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    Argentina: Crise política e alta na pobreza

    Inflação dispara e atual presidente, Alberto Fernández, perde popularidade

    Marcelo Favallida CNN , em São Paulo

    Faltando um ano e meio para terminar o mandato, o presidente da Argentina, Alberto Fernández, tem uma lista extensa de problemas que precisa resolver para tentar acabar com uma crise política e econômica, que paralisa o país.

    O que os argentinos têm visto é um desmonte no governo. O último – até o momento – a abrir mão de um cargo foi o secretário de comércio, Roberto Feletti.

    Ele é mais um aliado da vice-presidente Cristina Kirchner a renunciar. Em setembro, do ano passado, sete ministros entregaram a carta de demissão.

    O atual presidente enfrenta dois grandes obstáculos na política. A forte oposição, que apoiava o ex-presidente Mauricio Macri, de direita, e um racha dentro do peronismo – partido do qual Fernández faz parte. A ala fiel à vice-presidente Cristina Kirchner o abandonou.

    “As disputas políticas tem sido prejudiciais para a população na medida em que não se avança no debate e na implementação de políticas que possam trazer crescimento e desenvolvimento social e econômico para a população”, afirmou a cientista política Denilde Holzhacker.

    Fernandez, um político de esquerda, era chefe de gabinete de Cristina Kirchner, herdeira política do marido Néstor Kirchner, presidente da Argentina de 2003 a 2007.

    Vice-presidente da Argentina, Cristina Kirchner / Natacha Pisarenko/Pool via Reuters (01.mar.2021)

    A candidatura de Fernández, com Cristina como vice, foi uma união de forças para derrotar Mauricio Macri, que buscava a reeleição. A dupla venceu, mas a parceria não durou muito tempo, com divergências entre os dois.

    Agora, o choque se agrava à medida que o peronismo perde força no Congresso.

    Sem apoio, o presidente argentino não consegue avançar em medidas sociais e despenca em popularidade, com 72% de rejeição.

    Crise econômica

    A crise política se reflete em uma dívida externa que só cresce, em uma inflação descontrolada e um desemprego em alta. Hoje, quase 40% dos argentinos estão em situação de pobreza.

    Para o economista Sergio Vale, “o grande problema… A grande dificuldade é que eles não conseguiram achar o jeito de consertar e justamente o que fazer com essa inflação nesse patamar. Precisaria haver algum choque… alguma âncora fiscal especialmente colocada para conseguir trazer essa expectativa de inflação para baixo. Mas precisa haver força política para isso acontecer”.

    O governo atual repete uma antiga fórmula para tentar frear a escalada dos preços: aumentar a taxa básica de juros, que, hoje, na Argentina, chega a 49% ao ano – uma das maiores do mundo.

    Trata-se de um ciclo vicioso.

    Medidas do governo federal para segurar a inflação impactam na produção industrial, que gera desemprego e faz a renda média da população cair.

    O efeito prático se vê no tamanho da dívida das famílias: 73% dos lares argentinos estão com as contas no vermelho.

    É o caso da família Garcia. Javier e Daniela tiraram os quatro filhos da escola particular para poder economizar depois que ele perdeu o emprego.

    “Chegou o momento em que tivemos que tirá-los porque começou a ficar caro demais”, explicou Daniela Rolon, que é professora.

    O governo de Fernández está agora considerando um velho e ineficiente remédio: o congelamento de preços.

    Forçar o não reajuste de alguns produtos – como os da cesta básica – dá um certo alívio momentâneo… E, de fato, ajuda os mais pobres, mas uma hora o benefício acaba, e aí os preços sobem muito e de uma só vez só.

    “Em algum momento os argentinos terão de passar por algum choque… Uma terapia de choque, como a gente já viu acontecer tantas vezes, na América Latina, porque a inflação na casa dos 60%, como está agora, não consegue se resolver apenas com política monetária e fiscal tradicionais. A gente vai precisar ter algum tipo de acordo político maior para que fazer acontecer essa terapia de choque, por lá”, afirmou Vale.

    O clima de instabilidade fiscal se confunde com a história da Argentina.

    Prova disso são os 21 acordos que o país já fez com o FMI, o Fundo Monetário Internacional, desde 1950, para conseguir recursos e quitar dívidas internas.

    O último empréstimo foi em 2018, no valor de 57 bilhões de dólares, quando o país devia ao FMI outros 44 bilhões.

    Ao assumir o governo, em dezembro de 2019, o presidente Alberto Fernández suspendeu os pagamentos, que foram retomados este ano.

    “Tu não dás as condições para o investimento estrangeiro, porque a Argentina vem já existindo com um “risco país” de mais de mil pontos, salvo pelos dois primeiros anos do governo Macri. Nos últimos dez (anos) ela não pagou a dívida porque havia problemas com a renegociação. Então qualquer investimento estrangeiro na Argentina, tu tens de pedir muito mais, porque tu pedes no Brasil, pede no Peru ou no Chile, ou mesmo no Uruguai”, analisou Gustavo Pérego, especialista em finanças.

    “Se você me perguntar como definir o argentino, hoje, eu a definiria como corajoso. Tem de ser corajoso para sair para trabalhar, para sair e fazer compras”, lamentou Daniela.

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