Argentina sobe tom contra Venezuela por represália aérea: “De burro, espera-se coice”
Troca de acusações se deve à proibição venezuelana de que aeronaves argentinas sobrevoem seu território
O porta-voz da presidência argentina, Manuel Adorni, respondeu nesta quarta (13), a uma postagem do chanceler venezuelano, Yván Gil, que qualificou o governo de Javier Milei de “neonazista”, após a Casa Rosada chamar integrantes do governo de Nicolás Maduro “amigos do terrorismo”.
“Primeiro respondo à questão de [sermos chamados de] neonazistas. O que se pode esperar de um burro além de um coice? A única coisa que se pode esperar de um governo de ditadores são questões que não merecem nem resposta”, disse, quando questionado pela CNN em coletiva de imprensa na Casa Rosada, sede da presidência argentina, sobre as palavras do chanceler venezuelano.
Adorni, que foi chamado por Gil de “cara de pau”, disse ainda que o governo argentino “se entristece pelo povo venezuelano” ser governado por “energúmenos”.
A tensão entre os países cresceu depois que a Venezuela proibiu que voos argentinos sobrevoassem seu espaço aéreo. O governo argentino protestou, em nota enviada na última sexta (8), ao Convênio sobre Aviación Civil Internacional, e afirmou que tomará “as medidas diplomáticas correspondentes”.
Nesta terça-feira (12), Yván Gil escreveu que o “governo neonazista da Argentina não somente é submisso e obediente com seu amo imperial, mas tem um porta-voz cara de pau. O Sr. Manuel Adorni parece não saber das consequências dos seus atos de pirataria e de roubo contra a Venezuela, que foram advertidas em reiteradas ocasiões antes do ato criminoso cometido contra a Emtrasur”.
O chanceler venezuelano se refere à apreensão e envio de um avião de carga da empresa estatal venezuelana Emtrasur para os Estados Unidos, em fevereiro, após quase dois anos retida no Aeroporto Internacional Ministro Pistarini, em Ezeiza, na Grande Buenos Aires. Na ocasião, Caracas acusou a Argentina e os EUA de promoverem um “roubo descarado” do Boeing 747.
Como resposta, a Venezuela proibiu que aeronaves de bandeira argentina sobrevoem seu espaço aéreo. Na resposta à CNN, Adorni afirmou que a medida representa “um custo econômico muito elevado para os voos para os quais é mais eficiente atravessar o espaço aéreo da Venezuela, em vez de contorná-lo, são milhares de dólares por voo, então prejudica um monte de passageiros para os quais serão mais caras suas viagens”.
“A Venezuela exerce plena soberania do seu espaço aéreo e reitera que nenhuma aeronave que provenha ou se dirija à Argentina poder[a sobrevoar nosso território até que nossa empresa seja devidamente compensada pelos danos ocasionados, depois das ações ilegais realizadas, somente com o fim de satisfazer seus tutores do norte”, escreveu o chanceler venezuelano, referindo-se à aeronave venezuelana e ao alinhamento do governo Milei com os Estados Unidos.
Segundo os EUA, a aeronave pertencia previamente à empresa iraniana Mahan Air, companhia aérea alvo de sanções pelos Estados Unidos, e estaria vinculada à Força Quds da Guarda Revolucionária Iraniana, que o Departamento de Justiça norte-americano qualifica como “organização terrorista”.
A Argentina aceitou conceder para o país a custódia da aeronave, que foi levada para os EUA. Nesta terça, Adorni disse que “a Argentina não vai se deixar extorquir pelos amigos do terrorismo.
O Boeing 747 da Emtrasur, filial da estatal venezuelana de aviação Conviasa, pousou no Aeroporto de Ezeiza em junho de 2022. Desde então, ficou retida no país por investigações judiciais na Argentina e a pedido do judiciário dos EUA. O voo trazia peças de automóveis ao país e teve dificuldades para abastecer, já que empresas de combustíveis temiam a aplicação de sanções dos EUA.
Após ter aterrissagem negada no Uruguai, que recebeu informações de inteligência do Paraguai sobre o voo, o avião retornou para Ezeiza. A negativa do país vizinho chamou atenção das autoridades, que fizeram inspeções no avião, em busca de explosivos e drogas, e chegaram a reter a tripulação, formada por venezuelanos e iranianos, no país. Todos acabaram liberados.