direitos humanos de Biden “estará” na viagem.
O governo Biden também ficou frustrado com a falta de progresso significativo na guerra do Iêmen e o desastre humanitário que causou, mas vem trabalhando com a Arábia Saudita para estender um cessar-fogo no país.