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    Biden está no meio da tempestade entre a Rússia e seus prisioneiros dos EUA

    Presidente americano vem sofrendo pressão de famílias que exigem que governo dos EUA faça algo para que seus parentes retornem para casa

    Análise por Stephen Collinson

    O presidente Joe Biden está em uma situação de aperto entre inquietas famílias de americanos presos na Rússia e Vladimir Putin – um líder que tem poucos escrúpulos em usar civis para obter seus objetivos políticos.

    Biden vem enfrentando uma pressão crescente de parentes da estrela da WNBA, Brittney Griner, e do ex-fuzileiro naval dos EUA, Paul Whelan, que estão frustrados por seu fracasso em trazê-los para casa e questionaram se seus destinos têm sua atenção pessoal.

    Mas a resposta da Casa Branca está apenas aprofundando seu desconforto político. Depois que Biden ligou na quarta-feira para a esposa de Griner, Cherelle, e respondeu à uma carta da jogadora de basquete, a irmã de Whelan disse estar “surpresa” por seu irmão não ter recebido tratamento semelhante.

    A situação é mais uma crise que afeta a Casa Branca e testa sua máquina de mensagens públicas às vezes vacilante antes das eleições de meio de mandato que provavelmente serão, em parte, um referendo sobre a presidência de Biden.

    À medida que o calor político aumenta sobre o presidente, a influência dos EUA necessária para libertar a dupla é comprometida pelas relações antagônicas entre Moscou e Washington, tornando-os essencialmente peões políticos pegos no meio de uma armadilha geopolítica mais ampla. Dadas as repercussões da invasão russa da Ucrânia e a implacável campanha dos EUA para isolar e punir o Kremlin, pode nunca ter havido um momento pior para um americano estar preso na Rússia.

    Griner foi presa em fevereiro em um aeroporto de Moscou uma semana antes da invasão e depois de jogar em Moscou durante a entressafra da WNBA. As autoridades russas alegaram que ela tinha óleo de cannabis em sua bagagem e a acusaram de contrabandear quantidades significativas de uma substância narcótica, um crime punível com até 10 anos de prisão. O julgamento dela deve ser retomado nesta semana.

    Whelan foi preso em 2018 por acusações de espionagem. Ele as nega. Ele foi condenado e sentenciado em junho de 2020 a 16 anos de prisão em um julgamento que autoridades norte-americanas denunciaram como injusto. Ele também questionou se a Casa Branca de Biden está fazendo tudo o que pode para libertá-lo.

    Washington diz que ambos americanos foram presos injustamente.

    Embora a angústia de Griner e Whelan e suas famílias seja justificada, aumentar o perfil público de seus casos é arriscado. As famílias estão tentando incitar o governo a uma ação urgente, mas os sinais de crescente pressão pública sobre Biden certamente serão relatados a Putin e seus subordinados por diplomatas russos.

    Isso poderia não apenas complicar o esforço do governo para isolar o destino dos prisioneiros dos EUA do menu mais amplo de queixas que abalou o diálogo dos EUA com a Rússia; também pode encorajar um líder russo, a quem Biden apelidou de “açougueiro”, a estar mais disposto a atacar as sanções dos EUA e a ajuda militar à Ucrânia. Também pode tornar mais alto o preço de qualquer eventual acordo entre os EUA e a Rússia que resulte na libertação dos americanos – talvez nos moldes da troca de prisioneiros ao estilo da Guerra Fria que libertou um americano doente, Trevor Reed, em abril.

    A situação dos indivíduos vs. interesses americanos

    Nos Estados Unidos, a situação de Griner, especialmente, está sendo vista por uma lente humanitária. E para os entes queridos dos presos, quase qualquer passo para trazê-los para casa seria visto como um pequeno preço a pagar.

    Mas a Casa Branca e o Departamento de Estado também devem se proteger contra sinalizar a adversários dos EUA, como Rússia, Irã, China ou Coreia do Norte, ou grupos criminosos ou terroristas, de que Washington está aberta a negócios para devolver cidadãos presos. Isso deixaria todos os americanos profundamente vulneráveis quando viajassem para o exterior.

    A dor de cabeça de Biden sobre essas questões só está piorando. É politicamente problemático sempre que um presidente parece incapaz de ditar termos a homens fortes no exterior. E dados seus índices de aprovação ruins, Biden mal pode se dar ao luxo de lidar com o que é essencialmente uma crise de reféns estrangeiros, oferecendo uma abertura para seus inimigos políticos domésticos.

    A exposição política do presidente cresceu significativamente nos últimos dias depois que o grupo de Griner aumentou a pressão, inclusive com uma carta da própria estrela de Phoenix Mercury ao presidente, na qual ela escreveu que temia ficar na prisão na Rússia indefinidamente. Sua esposa, Cherelle, questionou em entrevista à CNN se o esforço para libertá-la correspondia à retórica dos EUA.

    Mais tarde, em um comício no Arizona realizado pela equipe de Griner e pelo deputado democrata Greg Stanton, os participantes expressaram preocupação com a situação dela.

    “Estou frustrada porque minha esposa não vai conseguir justiça”, disse Cherelle Griner.

    Em sua pressa para fazer as pazes com o campo de Griner, o governo pode ter conseguido principalmente aumentar a agitação política que estava tentando conter.

