Ataque do Irã gera disputa com Iraque e aumenta instabilidade regional
Ataque fez com que Bagdá retirasse o embaixador iraquiano de Teerã
Um ataque de míssil iraniano contra alvos no norte do Iraque desencadeou uma disputa incomum entre os aliados vizinhos nesta terça-feira (16), com Bagdá retirando seu embaixador em protesto e Teerã insistindo que o ataque tinha a intenção de deter as ameaças de espiões israelenses.
A Guarda Revolucionária do Irã atingiu o que classificou de “um centro de espionagem israelense na região semiautônoma do Curdistão iraquiano”, informou a mídia iraniana na noite de segunda-feira (15), enquanto a força de elite disse que também realizou ataques na Síria contra o Estado Islâmico.
O ataque parece ter aprofundado as preocupações com o agravamento da instabilidade no Oriente Médio desde o início da guerra entre Israel e o Hamas, em 7 de outubro, com os aliados do Irã também atuando no conflito no Líbano, na Síria, no Iraque e no Iêmen.
Também existe a preocupação de que o Iraque possa se tornar novamente um palco de conflitos regionais após uma série de ataques dos EUA a grupos militantes ligados ao Irã que também fazem parte das forças de segurança formais do Iraque. Esses ataques foram uma resposta a dezenas de ataques contra as forças dos EUA na região, realizados desde 7 de outubro.
A Guarda disse que o ataque no final da segunda-feira, o primeiro ataque militar direto do Irã na região, ligado à guerra de Gaza, foi uma resposta às “atrocidades” israelenses contra vários de seus comandantes e forças aliadas do Irã no Oriente Médio desde o início do conflito.
O primeiro-ministro iraquiano, Mohammed Shia al-Sudani, disse que o ataque foi uma “clara agressão” contra o Iraque e um desenvolvimento perigoso que prejudicou o forte relacionamento entre Teerã e Bagdá, informou a mídia estatal.
Ele disse que o Iraque se reservava o direito de tomar todas as medidas legais e diplomáticas que lhe são concedidas por sua soberania.
Em protesto, o Iraque retirou seu embaixador em Teerã e convocou o encarregado de negócios do Irã em Bagdá.
O ataque, em uma área residencial próxima ao consulado dos EUA em Erbil, capital do Curdistão, foi descrito pelo primeiro-ministro curdo iraquiano, Masrour Barzani, como um “crime contra o povo curdo”, no qual pelo menos quatro civis foram mortos e seis ficaram feridos.
O multimilionário empresário curdo Peshraw Dizayee e vários membros da família estavam entre os mortos. Eles morreram quando pelo menos um atingiu a residência onde moravam, segundo fontes médicas e de segurança iraquianas.
O assessor de segurança nacional do Iraque, Qasim al-Araji, negou que a casa fosse um centro de espionagem israelense.
“Para responder à alegação de que há um quartel-general do Mossad (serviço secreto de Israel), visitamos o local e percorremos todos os cantos da casa, e tudo indica que se trata de uma casa de família pertencente a um empresário iraquiano de Erbil”, disse ele aos repórteres.
“SEM NOÇÃO”
O porta-voz do governo israelense, Avi Hayman, disse que não iria especular, quando perguntado em uma coletiva de imprensa sobre a afirmação do Irã de que havia atingido um local do Mossad.
“O que vou dizer é que o Irã continua a usar seus representantes para atacar Israel em várias frentes. Condenamos as atividades do Irã e convocamos a comunidade internacional a desafiar o Irã e clamar pela paz na região”, disse ele.
Defendendo o ataque, o porta-voz do Ministério das Relações Exteriores do Irã, Nasser Kanaani, disse que Teerã respeita a soberania e a integridade territorial de outros países, mas que é “direito legítimo do Irã deter ameaças à segurança nacional”.
Além do ataque em Erbil, a Guarda disse que disparou mísseis balísticos na Síria e destruiu “autores de operações terroristas” no Irã, incluindo o Estado Islâmico.
O Estado Islâmico reivindicou a responsabilidade por duas explosões no Irã neste mês, que mataram cerca de 100 pessoas e feriram outras tantas em um memorial para o comandante Qassem Soleimani.
A França acusou o Irã de violar a soberania do Iraque e Washington condenou os ataques como “imprudentes”. As autoridades norte-americanas disseram que nenhuma instalação dos EUA foi atingida e que não houve vítimas norte-americanas.
O Irã, que apoia o Hamas em sua guerra contra Israel, acusa os EUA de apoiar o que chama de crimes israelenses em Gaza. Os EUA disseram que apoiam Israel em sua campanha, mas levantaram preocupações sobre o número de civis palestinos mortos.
No passado, o Irã realizou ataques na região do Curdistão iraquiano, afirmando que a área é usada como ponto de parada para grupos separatistas iranianos, bem como para agentes de Israel.
Bagdá tentou lidar com as preocupações iranianas sobre os grupos separatistas na região, movendo-se para realocar alguns membros como parte de um acordo de segurança alcançado com Teerã em 2023.