Artista chinês Ai Weiwei diz que protestos não vão abalar o governo
O artista dissidente da China, que hoje mora em Portugal, disse que o governo de Xi Jinping deve silenciar os protestos contra a política de Covid do país através do uso da força policial
De sua casa em Portugal, Ai Weiwei, o famoso dissidente chinês cuja arte sempre criticou as políticas do governo de Pequim, disse que a recente onda de protestos contra as restrições para conter a Covid-19 não deverá abalar o governo de Xi Jinping, porque a polícia simplesmente vai reprimi-los em silêncio.
Os manifestantes tomaram as ruas de Xangai, Pequim e outras cidades chinesas nos últimos dias para protestar contra as medidas para conter a Covid-19 e as restrições à liberdade, uma demonstração de desobediência civil sem precedentes desde que o líder Xi assumiu o poder.
Quase três anos após a pandemia, a China diz que suas políticas não são voltadas para ter zero casos da doença o tempo todo, mas para agir “dinamicamente” quando os casos surgem.
Sentado em seu jardim, Ai disse que os manifestantes provavelmente não continuariam – não apenas porque as forças de segurança reprimiriam aqueles que se manifestavam, mas também porque os próprios manifestantes careciam de organização e liderança.
“Não há uma agenda política clara, então é muito fácil simplesmente prendê-los e seguir em frente”, disse Ai à Reuters na segunda-feira (28), acrescentando que houve mais “exigências” em 1989, quando houve uma sangrenta repressão a manifestantes pró-democracia na Praça da Paz Celestial e nos arredores de Pequim.
“Mesmo que algo aconteça na escala de Hong Kong ou na escala de 1989, ainda não vai abalar o governo”, acrescentou.
Questionado sobre quem poderia liderar o movimento de protesto, Ai, que passou 81 dias detido na China em 2011, disse que ninguém poderia porque o país não tem um “ambiente político”.
“Por 70 anos, eles eliminaram qualquer pessoa, intelectual ou mídia que pudesse levantar qualquer questão.”
Embora Ai tenha dito que os protestos provavelmente não terão impacto no governo, ele disse que o Partido Comunista, que governa a China, está “muito preocupado com revoluções” e fará “tudo para evitar que isso aconteça”, desde a censura na internet até o uso da força policial.