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    Atraso na vacinação e estímulo econômico fraco impedem recuperação da Europa

    Perspectiva de recuperação no curto prazo parece mais improvável do que o que havia sido previsto no ano passado, avalia o parlamento europeu

    A campanha de vacinação da União Europeia tem sido afetada por atrasos na fabricação, escassez de suprimentos e desafios de distribuição
    A campanha de vacinação da União Europeia tem sido afetada por atrasos na fabricação, escassez de suprimentos e desafios de distribuição Foto: Kai Pfaffenbach/Reuters

    Hanna Ziady, da CNN

    O Reino Unido está apostando em um rápido lançamento de vacinas para trazer sua economia de volta à vida ainda neste verão, enquanto os Estados Unidos depositam suas esperanças de recuperação em outro pacote de estímulo robusto. A Europa não receberá estímulo semelhante e pode ficar para trás.

    A campanha de vacinação da União Europeia tem sido afetada por atrasos na fabricação, escassez de suprimentos e desafios de distribuição, tornando difícil para os gestores públicos traçar caminhos claros para evitar os economicamente prejudiciais lockdowns. Enquanto as restrições estão diminuindo gradualmente em alguns países, outros estão caminhando para estender as restrições, já que os casos e as hospitalizações continuam persistentemente altos.

    Enquanto isso, gastos públicos relativamente limitados e uma forte dependência do turismo em algumas economias da União Europeia prometem prejudicar ainda mais a recuperação.

    “Teremos uma recuperação [na Europa], mas será mais tarde e um pouco mais fraca do que em outros lugares”, disse Carsten Brzeski, chefe global de pesquisa do ING. A economia da Europa provavelmente retornará ao nível anterior à crise apenas no início de 2023, de seis meses a um ano depois dos Estados Unidos, acrescentou.

    Atrasos na vacinação

    Após um forte crescimento no terceiro trimestre, a economia da Europa contraiu novamente nos últimos três meses do ano passado, depois que os governos impuseram bloqueios para responder aos picos de casos e mortes por coronavírus. Muitas dessas medidas permanecem em vigor, aumentando a probabilidade de outro trimestre difícil no início de 2021.

    “A perspectiva de recuperação a curto prazo parece mais improvável para a economia europeia do que o que havia sido previsto no outono passado, já que a pandemia aumentou seu controle sobre o continente”, disse o parlamento europeu em um relatório no mês passado em que cortou sua previsão de crescimento para a economia da UE neste ano de 4,1%, em novembro, para 3,7%.

    “A questão agora é com que rapidez a vacina pode ser lançada e em que ponto as restrições podem ser afrouxadas”, acrescentou.

    Os 27 países que compõem a União Europeia, assim como Islândia, Lichtenstein e a Noruega, administraram coletivamente cerca de 31 milhões de doses de vacina, atendendo cerca de 6% da população, de acordo com o Centro Europeu para Prevenção e Controle de Doenças.

    Em comparação, mais de 20 milhões de britânicos receberam a primeira dose em 27 de fevereiro, ou cerca de 30% da população do Reino Unido, mostram os números do governo. Nos Estados Unidos, 15% da população recebeu pelo menos uma dose, de acordo com os Centros de Controle e Prevenção de Doenças.

    “O lançamento de vacinas contra o coronavírus é a chave para a recuperação econômica em todas as principais economias”, disse Sam Miley, economista do Centre for Economics and Business Research, com sede em Londres.

    A União Europeia espera que as entregas aumentem no segundo trimestre e ainda aguarda ter pelo menos 70% de sua população adulta vacinada até o final do verão, o que pode ajudar a impulsionar uma forte recuperação no segundo semestre de 2021.

    Uma leitura inicial do Purchasing Managers Index (PMI), que rastreia a atividade na indústria e nos serviços, mostra que o sentimento empresarial nos 19 países que usam o euro subiu para seu nível mais alto no mês passado em quase três anos amparado pelo otimismo relacionado às vacinas.

    Mas o início instável do programa de vacinação pode ter um impacto duradouro, porque quanto mais as restrições forem mantidas, mais duradouro será o dano. Isso pode ser visto nos dados de empregos: o emprego em toda a zona do euro caiu pelo décimo segundo mês consecutivo em fevereiro, de acordo com o IHS Markit.

