Biden faz viagem à África enquanto EUA tentam conter influência da China
Visita terá foco em um grande projeto ferroviário apoiado pelos Estados Unidos na Angola
Joe Biden, presidente dos Estados Unidos, embarca para Angola neste domingo (1°), cumprindo a promessa de visitar a África durante sua presidência.
A visita terá foco em um grande projeto ferroviário apoiado pelos Estados Unidos que visa “desviar” minerais críticos da China.
O projeto, parcialmente financiado por um empréstimo dos EUA, liga a República Democrática do Congo e a Zâmbia, países ricos em recursos, ao porto angolano de Lobito, no Oceano Atlântico, oferecendo uma rota rápida e eficiente para exportações para o Ocidente.
Estão em jogo grandes fornecimentos de minerais como cobre e cobalto, que são encontrados no Congo e são um componente essencial para baterias e outros produtos eletrônicos.
A China é a principal potência internacional no Congo, o que se tornou uma preocupação crescente para os EUA.
Além disso, o governo chinês assinou um acordo com a Tanzânia e a Zâmbia em setembro para revitalizar uma linha ferroviária para a costa oriental da África.
Biden deve pousar rapidamente em Cabo Verde, na África Ocidental, na manhã desta segunda-feira (2), onde se encontrará com o presidente do país antes de seguir para Angola.
Durante a viagem, ele visitará o museu nacional da escravatura na capital, Luanda, e fará uma parada no porto de Lobito na quarta-feira (5).
Trump pode apoiar projeto
Embora a viagem de Biden aconteça nos últimos dias da sua Presidência, Donald Trump provavelmente apoiará o projeto e continuará sendo um parceiro próximo de Angola quando voltar à Casa Branca, em janeiro, de acordo com duas fontes que serviram no primeiro mandato do republicano.
Tibor Nagy, embaixador aposentado e principal enviado à África durante o governo Trump, disse que o futuro presidente dos EUA provavelmente terá duas preocupações gerais em relação à África. A primeira é a concorrência com a China e a Rússia. A segunda é o acesso a minerais críticos.
Referindo-se à Ferrovia Atlântica de Lobito, ele pontuou que ela “preenche os dois campos”.
O projeto é apoiado pela “trader” global de commodities Trafigura, pelo grupo de construção português Mota-Engil, e pela operadora ferroviária Vecturis.
A Corporação Financeira de Desenvolvimento dos EUA concedeu empréstimo de US$ 550 milhões para renovar a rede ferroviária de 1.300 quilômetros de Lobito ao Congo.
Promessas dos EUA para a África
Essa viagem cumpre um conjunto abrangente de promessas para a África. Outras continuam por serem realizadas, como o apoio a dois assentos permanentes para países do continente no Conselho de Segurança da ONU.
Para além do projeto ferroviário, os EUA fizeram pouco para promover o acesso do país às amplas reservas de minerais africanos, que considera essenciais para a segurança nacional, e acumulou outros reveses diplomáticos.
Recentemente, os EUA perderam a principal base de espionagem no Níger e não conseguiram encontrar um aliado que acolhesse esses ativos. Isto deixa o país sem apoio militar na região do Sahel, que se tornou um ponto crítico de grupos islâmicos.
A Angola nutre laços estreitos com a China e a Rússia, mas recentemente aproximou-se do Ocidente. As autoridades angolanas dizem que estão interessadas em trabalhar com qualquer parceiro que contribua no avanço de sua agenda para promover o crescimento econômico e esperam que o projeto estimule o investimento numa série de setores.
“A China só ganhou destaque porque os países ocidentais provavelmente não têm prestado muita atenção na África”, ponderou o ministro dos Transportes de Angola, Ricardo Viegas d’Abreu, em entrevista.