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    Biden se reúne com chanceler da Alemanha para discutir crise na Ucrânia

    Olaf Scholz, sucessor de Angela Merkel, vem sofrendo críticas sobre ausência de uma posição firme em relação à Rússia

    Kevin Liptakda CNN

    À medida que o impasse entre a Rússia e o Ocidente entra em uma fase potencialmente decisiva, o presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, se reúne nesta segunda-feira (7), na Casa Branca, com o novo chanceler da Alemanha, Olaf Scholz, cuja disposição de confrontar Moscou ao lado dos EUA foi questionada.

    Scholz assumiu o cargo em dezembro, sucedendo uma figura de destaque na política global — Angela Merkel — cuja ausência durante a atual crise está sendo sentida em ambos os lados do Atlântico.

    O chanceler chega a Washington ao mesmo tempo em que o presidente russo, Vladimir Putin, reuniu 70% do seu contingente militar e armas nas fronteiras da Ucrânia necessários para uma invasão em larga escala do país, com base nas estimativas da inteligência dos EUA — embora ninguém pareça saber quais as suas verdadeiras intenções podem ser.

    Em meio à incerteza, Biden está empolgado com a ideia de demonstrar a unidade ocidental contra uma agressão de Putin. Antes da reunião do presidente com Scholz, autoridades americanas disseram que os dois líderes passariam a maior parte do tempo juntos discutindo o assunto da Ucrânia, incluindo um “pacote de sanções robusto” sendo preparado para punir Moscou caso uma invasão aconteça.

    As tensões nas fronteirar ucranianas deram à reunião desta segunda-feira no Salão Oval o ar de uma conversa de crise, embora Biden também espere usar a sessão para conhecer Scholz pessoalmente, já que provavelmente passarão muito mais tempo juntos nos anos seguintes. Eles já se encontraram antes, quando Merkel trouxe Scholz para a cúpula do G20 em outubro. Biden tentou reparar os laços com a Alemanha depois que o ex-presidente Donald Trump acusou publicamente o país de se esquivar de suas obrigações internacionais.

    Pairando sobre a reunião, no entanto, está a questão da determinação de Scholz de confrontar Putin. Entre os principais aliados europeus dos EUA, a Alemanha parece ser a mais relutante em se comprometer com a ajuda letal, enviando ajuda humanitária em vez de armas e se recusando a permitir que outro aliado da Otan, a Estônia, envie artilharia de fabricação alemã para a Ucrânia.

    A Alemanha não se juntou aos Estados Unidos, França, Espanha e outros aliados da Otan no reforço de tropas ao longo do Leste Europeu. Scholz também não deu detalhes sobre quais sanções ele poderia estar disposto a impor a um país que ainda é um importante parceiro comercial da Alemanha.

    Autoridades dos EUA frustradas

    A impressão de que a Alemanha não está disposta — ou, por causa de sua dependência energética da Rússia, incapaz — de oferecer medidas sérias de repressão deixou algumas autoridades americanas frustradas.

    Tanto os membros republicanos quanto os democratas do Congresso expressaram seu descontentamento, e até Biden sugeriu a discórdia, dizendo no mês passado que uma “pequena incursão” da Rússia na Ucrânia provocaria algum desacordo entre os membros da Otan sobre como responder.

    No último domingo (6), um alto funcionário do governo americano tentou minimizar quaisquer preocupações com a posição da Alemanha, dizendo que cada membro da Otan trouxe suas próprias forças particulares para a mesa de discussão.

    “A beleza de ter uma aliança com 30 aliados da Otan é que diferentes aliados se aproximam para adotar abordagens distintas para diferentes partes do problema”, disse o funcionário, observando que os EUA e a Alemanha estão trabalhando em estreita colaboração nas sanções e que a Alemanha é um importante agente econômico, responsável por prestar assistência humanitária e fazer doações para a Ucrânia.

    O funcionário também destacou os esforços diplomáticos da Alemanha, ao lado da França, para reviver um acordo de cessar-fogo entre a Ucrânia e a Rússia. Ainda segundo ele, os EUA e a Alemanha estão alinhados em sua visão do acúmulo de tropas ao longo da fronteira com a Ucrânia.

    “Acho que nossos países estão unificados em termos de consciência do risco de uma nova agressão russa à Ucrânia. Há muito tempo compartilhamos inteligência com a Alemanha, com o resto de nossos aliados. Estamos tendo várias conversas, tanto da Casa Branca quanto do Departamento de Estado, com nossa embaixada em Berlim, nossas outras agências, sobre a situação. Creio que há um acordo absoluto de que, se houver mais agressão russa, há uma série de coisas que precisam ser feitas em relação ao envio de tropas adicionais para o lado leste e à imposição de um grande pacote de sanções econômicas”, disse o funcionário.

