Biden admite erros, mas diz não se arrepender de retirar tropas do Afeganistão
'Eu sou o presidente dos Estados Unidos e essa guerra acaba comigo', afirmou Joe Biden no primeiro pronunciamento sobre a tomada do poder pelo Talibã
Em seu primeiro pronunciamento após combatentes do Talibã tomarem o poder da capital do Afeganistão no domingo (15), Joe Biden, presidente dos Estados Unidos, admitiu que o país cometeu erros, mas disse que não se arrepende de ter determinado a retirada de tropas americanas do país.
“Nossa missão no Afeganistão teve muitos erros nas últimas décadas. Eu sou o presidente dos EUA e essa guerra acaba comigo. Não me arrependo da minha decisão de acabar com essa guerra e manter foco na nossa missão de contraterrorismo”, afirmou Biden em um discurso televisionado nesta segunda-feira (16).
O presidente americano destacou que as tropas não poderiam permanecer no país se nem as forças oficiais afegãs lutaram contra o Talibã. “Os lideres desistiram e fugiram do país. As forças militares colapsaram, alguns tentaram lutar. Se o Afeganistão não consegue oferecer uma resistência ao Talibã, os militares americanos não conseguiriam fazer ali qualquer diferença”, afirmou.
Joe Biden também afirmou que teve conversas com o ex-presidente afegão, Ashraf Ghani, e com demais lideranças do país sobre “como o Afeganistão deveria estar pronto para enfrentar uma guerra civil após a saída dos americanos”.
“Nós falamos sobre a necessidade dos líderes se unirem politicamente, e também que deveríamos nos engajar na diplomacia para construir um acordo político com o Talibã. Esse conselho foi recusado”, disse Biden.
O presidente americano ainda afirmou que, durante 20 anos, os EUA gastaram mais de US$ 1 trilhão na guerra mais longeva travada pelo país, mas que, mesmo assim, “nunca houve uma época boa para retirar as forças do país”: “a verdade é que o Afeganistão caiu mais rápido do que imaginávamos”, afirmou.
Biden também comentou sobre assuntos envolvendo direitos humanos e direitos das mulheres e minorias, já que o grupo fundamentalista carrega consigo uma matriz religiosa forte acerca do papel das mulheres na sociedade.
Segundo ele, os direitos humanos devem ser “o centro da política externa, e não a periferia”. Por isso, o país deverá dar “status de refugiados para quem trabalha em embaixadas e organizações americanas no Afeganistão”, afirmou. “Nós vamos focar no que é possível. Continuaremos apoiando o povo afegão. Nossa diplomacia e ajuda humanitária continuará no país”, disse, sem dar mais detalhes sobre o que significaria tal apoio para a população do país.
Agora, o foco dos Estados Unidos será retirar trabalhadores americanos que ainda estão em área. Meses após a declaração inicial de que todos os 2.500 soldados dos EUA estariam fora do Afeganistão até o final do verão, um total de 6 mil soldados devem ajudar a facilitar a evacuação do país até o fim do ano. Ao comentar sobre essa debandada final, o presidente afirmou que, se o Talibã atacar as equipes americanas, a contrarresposta será “rápida e forte”.
“Defenderemos o nosso povo com uma força devastadora se necessário. Assim que cumprirmos essa missão, concluiremos a saída dos militares e a guerra mais longa dos EUA após 20 anos de um banho de sangue”, declarou. “Eu não vou repetir os erros do passado. O erro de ficar indefinitivamente em um conflito que não é do interesse dos EUA, ou de apostar na guerra civil de um país e manter as nossas forças nele”.
“Erro de cálculo”
Após os combatentes do Talibã tomarem Cabul no domingo, funcionários do alto escalão do governo dos EUA já admitem um “erro de cálculo” sobre quanto tempo demoraria para o Talibã tomar a capital.
A rápida queda das forças nacionais e do governo do Afeganistão foram um choque para Biden e para os altos membros de sua administração, que no mês passado acreditavam que poderia levar meses até que o governo civil em Cabul caísse – permitindo um período de tempo após a saída das tropas americanas antes que todas as consequências da retirada fossem expostas.
*Com informações de Kevin Liptak e Jason Hoffman, da CNN