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    Após voo interceptado e prisão, ativista se casa com militante pró-ditadura, vira pró-Belarus e é perdoado

    Acusado de 1.586 crimes e condenado a oito anos de prisão, o jornalista Roman Protasevich é agora um homem livre após ser indultado pelo regime de Alexander Lukashenko

    Blogueiro e ativista Roman Protasevich.
    Blogueiro e ativista Roman Protasevich. Foto: Reuters

    Lourival Sant'Annada CNN

    Dois anos atrás, o ditador de Belarus, Alexander Lukashenko, mandou sequestrar o avião em que estava o jornalista e ativista Roman Protasevich e prendê-lo.

    Acusado de 1.586 crimes e condenado a oito anos de prisão, Protasevich é agora um homem livre: foi indultado pelo regime.

    Entre um acontecimento e outro, sua vida sofreu outras reviravoltas. Ele terminou com a namorada, presa junto com ele, casou-se com uma militante pró-ditadura e passou a defender o regime.

    Ex-colegas de Protasevich o acusam de ter se tornado um colaborador da KGB e o responsabilizam pela prisão de dezenas de ativistas. Há cerca de 80 presos políticos em Belarus.

    Protasevich e Sofia Sapega, que é russa, estavam voando, em maio de 2021, de Atenas (Grécia) para Vilna (Lituânia), quando seu avião foi interceptado por dois caças MiG-29 da força aérea bielorrussa.

    Os militares bielorrussos comunicaram aos pilotos da Ryanair que havia uma suspeita de bomba no avião e que ele tinha que pousar em Minsk, a capital de Belarus.

    Protasevich e Sapega foram retirados do avião e presos. Nenhuma bomba foi encontrada e os outros cem passageiros seguiram para seu destino.

    Os dois jornalistas, então críticos do regime, foram levados para uma prisão da KGB, o serviço secreto bielorrusso remanescente da antiga União Soviética, em Minsk.

    A ação causou enorme repercussão por causa do método empregado, o precedente criado e a ameaça que ele representa para a aviação comercial. Por causa dessa ação específica, a União Europeia adotou sanções contra Lukashenko, considerado o ditador mais longevo do continente, no poder desde 1994.

    Em junho de 2021, no mês seguinte ao da prisão, Protasevich deu uma surpreendente entrevista coletiva, na qual lamentou ter prejudicado Belarus e garantiu que queria corrigir seus erros.

    O jornalista e ativista afirmou que estava se sentindo bem e que não tinha sido torturado.

    Na mesma época, ele e Sapega se separaram. A partir daí, ainda preso, ele apareceu várias vezes na TV estatal bielorrussa, elogiando o regime e criticando os oposicionistas, incluindo sua ex-namorada, que também continuou presa e não demonstrou ter mudado suas posições políticas.

    Em maio de 2022, Sapega foi condenada a seis anos de prisão e enviada para uma colônia penal. Sua família pede sua extradição para a Rússia, onde acredita que ela seria mais bem tratada.

    No dia 3, finalmente saiu a sentença de Protasevich: oito anos de prisão, sob a acusação de conspirar para tomar o poder por meios inconstitucionais, criar e liderar uma comunidade extremista, incitar o ódio e organizar movimentos de massa para perturbar a ordem.

    Protasevich era editor-chefe do canal Nexta no Telegram, que publica vídeos e informações sobre protestos e outras notícias censuradas pelo regime. A redação funciona na Polônia.

    Dois outros jornalistas do Nexta, Stepan Poutilo e Ian Roudik, foram condenados no mesmo dia, uma data simbólica: 3 de maio é o Dia Internacional da Imprensa.

    Protasevich e Sapega cobriram as manifestações iniciadas em meados de 2020 para protestar contra as evidências de mais uma eleição fraudulenta de Lukashenko.

    O ditador bielorrusso disse que os protestos eram orquestrados pelo Ocidente, que, segundo ele, tinha intenção de invadir o país.

    Ele foi, em setembro de 2020, a Moscou pedir ajuda a Vladimir Putin, que enviou tropas russas para ajudá-lo a reprimir os protestos.

    Até então, Lukashenko resistia a pressões de Putin para a formação de uma confederação entre os dois países, que, na prática, significaria o domínio da Belarus pela Rússia, como no tempo da União Soviética.

    Ao pedir ajuda, Lukashenko se rendeu a Putin e abriu caminho para a Rússia usar o território da Belarus na invasão da Ucrânia, um ano e meio depois.