    Scholz insistiu que a Rússia pagará caro se suas tropas cruzarem para a Ucrânia.

    “Estamos intensamente engajados com todos os nossos parceiros aliados na União Europeia, com a questão da Ucrânia, quase nenhuma questão nos ocupa mais”, disse Scholz em entrevista à emissora pública alemã ZDF antes de viajar para Washington. Ele continuou dizendo que um ataque da Rússia à Ucrânia teria um “preço muito alto”.

    Antes de sua reunião, Scholz disse ao Washington Post em entrevista publicada no domingo que “nossa resposta será unida e decisiva” a uma invasão russa, buscando limpar a impressão de uma aliança fraturada. O chanceler também tem entrevista marcada no programa “The Lead with Jake Tapper” da CNN americana nesta segunda-feira, uma rara oportunidade para um líder estrangeiro com a intenção de reverter a sensação de que ele está em uma página diferente da dos EUA.

    O destino do Nord Stream 2

    Ainda assim, o novo chanceler se recusou a dizer se uma invasão russa na Ucrânia acabaria com o gasoduto Nord Stream 2, que transporta gás natural russo sob o Mar Báltico para a Alemanha, evitando a Ucrânia. Os EUA se opõem ao gasoduto.

    Um dia antes da chegada de Scholz à Casa Branca, os assessores de Biden deixaram clara sua posição, mesmo que o visitante tenha se esquivado sobre o assunto.

    “Se a Rússia invadir a Ucrânia, de uma forma ou de outra, o Nord Stream 2 não avançará”, disse o conselheiro de segurança nacional da Casa Branca, Jake Sullivan, no programa “Meet the Press” da NBC. “E a Rússia entende isso. Estamos coordenados com nossos aliados na Europa sobre isso e essa será a realidade se a Rússia decidir avançar.”

    O alto funcionário do governo disse a repórteres que os EUA deixaram sua posição clara para o governo de Scholz. “Continuaremos a trabalhar em estreita colaboração com a Alemanha para garantir que o oleoduto não avance”, disse o funcionário.

    A questão do Nord Stream ressalta a situação difícil do chanceler alemão em confrontar a Rússia por suas agressões na Europa. A Alemanha é fortemente dependente da energia russa, o que dificulta impor punições severas sem arriscar um corte de petróleo e gás durante os meses frios do inverno.

    Os EUA têm procurado no mundo fontes alternativas de energia que possam ser desviadas para a Europa, da Ásia ao Oriente Médio para fornecedores domésticos americanos. Não está claro o quão bem-sucedida a iniciativa foi, e alguns países disseram que seus suprimentos de gás já estão esgotados.

    Scholz, enquanto isso, enfrentou uma crise interna em que foi descoberto que um antecessor de seu partido político estabeleceu laços estreitos com a indústria de energia russa. Gerhard Schroeder, o último político do Partido Social Democrata a servir como chanceler, atua no conselho de administração do Nord Stream 2. E na semana passada, a gigante estatal russa de gás Gazprom anunciou que Schroeder também havia sido indicado para seu conselho.

    Ausência de Merkel

    Houve apenas uma outra chanceler desde que Schroeder deixou o cargo em 2005: Angela Merkel, cuja ausência do cenário mundial após seu mandato de 16 anos foi sentida de forma intensa, principalmente enquanto Putin testa a determinação do Ocidente.

    Quando a Rússia invadiu a Ucrânia pela última vez, em 2014, Merkel desempenhou um papel central como intermediária entre Putin e os aliados ocidentais da Alemanha. Ela falou com o presidente russo de forma consistente e encorajou outros líderes a intensificarem suas sanções para punir Moscou por anexar a Crimeia. Ela também desempenhou um papel central, mantendo Washington atualizada por meio do relacionamento próximo que cultivou com o então presidente Barack Obama.

    Desta vez, não é o líder alemão que está emergindo nesse papel, mas o francês. O presidente da França, Emmanuel Macron, falou várias vezes na semana com Putin e fez seu terceiro telefonema em uma semana para Biden na noite de domingo. Macron visitará Moscou e Kiev no início desta semana.

    Scholz ainda não assumiu um papel tão visível na neutralização da última crise, o que lhe rendeu críticas de alemães que acusam o chanceler de ficar invisível em um momento de tensão. Em uma aparente tentativa de acabar com essa impressão, Scholz também visitará a Rússia e a Ucrânia no final deste mês.

    Este conteúdo foi criado originalmente em inglês.

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