    Tanto Biden quanto a vice-presidente Kamala Harris falaram por telefone na quarta-feira com Cherelle Griner para assegurar que estão buscando todos os meios para libertar sua esposa. E o presidente compartilhou com ela uma resposta que havia escrito para o centro Phoenix Mercury. Mas sua atenção ao caso de Griner imediatamente causou atrito com a família de Whelan. A irmã do ex-fuzileiro naval disse à CNN que, embora eles não invejassem a família Griner, eles se perguntavam por que houve contato com algumas famílias e não com outras.

    “Fiquei surpresa esta manhã ao ouvir sobre essa ligação”, disse Elizabeth Whelan a Erica Hill, da CNN. “Isso me fez pensar se deveríamos estar pressionando por uma reunião com o presidente? O que eu realmente gostaria de ver é um processo em funcionamento que realmente não exigisse isso.”

    Whelan disse que seu irmão escreveu centenas de cartas, inclusive para Biden, para o ex-presidente Donald Trump e para membros do Congresso. Embora ela tenha dito que acredita que o governo dos EUA está fazendo tudo o que pode para trazer seu irmão para casa, seu alcance às famílias foi insuficiente.

    “Minha mensagem para a Casa Branca é que outras famílias com muito menos recursos estão esperando há anos e anos para ver alguma ação para trazer seus entes queridos para casa. O que precisamos ver é algo um pouco mais equilibrado”, disse ela.

    Griner e Whelan não são os únicos americanos presos no exterior. Uma coalizão de parentes envolvidos na campanha “Traga Nossas Famílias para Casa” também pediu ao presidente que se envolva mais pessoalmente em seus casos. O secretário de Estado, Antony Blinken, se reuniu com as famílias e assegurou-lhes que a administração estava fazendo tudo o que podia. Na terça-feira, o porta-voz do Departamento de Estado, Ned Price, falou sobre a extrema sensibilidade de muitos dos casos, enquanto disse que entendia o impulso das famílias de provocar o máximo de publicidade possível.

    “Nós não queremos fazer nada ou dizer nada que possa comprometer” os casos de americanos presos no exterior”, disse Price. “Tivemos conversas com as famílias sobre como elas também poderiam evitar fazer qualquer coisa que complicasse ainda mais a libertação de seus entes queridos”.

    O governo dos EUA também está lidando com casos de outros dois americanos, Alexander John-Robert Drueke e Andy Tai Ngoc Huynh, que estão detidos pela República Popular de Donetsk, pró-Rússia, depois de serem capturados lutando pela Ucrânia.

    Bunny Drueke, a mãe de um dos homens, disse a Erin Burnett da CNN na quarta-feira que estava satisfeita com a resposta do governo.

    “Não tive notícias do presidente Biden ou da Casa Branca, mas não esperava por isso; isso não é realmente responsabilidade deles”, disse ela, acrescentando que estava feliz com o papel de Blinken no assunto e ressaltando que seu filho e seu compatriota eram diferentes de Griner, pois eram prisioneiros de guerra.

    Além de Joe Biden, vice-presidente dos EUA, Kamala Harris, também conversou com Cherelle Griner, esposa da jogadora de basquete Brittney Griner / 10/08/2021 REUTERS/Evelyn Hockstein

    Manobra diplomática sensível

    A posição dos americanos que são detidos por inimigos dos Estados Unidos é especialmente difícil. Embora Washington possa querer isolar os casos de indivíduos de disputas geopolíticas complicadas, os governos adversários são compelidos a tentar usá-los para seus próprios fins.

    É por isso que prisioneiros como Griner têm tão poucas opções – presos em um país cujo líder mostrou poucos escrúpulos em usar civis inocentes como fichas.

    “Realmente o que aconteceu com Brittney Griner – ela foi sequestrada e está sendo mantida agora em troca de algo que Putin quer”, disse Steve Hall, ex-chefe de operações da CIA na Rússia, na semana passada.

    Hall ressaltou como as negociações dos EUA para a libertação de prisioneiros no exterior seriam vistas pelos inimigos do país. “Você vai incentivar mais disso, não apenas pela Rússia – a Coréia do Norte é um exemplo perfeito. Esses estados rebeldes, esses estados autoritários… sabem que tudo o que eles precisam fazer é prender um americano – seja um pessoa de negócios, um turista, um profissional, como Griner – e então eles podem negociar o que quiserem”, disse Hall, analista de segurança nacional da CNN.

    O preço que a Rússia pode exigir por leniência para uma figura tão importante agora pode estar subindo a cada dia. Moscou certamente gostaria de extrair Viktor Bout, um traficante de armas russo conhecido como o “Mercador da Morte”, da prisão americana.

    Mas Biden enfrentaria resistência significativa de líderes dentro da hierarquia da justiça criminal se ele oferecesse Bout em uma troca de prisioneiros. Seria, por um lado, igualar a integridade de uma acusação dos EUA – que viu Bout preso por 25 anos por conspiração para matar americanos, adquirir e exportar mísseis antiaéreos e fornecer apoio material a uma organização terrorista – com processos criminais russos. que Washington vê como uma farsa.

    Tais considerações judiciais e geopolíticas limitam os americanos cujos parentes estão presos em condições muitas vezes primitivas e insalubres a milhares de quilômetros de casa. Esses casos acabam nas mesas dos presidentes porque são intratáveis e muitas vezes envolvem trocas intragáveis entre considerações humanitárias e interesses nacionais.

    E cada escolha que um presidente faz vem com desvantagens consideráveis.

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