    Há também o risco de que a crise deixe “cicatrizes mais profundas no tecido econômico e social da União Europeia, principalmente por conta de falências generalizadas e perda de empregos”, disse a Comissão Europeia. “Isso também prejudicaria o setor financeiro, aumentaria o desemprego de longo prazo e pioraria as desigualdades.”

    Turismo segue prejudicado

    Embora um possível aumento no ritmo de vacinação e um clima mais quente provavelmente abram o caminho para menos restrições domésticas até o verão, as preocupações com novas variantes podem levar os governos a manter algumas restrições a viagens internacionais por mais tempo.

    Isso representará um duro golpe para os países do sul da Europa que dependem do turismo, como Espanha, Portugal, Itália e Grécia, cujas economias já foram devastadas por restrições de viagens.

    “Considerando que, há dois meses, parecia um otimismo cauteloso que a Espanha pudesse ter uma temporada de turismo de verão semiformal, não acho que isso esteja próximo de acontecer”, disse David Oxley, economista sênior para Europa da Capital Economics. “Um segundo verão perdido para a Espanha seria muito prejudicial”, disse ele à CNN.

    Também corre o risco de aprofundar as divisões econômicas, sociais e fiscais entre esses países e os Estados mais ricos do norte da Europa, o que freqüentemente é a causa de tensão dentro do bloco.

    “Caso o turismo experimente outro ano perdido, os danos às [economias de Portugal, Espanha, Itália e Grécia] aumentariam a diferença do PIB dessas nações em relação aos dos principais países da zona do euro”, escreveu Maddalena Martini, economista da Oxford Economics, na última semana.

    “Não esperamos uma recuperação total das exportações de serviços, incluindo turismo, aos níveis anteriores à crise até pelo menos o início de 2023”, acrescentou Martini.

    Estímulo insuficiente

    Quando a pandemia explodiu na Europa em março passado, o Banco Central Europeu e os governos nacionais receberam aplausos por agir rapidamente para apoiar os mercados financeiros e sustentar suas economias.

    Trilhões de dólares em compras de títulos e garantias de empréstimos amorteceram o golpe para empresas e trabalhadores, evitando que o desemprego atingisse os níveis observados nos Estados Unidos.

    Mas, devido ao tamanho da contração, as medidas de estímulo desde então não foram grandes o suficiente para iniciar uma recuperação rápida. Em vez disso, os economistas dizem que apenas fizeram o suficiente para evitar que a economia caísse em um abismo.

    Os gastos adicionais, além dos empréstimos e garantias, variam de 4% do PIB na Espanha a 11% na Alemanha, a maior economia da Europa, de acordo com o Fundo Monetário Internacional. Em contraste, o estímulo fiscal no Reino Unido chega a mais de 16% da economia e nos Estados Unidos está perto de 17% do PIB, número que aumentaria para 25% se o pacote de estímulo de US$ 1,9 trilhão de Biden for aprovado.

    Embora o lançamento do pacote de alívio histórico da União Europeia de 800 bilhões de euros (US$ 961 bilhões) no segundo semestre deste ano, que não está incluído nos números do FMI, possa dar um impulso muito bem-vindo ao bloco, é improvável que seja suficiente para virar o jogo, de acordo com Brzeski, do ING. Esses fundos serão liberados ao longo de vários anos e não farão uma grande diferença para os países mais atingidos, acrescentou.

    “O patamar do apoio fiscal na zona do euro simplesmente não está na mesma linha que o dos EUA”, escreveu o economista-chefe da Capital Economics, Neil Shearing, esta semana.

    Também existe o risco de que a União Europeia aperte as regras fiscais muito rapidamente, o que enfraqueceria o aumento de receitas, medida essa que enfrenta oposição da presidente do Banco Central Europeu, Christine Lagarde.

    “Eu vejo isso em fases”, disse Brzeski. “O risco de curto prazo [para a Europa] é a demora da vacina, o risco de longo prazo é a política fiscal.”

    (Texto traduzido, clique aqui e leia o original em inglês)