Autoridades ucranianas criticam proposta de Lula para acabar com a guerra
Declarações foram feitas um dia após o presidente Luiz Inácio Lula da Silva sugerir que a Ucrânia poderia ceder a península da Crimeia à Rússia
Autoridades ucranianas manifestaram, nas redes sociais, que o país não não fará concessões territoriais, em especial, com relação à Crimeia, em troca da paz. As declarações foram feitas um dia após o presidente Luiz Inácio Lula da Silva sugerir que a Ucrânia poderia ceder a península à Rússia.
“O que Putin quer? Ele não pode ficar com o território da Ucrânia. Talvez nem se discuta a Crimeia, mas, o que ele invadiu de novidade, vai ter que repensar”, afirmou o presidente.
No Facebook, o porta-voz da diplomacia da Ucrânia, Oleg Nikolenko, afirmou que a Ucrânia agradece os esforços do presidente Lula para encontrar uma solução para o conflito. No entanto, ele complementou: “Não há nenhuma razão legal, política ou moral pela qual temos de ceder pelo menos um centímetro de terra ucraniana”.
Nikolenko comentou ainda que qualquer esforço de mediação para restabelecer a paz deve ser baseado no respeito pela soberania do país.
O diplomata ucraniano aposentado Olexander Scherba também utilizou as redes sociais para criticar Lula. No Twitter, ele questionou se o chefe do Executivo brasileiro aplicaria a declaração a si mesmo.
“Presidente do Brasil Lula da Silva: ‘Zelensky não pode querer tudo!’ Defina ‘tudo’, por favor! A soberania da Ucrânia sobre sua própria terra? Você aplicaria esse princípio a si mesmo?”
Na quinta-feira (6), em café com jornalistas, Lula defendeu o fim da guerra que, para ele, “não tem justificativa” para continuar.
“Não há nenhuma justificativa para essa guerra continuar. Quando uma guerra começa, a gente faz análise como se fosse uma coisa muito complicada, difícil e diferente do nosso dia a dia. Acho que essa guerra já passou da conta. O Brasil defende a integridade territorial de cada nação, portanto não concordamos com a invasão da Rússia à Ucrânia.”
Anexação da Crimeia
A Rússia anexou a península do Mar Negro em 2014, em uma ação denunciada pela Ucrânia e muitos aliados ocidentais por violar o direito internacional.
O presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky, prometeu retomar o território enquanto o país luta contra a invasão em grande escala da Rússia, lançada oito anos depois de tomar a península.
Os dois países não conversam sobre o fim dos combates há um ano. A sugestão de que a Crimeia poderia estar em negociação tem sido essencialmente um tabu para as autoridades ucranianas desde os primeiros dias da guerra.
*publicado por Pedro Zanatta, da CNN.